Mão única
Para que debate, se até o motorista de táxi argentino é contra a expropriação da YPF?
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A chamada grande imprensa brasileira não gosta de debater ideias e dá espaço apenas aos que se identificam com suas posições políticas e ideológicas. Uns veículos mais, outro menos, é preciso reconhecer, pois generalizações sempre são perigosas. Nos dias seguintes à decisão argentina de expropriar a YPF parecia que o mundo,unanimente, estava contra Cristina Kirchner – apoiada apenas pelos coitados dosargentinos, que não sabem o que fazem...
Na televisão, apresentadores, comentaristas e entrevistados desancavam a decisão. Buenos Aires tem milhares de motoristas de táxi, mas o único que apareceu no telejornal, claro, criticou a expropriação. Nenhuma voz a favor. Nos jornais, já nas manchetes se via a condenação à medida tomada e os especialistas convidados a escrever artigos eram, todos, contra a nacionalização da YPF. E assim por toda a chamada grande imprensa, que se diz defensora da pluralidade de opinião, mas cultiva o pensamento único.
Mesmo em meio a tantas matérias em um só sentido, algumas frases pinçadas ajudaram a mostrar o que a imprensa preferia não ver. A primeira, do vice-ministro de Economia da Argentina, Axel Kicillof, um dos poucos que pôde defender a medida na nossa grande imprensa: “Não podemos ter empresas cujos interesses colidam com os do país. Nosso crescimento não pode estar ameaçado por empresas estrangeiras que têm lógicas diferentes.”
Essa é a essência da questão, independentemente da opinião que se tenha sobre a expropriação. O investimento estrangeiro é importante, mas empresas que atual em outros países devem ser bem-vindas desde que se submetam à soberania, à estratégia de desenvolvimento e às leis da nação que as recebe. Embora isso seja cada vez mais raro, empresários devem se submeter ao governo, e não o contrário. E na Argentina, goste-se ou não, o governo é exercido por uma presidente eleita por expressiva maioria e que tem o apoio do Congresso, também eleito.
Outra frase foi de um advogado especialista em Direito Internacional, Fernando Zilvetti: “A expropriação não é ilegal, mas tem de ser indenizada”. Isso não se discute, o que se discute é o valor da indenização que, segundo Zilvetti, pode ser arbitrada em um tribunal internacional. Não há impedimento à expropriação e à nacionalização, nas normas internacionais. É um direito de qualquer país.
O tempo dirá se a decisão foi ou não eficiente sob o ponto de vista econômico, e se beneficiará ou não o povo argentino. O tempo dirá também se a arrogância espanhola, apoiada pela não menos arrogante União Européia – e que tanto medo parece dar em algumas pessoas, que cultivam a subserviência aos poderosos como norma --, vai ter consequências reais ou se ficará apenas na bravata. Aliás, quem está precisando agradar ao público interno, por causa da crise que vive, é a Espanha.
A decisão do governo de Cristina Kirchner pode se mostrar certa ou errada, mas a Argentina tinha todo o direito de tomá-la. Mesmo nossa grande imprensa não gostando nada disso.
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