Meu Deus, tem um chinês lá em casa!
Protagonizado por Ricardo Darn, a estreia Um conto chins recorre a trama inslita para falar de temas como amizade e a dificuldade de aceitar o diferente. Leia crtica de Lcio Flvio
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Lúcio Flávio _especial para o Brasília 247 - O cinema argentino é feito de encanto, simplicidade e delicadeza. É incrível, mas, por lá, eles conseguem transformar pequenos temas em grandes filmes e enredos banais em intricadas reflexões sobre a humanidade. É só escolher uma fita e conferir: “O filho da noiva”, “Nove rainhas”, “Lugares comuns”, “O segredo dos seus olhos”, “Clube da Lua”, “O pântano”, enfim... Eu prefiro todos e mais outros que não estão na lista, mas o filme da vez é “Um conto chinês”, de Sebastian Borensztein, uma das atrações do Espaço Itaú de cinema, aberto nesta sexta-feira ao público, no CasaPark.
Protagonizado pelo carismático e charmoso Ricardo Darín, o filme – baseado numa história que aconteceu de verdade na Rússia – gira em torno de um chinês (Ignacio Huang) que “caiu” de pára-quedas na vida de um argentino rabugento, solitário, mas de bom coração. O ranzinza em questão é Cesare (Darín), ex-combatente da guerra das Malvinas que toma conta da loja de ferramentas deixada pela família.
Contrariado, ele ajuda o estrangeiro por ter um coração de manteiga atrás da carranca de pedra que vê todos os dias diante do espelho. “Não estou acostumado a ter companhia”, confessa, de si para si, ao se sentir encurralado pela presença do chinês.
Desesperado, o argentino recorre à embaixada, aos comerciantes da colônia oriental na grande Buenos Aires e até ao entregador de comida chinesa. Mas quem vem ao seu socorro é a bela Mari (Muriel Santa Ana), sua namorada platônica que adota o hóspede-intruso com o carinho de uma irmã latina. A cena do jantar em família, com todos admirados diante da novidade, é impagável. “Olhe os cabelos deles, são milenares”, diz alguém.
Conduzido com graça e humor fino, “Um conto chinês” se apropria de situação insólita para falar das coisas simples da vida, boas ou ruins, como a amizade e a intolerância diante do diferente. Algumas partes são meio Fellini – preste atenção nas tragicômicas tramas dentro da trama vivida pelo personagem de Ricardo Darín –, outras bem neo-realistas e, mesmo que você não enxergue nenhuma dessas influências na narrativa, não passará despercebido diante da delicadeza silenciosa dos gestos, olhares e desencontros morais dos dois personagens centrais.
A persona vivida por Ricardo Darín parece fácil de fazer e bem familiar a nossas memória e retina, mas, interpretado pelo talentoso ator, ganha em elegância, sobretudo quando sua figura portenha ganha espaço dentro das belas paisagens urbanas da capital, entre elas o elegante bairro Palermo Viejo, um dos cenários da fita.
Bem, o cinema argentino já teve dias melhores, mas ainda não perdeu a ternura.
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