"É preciso acabar com preconceito contra MST", diz ministro da Agricultura durante primeira safra de soja não transgênica

Declaração foi feita na Festa da Colheita realizada neste sábado (25) no acampamento Fidel Castro, do MST, no Paraná

Carlos Fávaro, Paulo Teixeira e Gleisi Hoffmann
Carlos Fávaro, Paulo Teixeira e Gleisi Hoffmann (Foto: MST/Divulgação | Lucas Weber/Brasil de Fato)


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Brasil de Fato - Cerca de 3 mil pessoas se reuniram neste sábado (25) no acampamento Fidel Castro do Movimento dos Trabalhadores Rurais Sem Terra (MST), em Centenário do Sul, no Norte do Paraná, para celebrar a primeira safra de soja não transgênica da região.

 A Festa da Colheita contou com a presença da presidenta do PT, a deputada federal Gleisi Hoffmann, além de dois ministros do governo do presidente Luiz Inácio Lula da Silva (PT): Paulo Teixeira, do Desenvolvimento Agrário e Agricultura Familiar, e Carlos Fávaro, da Agricultura, Pecuária e Abastecimento (Mapa).

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 Os 200 hectares de produção foram cultivados nas comunidades Fidel Castro e Maria Lara, de Centenário do Sul, na zona rural do município, sem o uso de agrotóxicos e sementes geneticamente modificadas, em contraposição ao modelo adotado pelo agronegócio.

 A soja transgênica é alterada geneticamente para ser mais resistente a agrotóxicos e usa o Roundup, produto composto pelo glifosato, substância já criticada pela Organização Mundial da Saúde (OMS) por possíveis efeitos cancerígenos ao ser humano.

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 O plantio de soja convencional, como também é chamada a semente não transgênica, cresce a cada ano em assentamentos e acampamentos do MST. 

 Os assentamentos 8 de Abril, do município de Jardim Alegre, e Novo Paraíso, em Boa Ventura de São Roque, também iniciarão em breve as colheitas de lavouras de soja orgânica. Em Jardim Alegre, são 44,62 hectares de cultivo do grão livre de transgênico, sendo 8,38 destes de produção orgânica já certificada.

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 Já em Barbosa Ferraz, o plantio atualmente é de três hectares de soja orgânica, com perceptiva de crescer nos próximos anos. A produção tem acompanhamento técnico do Instituto de Desenvolvimento Rural do Paraná (IDR-Paraná). 

 Teixeira confirma anúncio da nova direção do Incra

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 No evento, o ministro do Desenvolvimento Agrário e Agricultura Familiar (MDA), Paulo Teixeira, afirmou, em entrevista ao Brasil de Fato, que o presidente Lula fará o anúncio dos novos diretores do Instituto Nacional de Colonização e Reforma Agrária (Incra) na próxima segunda-feira (27).

 O Incra é uma autarquia federal, responsável pela execução da reforma agrária e pela regularização fundiária em todo o país. A nomeação dos novos diretores é aguardada com expectativa pelo Movimento dos Trabalhadores Rurais Sem Terra (MST), que têm demandas históricas junto ao órgão.

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 "O presidente Lula vai resolver neste final de semana toda a direção do Incra. Na segunda-feira, vai anunciar toda a direção do Incra. Evidentemente, há um trâmite que você analisa a vida de cada diretor. Isso é normal. Mas, está tudo solucionado e encaminhado para a decisão do presidente Lula que vai anunciar o presidente do Incra", declarou o ministro.

 Fávaro: respeito ao MST

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 Durante seu discurso, o ministro da Agricultura, Carlos Fávaro, destacou a importância de se valorizar a agricultura familiar e de se apoiar as iniciativas dos movimentos sociais do campo, em especial do MST.

 "Eu sempre digo que não existe duas agriculturas. Todos os homens e mulheres que têm vocação devem ter o direito de ter um pedaço de terra, independente do tamanho da propriedade. É preciso cumprir um papel importante: acabar com o preconceito existe neste país contra o MST. O MST é um movimento legítimo de sonho pela terra", disse. 

