Má alimentação e inatividade física são responsáveis por 90% dos casos de pressão alta em crianças

Estudo publicado no final de julho recomenda mudanças de hábitos para que as famílias fiquem saudáveis juntas

(Foto: Reprodução)


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Por Fernanda Bassette, da Agência Einstein - A falta de atividade física, a alta adesão a dietas ricas em sal e açúcar e o excesso de peso estão relacionados à pressão alta em 9 de 10 casos observados em crianças e adolescentes, de acordo com estudo publicado por especialistas da Sociedade Europeia de Cardiologia, no European Heart Journal.

O documento, divulgado no final de julho, apresenta dados de crianças e jovens entre 6 e 16 anos e recomenda mudanças de hábitos para que as famílias fiquem saudáveis juntas. Segundo os autores, os pais são agentes importantes e fundamentais para que essa mudança ocorra.

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A identificação da hipertensão arterial em jovens é complexa e envolve parâmetros e padrões que divergem de acordo com o médico. Por conta disso, especialistas em cardiologia fizeram uma revisão da literatura e das evidências atuais para compilar e tentar se aproximar de um consenso. 

"Existiam diretrizes de diversas sociedades médicas, mas esse assunto nunca tinha sido muito normatizado. Então, eram entendimentos diferentes. Esse documento vai facilitar o diagnóstico e o tratamento de crianças e adolescentes de forma mais padronizada", explica Gustavo Foronda, cardiologista pediátrico do Hospital Israelita Albert Einstein.

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Antigamente, segundo o especialista, os fatores de risco cardiovascular na infância não eram muito valorizados pelos profissionais de saúde. Dessa forma, a pessoa só começaria algum tratamento na idade adulta, provavelmente, e quando alguma comorbidade já estivesse instalada. 

"Esse conceito foi mudando totalmente com o passar dos anos. A gente sabe que toda e qualquer doença cardíaca no adulto começa na faixa etária pediátrica: hipercolesterolemia, hipertensão, obesidade. Tudo isso leva a um risco cardiovascular maior no adulto se você não tratar na infância", alerta Foronda.

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Estima-se que 2% das crianças com peso normal sejam hipertensas, contra 5% das crianças com sobrepeso e, entre as com obesidade, o índice chega a 15%. O consenso se refere à hipertensão e a obesidade infantil como "irmãos traiçoeiros" que gradualmente se tornam um sério risco à saúde. 

Além disso, o artigo também afirma que a hipertensão e a obesidade no público infantil estão se tornando cada vez mais comuns (especialmente a obesidade abdominal, a mais perigosa para a saúde do coração).

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"Hoje, qualquer criança ou adolescente vai na cantina da escola e compra o que quer. Isso obviamente permite que eles escolham uma alimentação mais palatável, que é o fast food. Nitidamente temos uma piora alimentar muito grande nos últimos anos e, por isso, os níveis de obesidade estão explodindo. Consequentemente os níveis de pressão arterial também", alerta o cardiologista.

Diagnóstico precoce

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De acordo com os especialistas, o diagnóstico precoce da hipertensão infantil é fundamental para que ela possa ser controlada apenas com mudança no estilo de vida, sem a necessidade do uso de medicamentos. Por se tratar de um problema assintomático e silencioso, é recomendado que a pressão arterial da criança seja avaliada ao menos uma vez por ano na consulta com o pediatra.

Os níveis pressóricos ideais não são como nos adultos – existem níveis estabelecidos para cada faixa etária, de acordo com a superfície corpórea e com a circunferência do braço da criança. Para chegar ao valor correto, é preciso medir de forma adequada (não adianta ir medir na farmácia da esquina de casa, por exemplo).

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"Existe uma tabela para determinar os níveis pressóricos adequados para cada momento da vida. Idealmente, o clínico ou o pediatra devem medir a pressão da criança nas consultas de rotina. A gente sabe que isso não é uma prática regular, mas cada vez mais eles estão se conscientizando dessa necessidade", diz Foronda. 

Segundo o cardiologista, a Academia Americana de Pediatria preconiza que essas medidas comecem a ser avaliadas em todas as crianças a partir dos 3 anos de idade.

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Mudança no estilo de vida

Se houver uma suspeita de que o estilo de vida é o grande causador da hipertensão, a primeira orientação é mudar os hábitos de vida e isso envolve não apenas a criança, mas o estilo de toda a família. Isso porque muitas vezes a pressão alta e a obesidade coexistem no mesmo núcleo familiar.

"Não adianta a gente querer mudar os hábitos de uma criança isoladamente. Em geral, quando você tem uma criança sedentária, obesa ou hipertensa, normalmente isso é um reflexo da família. Se não tratar a família como um todo, a chance de a criança aderir às mudanças é muito baixa", diz Foronda.

As recomendações dietéticas incluídas no estudo publicado pela Sociedade Europeia de Cardiologia incluem: enfatizar uma alimentação rica em vegetais frescos, frutas e alimentos ricos em fibra; limitar a ingestão de sal; e evitar o consumo de açúcar, bebidas açucaradas e gordura saturada. 

Além disso, os cientistas destacam a importância da realização de ao menos uma hora de atividade física moderada a intensa por dia (como andar de bicicleta, fazer natação ou correr) e não passar mais de duras horas em atividades sedentárias (como assistir TV, jogar videogame ou ficar no tablete e celular).

O documento também orienta que devem ser estabelecidas metas realísticas para a perda de peso, dieta e atividade física – sempre concentrando os esforços nos aspectos que precisam de mais melhorias. O consenso dos médicos sugere, ainda, que os avanços na evolução da perda de peso, da melhora dos hábitos alimentares e da realização de atividades físicas sejam registrados para o acompanhamento do progresso.

"A grande dificuldade de tratar a hipertensão na infância é que precisamos tratar em conjunto a obesidade e o sobrepeso. A hipertensão é uma doença silenciosa que não causa nenhum malefício aparente. É preciso mudar o estilo de vida de toda uma família para o tratamento. Isso leva tempo e muitas vezes não temos uma resposta rápida", finalizou.

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