O peso dos BRICS
A última reunião de cúpula dos BRICS pode não ter resultado em uma agenda mais concreta, mas alinhou um posicionamento, que é crescente entre esses países
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Por que sempre olhar o copo como meio vazio? Essa é uma questão que surge de imediato após a leitura de algumas análises críticas sobre a última reunião de cúpula dos BRICS (Brasil, Rússia, Índia, China e África do Sul), que simplesmente não acreditam na capacidade do grupo, que reúne os principais países emergentes, em exercer um papel relevante no cenário internacional. E os argumentos principais para sustentar tais análises são a falta de uma agenda mais concreta e as dificuldades de acordo em questões como o comércio.
De fato, há muitas diferenças e especificidades entre os BRICS, que vão desde os tipos de governo às peculiaridades culturais, passando pelos interesses e poderio militar. Nesse sentido, haveria mais motivos para acreditar em divergências do que em semelhanças entre esses países.
Ocorre que a realidade e o contexto internacional são complexos e colocam em xeque avaliações precipitadas como essas. A começar pelo fato de que não se manteria um fórum como esse aberto se realmente não houvesse perspectivas de unidade para a construção de uma agenda comum.
Brasil, Rússia, Índia, China e África do Sul compõem juntos o maior potencial de crescimento mundial nas próximas décadas. São nações de grandes extensões territoriais, de grande influência regional, com grande potencial de consumo, com recursos naturais inexplorados e possibilidades atraentes de desenvolvimento. Ou seja, têm peso e relevância internacional na área econômica. E a busca por uma agenda comum é um esforço de articulação política.
Ora, as relações diplomáticas obedecem a lógicas e tempo próprios. A última reunião de cúpula dos BRICS pode não ter resultado em uma agenda mais concreta, mas, em contrapartida, alinhou um posicionamento, que é crescente entre esses países, de cobrar das nações desenvolvidas medidas mais comprometidas com a retomada do crescimento mundial. Afinal, a crise pode não ter derrubado as economias emergentes, mas as afetou e sua continuidade é nociva para todos os países.
Há concordância também em reformar a atual configuração de importantes organismos internacionais, como o FMI (Fundo Monetário Internacional), o Banco Mundial e o Conselho de Segurança da ONU (Organização das Nações Unidas). O modo como se fará essa reforma é que não é consensual ainda. Menosprezar ou minimizar o potencial de articulação desses países é observar o atual contexto de relações internacionais com os olhos do passado.
Para caminhar decisivamente na direção do fortalecimento dos BRICS, cabe ao Brasil manter algumas diretrizes de política externa fundamentais, como priorizar as relações, inclusive comerciais, com os demais países da América do Sul e Latina e também fortalecer as demais relações no eixo Sul-Sul. Trata-se de algo imprescindível ao nosso desenvolvimento.
O Brasil tem também um papel relevante no interior dos BRICS, que é o de dar sustentação a esse novo fórum como instrumento de ampliação de sua projeção no processo de tomada de decisões nos demais organismos internacionais. O primeiro passo, portanto, é detalhar e clarificar quais são nossos interesses estratégicos e buscar correspondências junto aos demais países que compõem os BRICS.
Ou seja, o caminho mais promissor não é esvaziar esse fórum de pouco tempo de existência, mas fortalecê-lo. No atual contexto, duvidar do peso e do potencial dos BRICS parece ser uma aposta de alto risco.
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