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 "Eu cheguei ao meu município por um assentamento de reforma agrária. Passei pelos mesmo dissabores, com a ausência do poder público, com dificuldade para cumprir minha vocação. Ver esse movimento tecnificado, cooperativista, que a agroindústria acontece, que gera renda e dignidade pra homens e mulheres, é simplesmente fascinante. Eu serei sempre um grande defensor de vocês", ressaltou o ministro da Agricultura.

 Liderança do MST: 'Soja é alimento'

 Segundo Diego Moreira, membro da Direção Nacional de Produção do MST e liderança na região, o Movimento Sem-Terra está propondo um grande desafio, que é ressignificar o valor da soja para toda a população brasileira

 “Nós [do MST] entendemos a soja como alimento, e uma ferramenta para o combate à fome no mundo. A gente tá acostumado a tratar ela com preconceito, e com motivos para isso", diz ele.

 "Mas, à medida em que aprofundamos o conhecimento da soja como alimento, não aderirmos à lógica monopolizada pelas grandes empresas. Temos certeza que trabalhadores e trabalhadoras vão entender a importância de plantar soja", acrescentou. 

 “É o que o povo tá pedindo, que o povo pede, menos agrotóxicos. A gente sabe que agrotóxico não é bom. Você vai comprar um produto, você prefere com glifosato ou sem?”, questiona Edivan Ghizoni agricultor familiar, assentado do MST na região e responsável por coordenar o plantio de soja não transgênica no acampamento.  

 O plantio da soja não transgênica é considerado apenas o primeiro passo do MST nesta missão de dar um novo significado ao valor do grão. Ceres Hadich, integrante da direção Nacional do MST, explica que “é preciso investir no beneficiamento, apostando na agroindústria, para que vire, também, alimento direto para as famílias”. 

 “Neste ano, finalmente, pudemos dar um passo a mais, mostrando que é possível produzir uma soja não transgênica em larga escala”, explica a liderança, lembrando que no ano anterior o acampamento Fidel Castro colheu 8 hectares de soja não transgênica em um experimento com o grão. A promessa para o ano que vem é que chegue a 1.500 hectares.

 “Aqui a gente é herdeiro de uma luta histórica, que foi de posseiros e posseiras que lutaram contra grileiros na década de 1940. Quando ressurge, nos anos 2000, nos acampamentos da região, a gente vem com essa missão de libertar a terra para aqueles e aquelas que trabalham”, define Ceres Hadich.

 Acampamento Fidel Castro: solidariedade na pandemia

 As mais de 250 famílias que vivem no acampamento Fidel Castro dizem acreditar que o evento - com a presença de membros do governo federal - pode ser o impulso necessário para garantir a regularização do terreno, como explica a agricultora Márcia dos Santos Neri Borges.

 "Esse plantio vai ser ótimo pra apresentar o nosso trabalho pro mundo. É importante pro nosso objetivo, o sonho que é garantir o nosso lote", afirma a trabalhadora que vive desde 2015 no Fidel Castro e é uma das responsáveis pela produção de alimentos destinados à doação.

 Durante a pandemia, o acampamento produziu e doou 1.500 quilos de alimentos agroecológicos para famílias em situação de vulnerabilidade da região Norte do Paraná.

 "Muy bien compañeros"

 O acampamento Fidel Castro existe desde 2008, quando trabalhadores e trabalhadoras sem-terra ocuparam uma área deixada pelo grupo Atalla, grande produtora de cana-de-açúcar da região, que não atua mais. Além dele, mais quatro acampamentos do Movimento surgiram nesta mesma região.

 Em referência ao nome do acampamento, Diego Moreira finaliza: “tenho certeza que se o Fidel Castro passasse por aqui ele nos daria um 'muy bien compañeros', porque nós estamos indo no caminho certo”.

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