Um velho jeito novo de ter filhos
Apesar de toda a tecnologia dos hospitais, aumenta o número de mulheres que preferem o parto natural, em casa e ao lado da família. Eva Lopez é uma delas
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Natalia Emerich_Brasília 247 – Júlia Lopez de Oliveira nasceu há oito dias. Diferentemente da maioria dos bebês, ela chegou ao mundo dentro d´água e em casa. Isso porque sua mãe, a psicóloga Eva Lopez Yuste, 31 anos, optou pelo parto natural. Assim como Eva, outras mães buscam o método alternativo no Distrito Federal para dar à luz. O parto humanizado, como é conhecido, pode ser realizado na Casa de Parto de São Sebastião e em casa. A forma tradicional de trazer crianças ao mundo é um resgate da realizada por parteiras dentro de casa, muito comum até o final da década de 50, quando a população brasileira era majoritariamente rural. De acordo com a enfermeira-obstetra Kelly Cavalcante, a técnica respeita as posições psicológicas e físicas da paciente. "Tentamos nos desvincular de princípios hospitalares, a tecnologia só entra em caso de emergência", explica. Para ela, a liberdade da mulher é fundamental: "A paciente pode escolher a dieta alimentar, as pessoas que vão acompanhar o parto e a melhor posição para que a criança saia". Foi o que aconteceu com Eva. Acostumada com nascimentos naturais, compartilhou experiências familiares e de amigas e teve os dois filhos em casa: Lucas Lopez de Oliveira, 5, e a pequena Júlia, 8 dias. "Sinto-me mais protegida no meu ambiente, bem acolhida pelas pessoas que amo", diz. Apesar do método alternativo, Eva pesquisou livros e procurou se familiarizar com o parto caseiro antes de uma decisão definitiva: "É um momento delicado de dor e preocupação, tem que estar segura e com o pensamento positivo". Ela se preparou psicologicamente e fisicamente, com leitura, prática de exercícios físicos e alimentação considerada saudável. Existem duas possibilidades para o parto humanizado no DF: a primeira é a Casa de Partos de São Sebastião, na cidade do mesmo nome, cujo atendimento é pelo Sistema Único de Saúde e, portanto, de graça. Tem seis leitos. Como a casa pertence à Secretaria de Saúde do DF e é de responsabilidade pública, há protocolo para a futura mãe ser aceita: a interessada não pode ter cicatriz uterina (cesárea prévia); complicações gestacionais, como diabete e hipertensão; deve ter no mínimo seis consultas pré-natais e gestação de termo (o bebê não pode ser prematuro); e os resultados de exames devem estar dentro dos padrões de normalidade. Por mês, em média, 30 bebês nascem no local. A segunda são os partos domiciliares. A enfermeira-obstetra atende até quatro mulheres por mês. "É onde se resgata ao máximo o tradicionalismo das parteiras", diz Kelly. O ambiente é mais privativo e permite maior participação da família. Normalmente se utilizam exercícios com bolas de pilates para estimular a saída da criança. É o chamado parto ativo, no qual a mãe participa conscientemente. Em casa também há a opção do parto na água. "É mais tranquilo, pois o bebê não sofre com o choque de mudança de ambientes e a temperatura ameniza as dores da mãe", diz Kelly. Marcelle Von Sohsten, 22, concorda. Depois de 36 horas em trabalho de parto, ela deu à luz dentro da banheira a Maya, 45 dias. "Diminuiu o atrito para o bebê e aliviou minhas dores, fiquei bem à vontade", conta. Tanto que o nascimento da filha virou espetáculo e foi acompanhado pela família e por amigos. Foi a primeira gestação de Marcelle, que conheceu a técnica caseira depois de conversar com uma amiga que é doula – profissional especializada em acompanhar a gestação e auxiliar a grávida até o momento do parto. Assim que descobriu a gravidez, a servidora pública procurou uma obstetra que a acompanhasse em sua residência. Para usufruir dos trabalhos obstetrícios caseiros, a interessada tem que desembolsar de R$ 3,5 mil a R$ 10 mil. O valor inclui doula, duas obstetras, acompanhamento pré-natal, parto, acompanhamento pós-parto (monitoramento por 10 dias), material e a primeira consulta com o pediatra. Em hospitais privados, o custo gira em torno de R$ 8 mil. Os riscos Apesar dos benefícios, o professor de Ginecologia e Obstetrícia da Universidade de Brasília Antônio Rodrigues considera o método perigoso. "Entendemos que o parto vaginal é o melhor em termos de segurança e riscos tanto para o bebê quanto para a mãe, desde que assistido." Rodrigues ressalta ainda a importância de um ambiente que dê condições e tempo hábil para reverter possíveis complicações. "Para uma criança, 3 a 5 minutos são fundamentais para definir a sobrevivência e evitar possíveis sequelas de problemas que perdurarão a vida inteira." Os hospitais que realizam partos naturais possuem uma sala equipada ao lado com infraestrutura para cirurgias, como a cesariana. Embora sem ambiente clínico equipado, Kelly Cavalcante garante que os partos caseiros e humanizados são seguros. Segundo a enfermeira-obstetra, as intercorrências conseguem ser previstas com antecedência. "Há monitoração dos batimentos cardíacos e avaliações feitas hora a hora", diz. "Quando a vitalidade do bebê é alterada de alguma forma, a gente o manda direto para o hospital." A enfermeira explica também que a paciente deve descrever como será o parto (plano A) e sugerir alternativas para o caso de haver complicações, como o hospital para onde deseja ser transferida (plano B). A prioridade é zelar pela saúde do bebê, independentemente do local onde ele nasça.
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