'População negra vive ditadura não anunciada', denuncia Renato Freitas

Vereador petista falou sobre as manifestações contra o assassinato de Moïse Mugenyi e ainda da luta antirracista em Curitiba

Vereador Renato Freitas, do PT
Vereador Renato Freitas, do PT (Foto: Reprodução/PT)


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Opera Mundi - No programa 20 MINUTOS ENTREVISTA desta segunda-feira (14/02), o jornalista Breno Altman entrevistou o advogado criminal, professor universitário e vereador em Curitiba pelo Partido dos Trabalhadores (PT) Renato Freitas sobre a luta antirracista no Brasil. 

“A gente coloca o dedo na ferida e o Brasil só está mudando porque estamos colocando o dedo na ferida, tentando nos fazer ouvir. Ninguém tem ideia do que seria o Brasil se a gente fosse integrado aos espaços de poder, sociais e culturais. Com certeza não teríamos eleito um presidente que faz um culto à morte”, afirmou o vereador. 

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Exemplo do incômodo que a luta antirracista provoca é o fato de que Freitas enfrenta, atualmente, um pedido de cassação por conta de um protesto do qual formou parte, em repúdio ao assassinato de Moïse Mugenyi, em que os manifestantes entraram numa igreja. O vereador foi acusado de desrespeitar direitos religiosos. 

“Não dá para admitir a morte do Moïse, nem a de Durval. São mortes tipicamente brasileiras. A injustiça praticada contra eles é uma ameaça a todos nós em todos os lugares”, defendeu. 

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Ele explicou que a manifestação, convocada pela Associação dos Imigrantes Africanos no Brasil, junto com outros coletivos negros, originalmente, era para ter acontecido apenas em frente à Igreja de Nossa Senhora do Rosário dos Homens Pretos, no centro de Curitiba, que é “um santuário das almas dos pretos, tinha todo um simbolismo”. 

A entrada na igreja não foi planejada. Porém, segundo o vereador, quando acabou a missa que acontecia no local, o padre que a celebrava confrontou o grupo, “e a gente viu que a nossa vida não estava sendo respeitada lá dentro, precisávamos entrar e pregar a palavra ou ficaríamos do lado de fora, que é o que sempre aconteceu”.

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“Mas a gente não forçou a porta, não foi que o sangue subiu. Não havia ninguém dentro da igreja. Ficamos uns dez minutos e saímos. Foi tudo muito tranquilo. A gente nem pensou que daria essa repercussão toda”, relatou.

A reação não veio apenas por parte da direita. Setores de esquerda também chegaram a acusar Freitas e os movimentos que participaram da manifestação de dar armas ao inimigo em pleno ano eleitoral.

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“É interessante essa questão. Então em determinados tempos e espaços dá para ser mais radical? A verdade é que a população negra vive uma ditadura que não foi denunciada ainda. A militar foi dita e feita. A nossa é feita, mas não é dita. E aí não pode atrapalhar jogo de futebol, partido, eleição. Nos barracos não tem partido, tem crime, tem arma, tem fome e também tem fé, daí a importância da ligação do protesto com a igreja. Além de ser uma questão racista, quem é que quer dar a última palavra sobre aonde a gente vai ou tem que deixar de ir?”, refletiu. 

Por outro lado, ele reconheceu que recebeu solidariedade por parte de membros do PT, de movimentos sociais, professores e das comunidades onde atua.

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Estratégias de luta

Para além de manifestações pontuais, Freitas discorreu sobre as estratégias de luta do movimento antirracista. Ele argumentou que devem ser concomitantes a organização autônoma e a integração a movimentos sociais e políticos.

“Acho que já são feitas as duas coisas ao mesmo tempo. Há coisas que nos unem, mas, ao mesmo tempo, sei que precisa haver um momento em que só a população negra decida a melhor forma de estar nos espaços de poder e ter voz. Aliás, acho que um partido representa o encontro dos dois”, ponderou. 

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Por isso, ele elogiou a iniciativa do PT de formar comitês populares, dizendo se tratar de “uma estratégia necessária e urgente” de formação de células de base e resistência que debatam a realidade concreta da população. Aliás, para ele, essa é a forma de “virar o jogo” em Curitiba, uma capital sem tradição de esquerda ou petista.

Por outro lado, admitiu não gostar da ideia de ter alguém como Geraldo Alckmin formando uma chapa com o ex-presidente Lula. Além de ser alguém com quem Freitas diverge, “ele em si é uma mensagem negativa”.

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“Mas sei a política que vivo e as formas que a gente tem para transformar a realidade institucionalmente. Só acho que esse debate deve acontecer dentro do partido de forma democrática e em conjunto com os movimentos para que a decisão não seja vista como uma traição aos ideais”, enfatizou.

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