Gestação com doação de óvulo ou esperma não afeta bem-estar emocional da criança

Falta de vínculo biológico não interfere no desenvolvimento nem no relacionamento com a família, sugere pesquisa; pais, no entanto, devem evitar ter segredos com os filhos

(Foto: Reprodução)


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Por Gabriela Cupani, da Agência Einstein - Filhos que foram gestados em uma barriga de aluguel ou concebidos por meio de doação de óvulo ou de esperma não se sentem diferentes dos demais - e isso também não afeta a saúde emocional deles. Isso é o que sugere um estudo inédito, que acompanhou famílias por 20 anos, e constatou que a falta de um laço biológico não afeta os vínculos emocionais nem o bem-estar na vida adulta. 

Durante as duas décadas, os pesquisadores da Universidade de Cambridge, no Reino Unido, compararam 65 famílias com história de reprodução assistida envolvendo uma terceira parte e 52 que haviam concebido naturalmente. Os voluntários responderam questionários e entrevistas em vários momentos ao longo do tempo. Em geral, todas tinham uma boa dinâmica e um desenvolvimento saudável similar. 

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Por outro lado, a transparência sobre a história de vida familiar entre pais e filhos se mostrou um ponto importante. O levantamento apontou que, caso os pais decidam contar sobre o modelo de concepção, que isso seja feito enquanto os filhos ainda são crianças. Segundo o estudo, as relações eram mais positivas entre aqueles que haviam contado a história completa mais cedo – algo que já foi observado em estudos com filhos via adoção. 

A grande maioria dos casais optou por abordar o assunto ainda na fase pré-escolar da criança, entre os 4 e os 7 anos de idade. Entre os jovens avaliados e que conheciam sua origem, os que souberam ainda na infância tinham melhores índices de satisfação no relacionamento com os pais, na comunicação e no bem-estar psicológico. Além disso, as mães que conversavam sobre o assunto com os filhos desde pequenos sofriam menos de ansiedade e depressão. 

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“Ainda há casais com uma tendência a omitir esse fato porque temem a falta de aceitação”, observa Álvaro Ceschin, presidente da Sociedade Brasileira de Reprodução Assistida. “Mas não recomendamos começar um relacionamento com um segredo, pois isso permeia todo o processo. Sempre recomendamos a transparência, contar no momento oportuno, mostrando que esse filho foi extremamente desejado e que não é menos filho por ter sido gerado dessa forma”, afirma. O especialista defende que o trabalho e o processo da família em conjunto com o psicólogo é fundamental nesses casos.

Pais relutantes

O estudo também mostrou que pais que precisaram recorrer à doação de esperma são os mais relutantes em revelar essa opção. Enquanto menos da metade deles (42%) tinha partilhado a decisão com os filhos, 88% dos concebidos por doação de óvulo sabiam disso, assim como todos os gestados em barriga de aluguel. “Ao contrário da mulher, que vive a gravidez, às vezes para o homem é mais difícil admitir a necessidade de recorrer à doação, mas isso não faz dele menos pai”, diz Ceschin. 

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Em entrevista à Agência Einstein, Laura, 50 anos, que é mãe de Ana e pediu para não ser identificada, conta que pensava em ter filhos, mas estava focada em estudar, trabalhar e fazer mestrado. “A vontade de ser mãe só bateu com força depois dos 40. Procurei o médico para avaliar as possibilidades e, como ainda estava ovulando, tentamos primeiro a estimulação ovariana. Mas não consegui engravidar naturalmente”, disse. 

Por isso, ela recorreu a uma doação de óvulos: “Entendi que, nesse processo, o bebê não teria meu DNA, mas, para mim, o fato de estar dentro do meu útero, recebendo meus estímulos, alimentação, estilo de vida, além do lado emocional, influencia quem ele viria a ser. E tudo foi muito mágico, muito amoroso, desde o momento da transferência do embrião até o parto”, recorda Laura.

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Ela e o marido optaram em não contar sobre a decisão para a família pois não queriam que houvesse nenhum tipo de preconceito envolvendo a criança. “O processo já é extremamente desgastante emocionalmente, financeiramente e gera muita ansiedade. Eu não conseguiria lidar com olhares e julgamentos. E eles ainda não sabem. Por isso também ainda não decidimos sobre como contar para nossa filha. Mas acho que teremos que falar a respeito quando ela crescer, ela tem que saber”, diz sobre a filha Ana, que está com dois anos. 

“Hoje, sinceramente, isso não é algo presente, até esqueço. Ela é minha filha e pronto. E sou apaixonada por ela. As pessoas falam que ela se parece muito com o pai mas que tem muitas coisas minhas - acho que é o jeito de ser. Hoje só tenho a agradecer a tecnologia e a evolução da medicina que me permitiu ser mãe.” 

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No estudo, os autores ressaltam que para ter uma família feliz, o amor e o cuidado são fatores muito mais importantes do que o elo genético. 

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