Uso de cigarro eletrônico entre jovens médicos brasileiros é o triplo da população geral

Grande parcela desconhece perigos do vape; prática ameaça anos de combate ao tabagismo no país

(Foto: Pixabay)


✅ Receba as notícias do Brasil 247 e da TV 247 no canal do Brasil 247 e na comunidade 247 no WhatsApp.

Por Gabriela Cupani, da Agência Einstein - O consumo de cigarros eletrônicos é cerca de três vezes maior entre jovens médicos e estudantes de medicina brasileiros do que o estimado na população geral de adultos jovens. Além disso, uma grande parcela deles não conhece os riscos. Pior: metade sequer sabe que são proibidos no Brasil. 

Este é o resultado de uma megapesquisa que avaliou dados de 7.528 alunos e residentes no Brasil, nos Estados Unidos e na Índia - os três países com maior número de faculdades de Medicina no mundo. O trabalho, conduzido pelo Hospital Israelita Albert Einstein em parceria com várias universidades no Brasil e no exterior, acaba de ser apresentado no congresso internacional da “European Respiratory Society”, em Barcelona.

continua após o anúncio

Dos três, o Brasil apresenta os piores índices: cerca de 20% dos estudantes e recém-formados são usuários frequentes – contra 7% do estimado entre jovens adultos brasileiros. Nos Estados Unidos, a pesquisa apontou uma taxa de 10% de usuários e, na Índia, esse número não chega a 1%. A enorme maioria dos pesquisados - quase 70% - inala nicotina e metade usa o fumo com sabor. Mais de 20% usam cigarros eletrônicos contendo derivados de cannabis.

Nada inofensivo

continua após o anúncio

Mais de um terço desse grupo, cerca de 36%, acha que os riscos do vape são mais baixos que os do cigarro comum e muitos desconhecem os prejuízos do fumo passivo dos eletrônicos.

“O cigarro eletrônico não é nada inofensivo”, enfatiza a pneumologista Luiza Helena Degani Costa, do Hospital Israelita Albert Einstein, uma das líderes do trabalho. 

continua após o anúncio

“Já existem vários estudos que indicam que eles causam as mesmas doenças que o comum, como asma e doença pulmonar obstrutiva crônica (enfisema pulmonar). Mesmo para usuários passivos, há aumento do risco de desenvolver asma. O uso dos cigarros eletrônicos também aumenta o risco de lesão aguda no pulmão e danos cardiovasculares no longo prazo. E, agora, estamos constatando maior chance de tumores também”, explica Luiza.

A pneumologista afirma, ainda, que os resultados “surpreendem”, já que “teoricamente esse público tem mais acesso a informações, portanto deveria conhecer os riscos e evitar o uso”. 

continua após o anúncio

No entanto, a pesquisa justamente mostrou que eles se informam mais pelas redes sociais e amigos do que em artigos científicos. E menos da metade assistiu palestras na universidade sobre o tema. 

“Temos a responsabilidade de tratar do assunto nas faculdades, já que que estes jovens e futuros médicos serão os responsáveis pelo cuidado da população e pela elaboração de políticas públicas. Mas também temos que discutir o tema precocemente nas escolas, pois muitos alunos começam a usar estes dispositivos antes mesmo de entrar na faculdade”. Segundo os resultados, no caso do vape, a iniciação ocorre em média por volta dos 20 anos.

continua após o anúncio

Referência mundial x risco de retrocesso

O Brasil é considerado um modelo mundial no combate ao tabagismo. Foi o único país que seguiu todas as recomendações da Organização Mundial da Saúde (OMS), incluindo educação, proibição do consumo e taxação. Graças a essas medidas, a taxa de fumantes brasileiros despencou cerca de 70% nas últimas três décadas e é praticamente a metade da americana, que só caiu 30% no mesmo período. Por aqui, apenas 11% dos homens e 7% mulheres fumam.

continua após o anúncio

“Infelizmente, com a emergência dos cigarros eletrônicos, estamos vendo toda a história se repetir, com os argumentos de que eles não causam tanto dano. Ao normalizar o consumo, corremos o risco de um enorme retrocesso e de colocar todo esse trabalho a perder”, lamenta a médica.

Assine o 247, apoie por Pix, inscreva-se na TV 247, no canal Cortes 247 e assista:

continua após o anúncio

iBest: 247 é o melhor canal de política do Brasil no voto popular

Assine o 247, apoie por Pix, inscreva-se na TV 247, no canal Cortes 247 e assista:

Comentários

Os comentários aqui postados expressam a opinião dos seus autores, responsáveis por seu teor, e não do 247

continua após o anúncio

Ao vivo na TV 247

Cortes 247