O patrocínio da violência

Na Copa Libertadores da América, a pancadaria é o grande tempero



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A taça Libertadores da América é difícil de ganhar. Não só pelo alto nível dos atletas que participam, mas também pela violência que envolve as partidas. Socos. Cotoveladas. Mordidas. Pisoes. Empurrões. Escarradas. Rasteiras. Bordoadas. Tudo de certa forma tolerado pelos organizadores, a CONMEBOL, e pelos patrocinadores, um banco de prestígio no mercado, que tem seu nome vinculado a esse tipo de comportamento.

Pensem na regra do impedimento. Durante as partidas impedimentos de milímetros são marcados. Os bandeirinhas ficam com todas as antenas ligadas, nem piscam, pra marcar na hora exata se está valendo ou não um lance que envolve múltiplos vetores: o momento preciso do passe; a posição do atacante; a posição do zagueiro; jogador que vai e que volta, que pode ou não participar da jogada; a posição da linha da bola; quantos jogadores estão entre ela e o gol; e outros detalhes.

Marcar esse tipo de lance, com esse grau de precisão (que, suponho, deve ser alto) é uma premissa da boa arbitragem praticada pela CONMEBOL. Por outro lado, agredir o adversário não configura uma falta assim tão grave, como fica evidente pelo histórico da competição, pelo rol de exemplos de jogadores que dão safanões, rasteiras, dedadas, e continuam em campo. Às vezes ganham um cartão amarelo, vez por outra um vermelho. Presepadas que seriam sumariamente punidas na liga europeia aqui são toleradas, porque esse é um campeonato de latinos, que são brigões, e assim a violência alimenta o estereótipo.

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Vincular a taça Libertadores à ideia de um campeonato de macho, um jogo brigado, difícil, desleal, violento, é a estratégia de quem organiza e patrocina o evento. Isso fica claro se pensarmos na vinheta do Globo Esporte, que passa em quase todos os lares brasileiros na hora do almoço. Nela, um grupo de músicos andinos canta "libertadoreeeeeeeeeeeessss" tocando seus instrumentos na beira do gramado. Atrás, seguranças os protegem com grandes escudos da ira da torcida, que atira rolos de papel higiênico. Mas é claro que escudos daquele tamanho protegem mesmo é das pedradas.

A decisão editorial de fazer graça com certas coisas pode custar caro, e o que o Globo alega em sua vinheta é: "Nós achamos engraçada a possibilidade de haver pedradas nos estádios, nos divertimos com isso." Quando uma política responsável seria no sentido completamente oposto, a de motivar as famílias a irem ao estádios, defender que as arenas que abrigam os jogos podem ser frequentadas pelas crianças e pelos idosos. Quem gostaria de ir a um lugar onde os outros se protegem com escudos?

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A partir do momento em que um banco patrocina esse tipo de evento, e que uma emissora desse porte endossa a ideia (enquanto aos sábados veicula lutas de Vale Tudo), não sei, me perdoem o pessimismo, mas a impressão é que a violência foi institucionalizada, virou um produto que não é mais pra maiores de idade, não é mais tarja-preta. A porrada legalizada, o espancamento livre a todos os públicos, eis a faixa do horário nobre na TV aberta.

Dessa forma, o herói do Corinthians na conquista do título é não só o craque de bola, o atleta inspirado, mas o valente que bota o dedo na cara do adversário, que morde o seu dedo, o chama de cagão, boludo e viado. E pergunta retoricamente: "Você acha que estou com medinho?" Emerson alega que fez isso porque tinha tomado dois socos antes. Os comentaristas foram unânimes em dizer que ele agiu com alto índice de inteligência emocional, não se deixou intimidar, peitou o adversário. Manteve a cabeça erguida o tempo inteiro. Sacaneou porque foi primeiro sacaneado.

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Qual a relação disso com o futebol, o jogo jogado, ainda não ficou claro.

O craque holandês Seedorf chegou recentemente ao Botafogo trazendo um currículo impecável: em mais de 800 partidas, nunca foi expulso. Com toda a sua fleuma europeia, seu jeito razoável e manso, podia ser um embaixador do Jogo Limpo na taça Libertadores. Se um dia vier a jogá-la.

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