O plebiscito do trem-bala

O brasileiro já votou contra a monarquia e contra o desarmamento. Será que votaria contra o trem-bala, se fosse perguntado?



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O brasileiro já foi às urnas decidir platitudes, como a melhor forma de governo, se monarquia parlamentar, parlamentarismo ou presidencialismo, ou se deve-se  ou não proibir a venda de armas de fogo. Tais temas só foram debatidos em referendos ou plebiscitos por conta de um forte lobby político, enquanto outros, tão ou mais prementes, com efeito prático na vida das pessoas, são decididos dentro dos gabinetes por meia dúzia de poderosos. Só mesmo com muito relativismo político pra sustentar que a pergunta "você quer que um rei volte a governar o país?" repercute mais os anseios do povo do que "você é a favor do trem-bala?" ou "você é a favor da Copa no Mundo no Brasil?", por exemplo.

"Questões de logística devem ser decididas por especialistas e tecnocratas", há de lembrar zeloso guardião das prerrogativas do Executivo. Será, mesmo? Vamos ver se essa visão paternalista do Estado, que enfia decisões goela abaixo do povo, aguenta o "custo trem-bala", um projeto que promete sangrar os cofres públicos em algo entre 15 e 36 bilhões de reais. Não duvidem que chegue a 50. Da mesma forma que Lula trouxe a Copa do Mundo pro país como parte de um projeto pessoal de prestígio, Dilma está decidida a fazer o trem-bala porque deve ser a coisa mais chique do mundo carimbar esse tipo de projeto.

Muito bacana ter estádios modernos e um trem-bala do nível dos japoneses, mas, pra falar de um modo claro: EXISTEM OUTRAS PRIORIDADES. Ou, como coloca Marco Mendes no artigo "Vale a pena construir o trem-bala?", publicado num site do próprio governo: "O que será que geraria maio benefício à população brasileira: um transporte rápido entre Rio e São Paulo ou um investimento maciço na direção da universalização do acesso a água e esgoto?"

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E outra: investir tantos bilhões em um só projeto, ainda mais na região Sudeste, iria perpetuar a desigualdade do ciclo desenvolvimentista. Enquanto em várias cidades do país o esgoto corre à céu aberto, enquanto as próprias linhas de metrô de várias capitais bem que podiam receber algum investimento (a de Brasília não cobre um metro sequer da parte norte da cidade, a de Salvador é uma piada), o trem-bala da Dona Dilma, se de fato construído, vai significar mais-do-mesmo: investimentos de cima pra baixo, priorizando o eixo Rio-São Paulo. E o resto da país? Ah, o resto é resto!

A recente polêmica sobre os royalties do pré-sal levantou outra vez o debate a respeito de que tipo de país queremos, se um que concentra suas riquezas em uma faixa do litoral, ou se outro que zela pelo desenvolvimento orgânico do território como um todo. O que leva políticos do sul-maravilha a desconfortável posição de defender os seus privilégios, se não quiserem cometer suicídio eleitoral. Tal populismo de ocasião já levou Sergio Cabral às lágrimas, alegando que estavam "quebrando" o Rio de Janeiro.

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Quanto à Copa do Mundo, o mal já está feito. Lula assinou o seu contrato com a Fifa, como se fosse a personificação de 200 milhões de brasileiros. Já o trem-bala ainda pode e deve ser parado, isso se o governo tiver coragem de fazer um plebiscito a respeito. Afinal estamos falando de um investimento de dezenas de bilhões de reais, pago por todos e cada um dos contribuintes. Pena que a mídia não repercuta mais esse detalhe orçamentário, já que uma busca no Google por "projeto trem-bala Brasil" revela 617.000 (seiscentos e dezessete mil) ocorrências, enquanto se você digitar "BBB Brasil" vai dar de cara com 23. 900.000 (vinte e três milhões e novecentos mil).

A próxima vez que o ministro da fazenda falar na televisão sobre a responsabilidade orçamentária, desconfie. O próprio governo é perdulário, imediatista e gasta grande parte da bolada em obras faraônicas. Escola, saúde, previdência, tudo isso é muito chato! O que importa morar na favela, se eu tenho o carrão do ano? E uma baita TV de plasma pra ver a Copa do Mundo?

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