Congelamento do tecido testicular gera espermatozoides viáveis após 20 anos, diz estudo

Pesquisa ainda é experimental e foi feita em ratos, mas poderá servir de base para que outros estudos clínicos sejam realizados em humanos

(Foto: Fabio Pozzebom / Ag.Brasil)


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Por Fernanda Bassette, da Agência Einstein - A preservação da fertilidade em pacientes adultos que estão em tratamento contra o câncer é uma realidade bem estabelecida pela medicina, que usa técnicas de criopreservação de sêmen ou de óvulos para serem reimplantados no futuro. Mas uma resposta que a ciência busca há anos é como preservar a fertilidade de crianças que são submetidas a tratamentos oncológicos, já que elas estão em idade pré-puberdade e ainda não produzem os gametas para serem congelados. 

Nas últimas décadas, o progresso no tratamento do câncer na infância e na adolescência tem sido cada vez mais bem-sucedido, com alta taxa de sobrevivência. Segundo o Instituto Nacional de Câncer (Inca), hoje em dia estima-se que 80% dessas crianças podem ser curadas e ter boa qualidade de vida se forem diagnosticadas precocemente e tratadas em centros especializados. Assim, a preocupação com a fertilidade infantil é cada vez maior e uma série de estudos têm sido feitos para buscar um caminho seguro e eficaz.
Uma pesquisa publicada recentemente na revista PLOS Biology traz resultados animadores especialmente para os meninos em tratamento de câncer: os cientistas constataram que o tecido testicular de ratos que ficou criopreservado por mais de 20 anos conseguiu produzir espermatozoides viáveis ao ser reimplantado 23 anos depois em ratos inférteis e que não rejeitariam o enxerto.

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No estudo, os cientistas congelaram fragmentos do tecido testicular dos ratos. Esse tecido é composto por células-tronco que têm a capacidade de se diferenciar em todos os tipos de células quando reimplantadas, incluindo células-tronco espermatogênicas com potencial de se transformar em espermatozoides maduros no futuro. 

Segundo a pesquisa, as células que ficaram congeladas por mais de 20 anos e foram transplantadas em camundongos receptores que foram capazes de produzir espermatozoides viáveis, embora em menor quantidade quando comparado com células frescas ou criopreservadas por menos tempo. Apesar disso, os cientistas ressaltam que foram produzidos espermas viáveis e que essa pode vir a ser considerada uma aplicação terapêutica no futuro.

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“Olhamos esses resultados com bons olhos, pois estamos falando de uma possível preservação da fertilidade em crianças que tiveram algum tipo de câncer e sobreviveram. Isso abre um horizonte muito positivo”, comentou o uro-oncologista Leonardo Borges, do Hospital Israelita Albert Einstein. “Essas crianças estão chegando na idade adulta saudáveis e terão o desejo de constituir prole”, continua.

Borges ressalta que a preservação da fertilidade em pacientes oncológicos é muito diferente em adultos e crianças, pois nos adultos as células já estão maduras e desenvolvidas e podem ser coletadas mais facilmente durante o pré-tratamento. Nas crianças, ao contrário, o tecido ainda é imaturo e não produz espermatozoides, o que acrescenta complexidade ao tema.

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“O estudo mostrou que é possível produzir espermatozoides após 20 anos de congelamento das células. Logicamente essa produção é limitada, mas a esperança é que quando essa técnica for associada a outras técnicas de reprodução assistida, poderemos gerar um embrião num processo de fertilização”, afirmou o médico.

Revisão de estudos

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Apesar de esse ser um assunto relativamente novo, uma revisão de 102 estudos publicada na revista científica Human Reproduction em 2013 já trazia essa discussão sobre a importância da preservação da fertilidade de meninos em tratamento de câncer justamente pensando em futuras tecnologias que poderiam surgir na área de reprodução assistida.

Os cânceres infanto-juvenis mais comuns são as leucemias, linfomas e tumores do sistema nervoso central, segundo o Inca. Borges destacou, no entanto, que nem todo tratamento de câncer vai deixar a criança infértil no futuro. 

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“Isso tudo é muito novo, ainda temos pouca aplicação na prática clínica diária. Hoje ainda não há muito a ser oferecido, mas esses resultados abrem um caminho, uma nova porta para que sejam desenhados outros estudos em humanos”, finalizou Borges.

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