Imbecilizante baixaria na TV

Para um Cabo Anselmo no novo Roda Viva, dez Marcos Mion com o porrete na mão



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No ano 2000, entrevistei Marcos Mion. Ele, que hoje comanda com um taco de beisebol na mão o programa chamado Legendários, na Rede Record, já era um DJ em ascensão na MTV. Falava-se muito nele, com admiração, entre a moçada, e a entrevista foi surpreendente para mim. Mion me contou do quanto gostava dos autores do teatro clássico grego, do esforço de interpretação que ele realizara para ter vivido complexos personagens de Sófocles, Ésquilo e Aristófanes. Falamos sobre Medéia, de Eurípedes, que ele também já havia montado. Mion se mostrou um ator com grande bagagem, preparado, cujo talento o fez se destacar nesses anos todos.

Mas agora lá está ele com um taco de beisebol na mão. Qual é a mensagem? Estourar a cabeça do Mionzinho ou de quem falar ou fizer algo que ele, Mion, não goste? Apontar a violência covarde (um taco de beisebol!!!) como alternativa para alguma coisa? Mostrar que quem manda ali é ele? No trecho que assisti, o culto Mion destacava, sempre com o tacão na mão, cenas em que os confinados em outro programa da Record, a Fazenda, discutiam gases gástricos, passavam cantadas bêbados em mulheres, olhos vermelhos e postura oscilante. O negócio dele, agora, é dar a novidade de que as mulheres são gostosas, como se ninguém soubesse.

Daí você muda de canal e, na Bandeirantes, tem o Milton Neves, outro a quem já entrevistei – e que também mostrou ter um monte de garrafas vazias para vender, com uma brilhante carreira iniciada praticamente do ponto zero, em rádio interiorana -, chamando para a briga o comentarista Neto, insinuando, como já fez, cantadas sobre uma mulher casada, a Renata Fan, e aos berros. Autoritário e irritante.

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No Pânico, na Rede Tevê, o bullying tornou-se parte permanente do todo. Agora envolvendo terceiros, como o atacante Luís Fabiano, do São Paulo, dizendo ‘chupa, Alfinete’, em mensagem gravada para o personagem identificado com o Corinthians. Se o Alfinete vier a ser agredido num jogo qualquer, qual será a responsabilidade do atacante que disse o ‘chupa’? Nenhuma, vão dizer que Fabiano apenas participou de uma brincadeirinha inocente etc. Sei, sei. De resto, o personagem terá de fazer uma tatuagem no corpo a pedido da “turma do twitter”, que votou pela pena via internet. Um show!

Uma vez na Globo, quem quer curtir o remake de O Astro, como eu queria, o que tem para fazer é ver casais seminus malhando em pé, deitados, beijaços em superclose, caras e bocas. Mais um pouco e a Carolina Ferraz vira atriz pornô, alguém discorda?

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Essa baixaria toda – além daquelas do Rafinha etc – tem sido veiculada de domingo a domingo na televisão aberta. E faz tempo. Qualquer um que tenha um aparelho pode captar. Todos sabem do que eu estou falando. Alguma dessa baixaria entra no ar mais cedo, outra parte, mais tarde, mas invariavelmente está lá.

Ok, eu posso mudar de canal e ir mudando até encontrar algo ao meu gosto. Ok, eu posso ensinar minha filha a fazer isso. Mas porque raios o Estado não faz ainda melhor que isso com suas concessionárias? Por que, em lugar de ceder ao argumento fora de contexto de liberdade de expressão, o Poder Público não vai lá e adverte, multa e reprime? Por que não se tenta, ao menos, livrar a tevê brasileira do cada vez mais crescente festival de baixarias que a assola, em lugar de fingir que o que temos é a preservação da liberdade de expressão?

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O que é preciso entender é: não se pode fazer tudo o que se quer na tevê. É preciso haver limite. A tevê ensina e, nesses casos, deseduca milhões de pessoas, incita violência, degrada os costumes. É coisa séria. Não pode ficar por isso mesmo. Está mais do que certo o advogado Manuel Alceu Afonso Ferreira, que busca uma punição exemplar para essa rapaz Rafinha, pela vilania contra uma mãe de família que, no caso, é famosa.

É a internet, e não a tevê, o veículo certo, adequado, para essa liberdade que os programas chamados populares e seus apresentadores defendem para si. Porque a internet é mais ampla e, ao mesmo tempo, mais restrita. Há filtros de escolha. Tá a fim de pornografia? Beleza! Pelo google ou diretamente em uma URL, você tecla e tem o que quer. Se você acha bacana assistir a esses filmes na sua tevê de 50 polegadas, com criançada circulando, vovô, vovó, galinha, como disseram os Titãs sobre a família, ótimo! Você escolheu isso. Mas a tevê aberta é diferente. É concessão do Estado. Ao veicular o festival de baixarias, faz o Estado assinar embaixo, pactuar com isso. O que me dá o direito de dizer que vivemos num Estado de Baixaria, muito mais preciso do que definirmos o Brasil como Estado de Direito.

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Bacana na tevê é assistirmos o novo Roda Viva, que na segunda 17, com o Cabo Anselmo no centro e o Mario Sérgio Conti estreando, mostrou que esta e outras entrevistas produzirão verdadeiros e importantes documentos históricos.

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