Gleisi defende voto de censura a avaliação do FED

Senadora do PT-PR acusa o banco central americano de ter extrapolado "seu mandato" ao classificar a economia brasileira como a segunda mais vulnerável de uma lista de 15 países emergentes, à frente apenas da Turquia; segundo ela, não há demonstração matemática ou nota metodológica de como se chegou à classificação de cada um dos países; parlamentar citou declarações de economistas como Murilo Portugal e o ex-ministro Delfim Netto que consideram pequena a vulnerabilidade do Brasil

Senadora Gleisi Hoffmann (PT-PR) critica política tributária adotada no Paraná
Senadora Gleisi Hoffmann (PT-PR) critica política tributária adotada no Paraná (Foto: Roberta Namour)


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Agência Senado - A senadora Gleisi Hoffmann (PT-PR) anunciou, nesta terça-feira (18), que apresentará no Plenário do Senado voto de censura a uma avaliação do Federal Reserve (FED), banco central americano, que classifica a economia brasileira como a segunda mais vulnerável de uma lista de 15 países emergentes, à frente apenas da Turquia. O anúncio da senadora foi debatido na reunião desta terça da Comissão de Assuntos Econômicos (CAE).

Os senadores Randolfe Rodrigues (PSOL-AP) e Cristovam Buarque (PDT-DF) chegaram a apresentar requerimentos com convite ao presidente do Banco Central, Alexandre Tombini, para debater o relatório do FED. No final, o vice-presidente da CAE, senador Luiz Henrique (PMDB-SC), anunciou que o assunto poderá ser abordado na próxima audiência pública trimestral com Tombini, sobre os fundamentos e a execução da política monetária, agendada para 18 de março.

Gleisi Hoffmann acusou o FED de ter extrapolado "seu mandato", argumentando que "o banco central de um país não pode fazer, oficialmente, avaliação da situação econômica de outro". Segundo a parlamentar, foi uma ação tendente a interferir nos mercados, "uma vez que os investidores, com base nas conclusões do FED, poderão alterar suas decisões de futuros investimentos".

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O fato é que a divulgação do relatório derrubou o Ibovespa, indicador de desempenho médio das ações negociadas na Bolsa de Valores de São Paulo, e provocou elevação da cotação do dólar.

A senadora classificou o índice de vulnerabilidade como uma variável calculada pelos técnicos do FED sem nenhuma transparência. Segundo ela, não há demonstração matemática ou nota metodológica de como se chegou à classificação de cada um dos países. Gleisi Hoffmann citou declarações de economistas como Murilo Portugal e o ex-ministro Delfim Netto que consideram pequena a vulnerabilidade do Brasil.

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Discordância

O senador Alvaro Dias (PSDB-PR) discordou de Gleisi Hoffmann e disse que, nesta hora, "não cabem as produções cinematográficas, com os seus efeitos especiais, para mostrar ao povo brasileiro que nós estamos no paraíso, porque não estamos".

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De acordo com o parlamentar, os números dizem o contrário. O próprio Banco Central, acrescentou, reavalia a sua previsão sobre o crescimento da economia do país, "puxando para baixo (para 1,7%) o crescimento do PIB em 2014". Portanto, no entender do senador paranaense, o Brasil tem que considerar esse estudo do FED.

– O que importa é que há um alerta, um sinal amarelo aceso. O Brasil precisa acordar. Nós não estamos em céu de brigadeiro.
O senador José Pimentel (PT-CE) apoiou a decisão de Gleisi Hoffmann de colocar o assunto em discussão no Senado e afirmou que, se o FED fosse competente como se alardeia, não teria deixado o sistema financeiro dos Estados Unidos quebrar em 2008. Pimentel acusou o FED de "estender a sua crise", contaminando a economia internacional.

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– De lá para cá, o mundo tem pagado um preço muito grande por conta dessa irresponsabilidade do Banco Central norte-americano, e, hoje, como eles [EUA] não conseguiram dar conta da sua demanda, têm um endividamento público superior a 100% do seu Produto Interno Bruto, têm um dos principais déficits em contas correntes e também no superávit primário. E aí resolvem transferir para outros aquilo que eles não fazem.

Cruzada

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O senador Aloysio Nunes Ferreira (PSDB-SP) recorreu a uma comédia britânica do fim da década de 1950 para analisar a reação ao relatório do FED. No filme O rato que ruge, a economia de um país imaginário, Fenwick, está na bancarrota. Então, a governante do país é convencida a declarar guerra aos americanos, com o propósito de perder e depois conseguir financiamento para a "reconstrução", numa referência satírica ao Plano Marshall.

O parlamentar previu que os aliados do governo podem não ter o sucesso esperado em sua convocação de cruzada contra o FED. De acordo com Aloysio, a opinião do Banco Central americano é compartilhada por "muita gente", até do BC brasileiro, que vem mantendo a trajetória ascendente da taxa Selic. Para Aloysio, o que contribui para a desconfiança foram "a mágica da contabilidade criativa" do governo, o "intervencionismo desastrado" e a desindustrialização do país.

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Ajustes

O senador Armando Monteiro (PTB-PE) disse que, "antes de declarar guerra aos Estados Unidos", é preciso ver que o FED não é uma entidade infalível. No entendimento do parlamentar, a análise pode ter sido contaminada por certos fatores conjunturais, porque, estruturalmente, o Brasil não se encontra em posição de tamanha vulnerabilidade, a ponto de ser comparado com a Turquia.

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No entanto, Armando Monteiro sugeriu ajustes na matriz macroeconômica brasileira, para tornar a política fiscal mais consistente com a estabilidade necessária.

Já o senador Cristovam Buarque aconselhou Gleisi Hoffmann a retirar o requerimento de voto de censura, porque tanto sua aprovação como sua rejeição poderiam gerar resultados negativos. A eventual rejeição do voto, acrescentou, seria interpretada como apoio ao FED, enquanto sua aprovação significaria "a politização de um assunto que deve ser analisado tecnicamente".

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