O choro da presidente Dilma

Pode ter sido por Luiz Sérgio, mas quem sabe não foi por estar dando posse ao novo ministro?



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Nem todos foram esquecidos, mas os mais jovens provavelmente nunca ouviram falar de alguns destes nomes: Darcy Ribeiro, Eliezer Batista, Evandro Lins e Silva, Hélio Bicudo, Hermes Lima, João Mangabeira, José Ermírio de Morais, Miguel Calmon, Ulysses Guimarães, Walter Moreira Sales, Waldir Pires, San Tiago Dantas.

Todos, apesar de diferenças políticas e ideológicas, ministros do governo de João Goulart, o presidente da República derrubado pelo golpe militar de 1964. Foram lembrados pelo senador Pedro Simon em uma sessão do Congresso Nacional, em dezembro, em homenagem a quem talvez tenha sido o mais brilhante deles, San Tiago Dantas. O senador poderia ter falado também, entre outros, de Celso Furtado, Paulo de Tarso Santos, Almino Afonso, Abelardo Jurema, Franco Montoro, Gabriel Passos, Araújo Castro, Roberto Lira, Wilson Fadul.

Ao citar esses ministros de Jango, Simon fez, indiretamente, uma comparação com ministros e ex-ministros que compõem o inflado gabinete da presidente Dilma Rousseff. As diferenças entre as duas equipes são gritantes. O senador gaúcho, que é do PMDB, mas não compactua com a amplamente majoritária ala fisiológica do partido, pediu no discurso que Dilma montasse um ministério à sua imagem, com sua marca pessoal. Na ocasião, disse Simon: “Faça a sua escolha, exclusivamente sua, tendo como regra os padrões de independência, seriedade, competência e integridade que resumem a biografia deste grande, digno, correto, decente, coerente brasileiro. Trilhando o caminho de San Tiago, presidente Dilma, a senhora poderá dar ao seu governo e ao país o ministério que os brasileiros esperam e merecem.”

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Já em março, está claro que a presidente não seguiu os conselhos de Simon. Seguramente este ministério não é o que os brasileiros esperam e merecem. Mas, analisando friamente, não há mesmo como ser diferente e Dilma não poderia, mesmo se quisesse, fazer o que o senador propôs. A não ser que tivesse forças para enfrentar a fortíssima reação que viria. Pois uma coisa é o discurso, outra é a realidade.

Dilma não teria como repetir a qualidade superior da média do gabinete de Jango basicamente por dois motivos. Primeiro, porque o nível dos políticos brasileiros caiu assustadoramente. Mas mesmo assim, há, no Brasil (e até no Congresso), nomes que dariam mais peso político, intelectual e moral ao ministério. O problema maior é o segundo motivo: os sistemas político e eleitoral em vigor levam a presidente a ter de governar com partidos e políticos muito longe da grandeza, da dignidade, da correção, da decência e da coerência atribuídas por Simon, com justiça, a San Tiago Dantas.

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Ao empossar o senador Marcelo Crivella (?!), do PRB (?!) e da Igreja Universal (?!), como ministro (?!) da Pesca (?!), a presidente disse que o país é “extremamente complexo, múltiplo e democrático” e assim “a constituição de alianças políticas é essência para que o Brasil seja administrado, para que o Brasil seja governado de forma democrática e, ao mesmo tempo, que o governo represente os interesses da nação".

Tem toda razão, pois nenhum partido político, isoladamente, representa a maioria dos brasileiros e tem bancada majoritária no Congresso. O governo precisa representar a multiplicidade e formar maioria. Para isso tem de contar com o material político e humano de que dispõe e não há como negar que esse material disponível é, na média, de péssima qualidade. Daí, o governo tem de recorrer a Crivellas e semelhantes e assim a coalizão deixa de representar “os interesses da nação”. Ao dizer que o senador que assume a responsabilidade de cuidar da pesca é um “precioso aliado” e que tem “o maior respeito” pelo PRB, a ministra Ideli Salvatti cumpre seu lamentável papel, mas não deixa de ter razão, caso se interprete corretamente a palavra “precioso”.

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O sistema é assim, e se não for mudado – o que é muito difícil -- tudo continuará igual. Todos os presidentes a partir de José Sarney passaram por isso, gostando ou não. Os governos precisam de maioria nos parlamentos e de ganhar eleições, especialmente em São Paulo. Essa é a luta pelo poder político. Para vencê-la, governantes têm de nomear e suportar pessoas muito distantes dos padrões mínimos de competência e seriedade que se deveria exigir de um ministro, de um secretário e de um dirigente de empresa pública.

As notícias são de que Dilma chorou na solenidade de posse de Crivella por lamentar ter de afastar o deputado Luiz Sérgio do governo. Pode ser, claro. Faz mais bem, porém, pensar que Dilma chorou porque estava dando posse a Crivella e pensando que outros do mesmo tipo ainda virão.

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