Promessas como publicidade: quem engana quem?

Truques digitais predominam no arsenal dos marqueteiros dos governos



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Agora, tornou-se técnica de comunicação governamental - generalizada pelos marqueteiros dos governos, prefeitos de grandes cidades, governadores, ministros e presidente - dar declarações, entrevistas coletivas, atos formais declaratórios, inaugurar pedras fundamentais e coisas no estilo, transformando intenções e promessas em fatos no imaginário popular, através da cobertura da imprensa e da publicidade posterior. Tem até croquis realistas com adaptação digital de fotos e desenhos animados em computação gráfica. E há intenções e promessas que são lançadas para daqui a cinco anos e que não poderão ser cobradas na próxima eleição, muito menos o seu andamento.

No Rio e em todo Brasil - PAC, por exemplo- essa é uma prática rotineira e generalizada. A imprensa, por crédito, ingenuidade, para não perder a notícia para concorrentes, ou mesmo por boa vontade, dá destaque. Colunas colocam até as fotos digitais e destacam. O eleitor registra e às vezes guarda na memória. Na maioria das vezes, dá crédito e imagina que tudo está andando. Em muitos casos, quando a obra ou intervenção é localizada numa determinada região, só os moradores dessa região sabem que a promessa é falsa. Os demais, que nunca vão naquele bairro, ficam pensando que as coisas estão caminhando.

E os marqueteiros sublinham os lançamentos com slogans do tipo "um governo que trabalha"..., e os comerciais na TV vão mostrando as intenções como realidade. Um exemplo recente é a publicidade da prefeitura do Rio com 'Rio-Cidade Olímpica'. A única obra andando é o túnel da Grota Funda -ou Transoeste- que nada tem a ver com as Olimpíadas. Basta checar no projeto entregue ao COI. Mas até a comissão do COI foi enganada e visitou a única obra em andamento, sem saber que nada tem a ver com os JJOO.

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Este jogo de ilusão, promessas e, em boa parte das vezes, mentiras, é intensificado pelos candidatos à reeleição ou para os candidatos, da sua turma, à sucessão. E o que se diz é que só ele pode garantir a continuidade das obras. Outro dia, foi publicado que o túnel da 'perimetral' não vai ser mais o projetado, mas vai até a Praça XV, no Rio. Nada se falou de projeto, de valores e do financiamento para isso, já que os recursos da CEF, transformados em certificados e entregues aos empreiteiros, não têm essa previsão. Um pouco antes, se disse que esses recursos da CEF, via certificados, iriam bancar a construção do Museu do Amanhã. Isso seria totalmente irregular. Claro, os responsáveis não se meteriam nesse 'imbróglio', tendo depois que responder ao MP e ao TCU.

O novo Museu da Imagem e do Som, lançado no final de 2007, quatro anos depois, não saiu do chão. Agora, há uma fórmula boa para ganhar tempo: lançar concursos de projetos, debater preliminares, coisa e tal e, com isso, 'ganhar' um ano. A lista, aqui no Rio -prefeitura e estado- é extensa. Pelo menos 20 destaques de obras importantes não foram para valer e outras tantas são obras de outdoor em canteiros de obras-fake. Certamente, um tempo depois, a imprensa, se sentindo fraudada, faz a cobrança colocando imagens e calendário do dia das promessas e mostrando que nada foi feito, ou quase. Mas também há um ou outro caso em que a ampla publicidade paga pelos governos, da promessa ou intenção, inibe essa cobrança.

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César Maia é economista e ex-prefeito do Rio de Janeiro - cesar.maia@terra.com.br

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