Tjolaço: O espinho no dedão e o esperto doutor Moro

A Polícia Federal pediu para encerrar o inquérito da Lava Jato, mas o juiz Sérgio Moro pediu que ele fosse mantido aberto, para achar provas para sustentar alguma convicção, escreve o jornalista Fernando Brito, do blog Tijolaço; a farpa do espinho deve continuar lá, no dedão do coronel, porque ela fez o doutor provinciano viver, não se lanceta assim o abcesso a quem se deve a existência

A Polícia Federal pediu para encerrar o inquérito da Lava Jato, mas o juiz Sérgio Moro pediu que ele fosse mantido aberto, para achar provas para sustentar alguma convicção, escreve o jornalista Fernando Brito, do blog Tijolaço; a farpa do espinho deve continuar lá, no dedão do coronel, porque ela fez o doutor provinciano viver, não se lanceta assim o abcesso a quem se deve a existência
A Polícia Federal pediu para encerrar o inquérito da Lava Jato, mas o juiz Sérgio Moro pediu que ele fosse mantido aberto, para achar provas para sustentar alguma convicção, escreve o jornalista Fernando Brito, do blog Tijolaço; a farpa do espinho deve continuar lá, no dedão do coronel, porque ela fez o doutor provinciano viver, não se lanceta assim o abcesso a quem se deve a existência (Foto: Charles Nisz)


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Fernando Brito, no Tijolaço - Conta a história  – antiga, passada entre gerações e sabida de muitos – que o médico da cidadezinha do interior tinha poucos clientes que lhe pagavam em dinheiro as consultas.  O principal deles  era o “coronel”, que de tempos em tempos tinha dolorosos inchaços no dedão do pé direito. O povo simples, que o doutor não deixava de atender, também pagava, é verdade, mas com gratidão, em galinhas, linguiças, queijos e até leitões e grande admiração pelo doutor.

Viveu assim o médico, com pouco, mas o suficiente para mandar o filho à capital, tornar-se também médico, mas já com outros horizontes que não a existência parca e provinciana da vila, agora de gravata sob o jaleco e congressos em resorts. Mas calhou do rapaz, num dos dias em que vinha visitar os velhos, encontrar o pai adoentado, com forte grite e febril. Não era nada sério, por sorte, mas o velho médico já não consultava há três dias e o filho, gentil, foi clinicar por um dia, em seu lugar.

Um pouco atrapalhado por não poder pedir a batelada de exames clínicos a que se acostumara – fazê-los onde? – o rapaz saiu-se bem e à noite, com o pai já melhor conversava na varanda, sobre o dia no consultório.

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-Sabe, pai, aquele inchaço no dedão do coronel, que ele tinha desde que me entendo por gente?

O velho franziu a sobrancelha e perguntou o que tinha acontecido. E o rapaz, orgulhoso, contou que, ao examinar, viu que o caso era de uma farpa de espinho, minúscula, que tinha se enquistado e, volta e meia, inflamava e fazia mancar o fazendeiro rico. Lancetou e…pronto. Aquilo não mais iria incomodar.

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Ao que o pai respondeu:

– Pois saiba, seu ingrato, que aquela farpa de espinho, por mais de 20 anos, te vestiu, alimentou e ajudou a te formar médico. 

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Hoje, no  Estadão, Julia Affonso, Ricardo Brandt e Fausto Macedo mostram que a Polícia Federal pediu para encerrar o inquérito original da Lava Jato, desde maio passado, considerando que já não havia nada a apurar. Mas que o Juiz Sérgio Moro mandou que se o mantivesse aberto, positivo e operante para novos acréscimos, conforme fosse conveniente.

Vai que alguma convicção precise arranjar provas – não é assim, no direito “morano”? – e veja que trabalheira arranjá-las num inquérito já encerrado?

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Moro, portanto, mandou deixar o inquérito aberto, em banho-maria, pronto a confirmar suas “cognições sumárias”.

A farpa do espinho deve continuar lá, no dedão do coronel, porque ela fez o doutor provinciano viver, não se lanceta assim o abcesso a quem se deve a existência.

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