Esqueça a matemática, a conta é outra

O caso do pequeno empresário que quis pagar os empréstimos que havia feito



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Milhões de brasileiros perdem dinheiro, todos os dias, e a maioria não percebe. Esse dinheiro fica com os bancos, privados e públicos, grandes e pequenos. Mas é uma expropriação oficializada, legalizada, com respaldo do governo e da autoridade financeira do país. A polícia não pode fazer nada, a Justiça pode apenas agir quando se exagera nessa expropriação.

Para dizer que nada há de errado, banqueiros e seu séquito de economistas muito bem pagos e alguns jornalistas metidos a economistas apresentam uma profusão de números, tabelas, gráficos, análises de conjuntura, conceitos complicadíssimos, teorias econômicas, citações de autores estrangeiros, enfim, têm toda uma argumentação que pessoas comuns não entendem e não entenderão. É para ser assim mesmo, pois fica mais fácil para eles.

Graças a essa sofisticação de explicações, contra a qual não conseguem argumentar, os brasileiros perdem dinheiro todos os dias. Os que se utilizam do sistema bancário sem necessidade de pegar dinheiro emprestado geralmente perdem ao pagarem tarifas extorsivas pelos serviços que lhes são prestados. Os que precisam ou pensam precisar de empréstimos, em qualquer modalidade, é que sentem mais o peso da expropriação institucionalizada.

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O caso relatado por um amigo meu, pequeno empresário, sem pendores financeiros, mostra como funciona esse mercado. Mudando-se os valores, sua história é a mesma de muitas outras pessoas. A modalidade, neste caso específico, ainda é menos onerosa do que as praticadas com cheques especiais e cartões de crédito.

Em um período em que fez investimentos que ainda não deram retorno, os negócios não foram bem e administrou mal, o pequeno empresário fez cinco empréstimos pessoais com taxas de juros entre 1,85% e 3,12% e prazos entre 60 e 96 meses. Resolveu então consolidar sua dívida em um único financiamento hipotecário, com taxas de juros na faixa de 1,6% e maior prazo para pagamento, com prestações menores. Alongar a dívida, como se diz. Daria como garantia ao banco algumas de suas salas comerciais e depois cuidaria de vender outras para pagar a dívida.

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Caiu no erro de procurar primeiro um desses bancos com jeito de picaretagem que oferecia juros de 1,4%. Teve de entregar para análise até seus extratos bancários pessoais e da empresa, detalhados. O que criminosos de colarinho branco não entregam nem com ordem judicial, ele entregou para conseguir o empréstimo. Depois de muito tempo perdido, foi informado de que seu pedido havia sido recusado porque responde a um processo judicial, há nove anos na primeira instância, e se fosse condenado teria de pagar R$ 40 mil em valores de hoje.

Começou todo o processo novamente, agora na Caixa Econômica, e conseguiu o financiamento que lhe possibilitaria quitar as dívidas e consolidá-las em uma só, com juros bem mais baixos. As condições foram realmente boas, em termos de mercado. Pediu então ao banco do qual era devedor que lhe fornecesse o valor para quitar os empréstimos. Foi prontamente atendido: R$ 173.046,12. Achou muito e foi consultar o último extrato impresso que havia recebido em casa, referente a fevereiro. Em 29 de fevereiro, seu saldo devedor era de R$ 168.203,73.

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Abriu seu extrato no computador e verificou que nos primeiros dias de março tinha pagado as prestações mensais dos cinco empréstimos, no valor de R$ 6.036,99. Raciocinou então como gente comum e achou que havia algum erro. Fez as contas que aprendeu na escola: o saldo devedor deveria ter sido reduzido para R$ 162.166,74, então como poderia ter aumentado em R$ 10.879,38 em menos de 20 dias?

Sabia, claro, que os juros cobrados pelos banqueiros, com o beneplácito da autoridade monetária, sobem extorsivamente a cada dia. Mas mesmo assim os números, para ele, não batiam. Além disso, lera diversas vezes que ao quitar um empréstimo, o devedor tem direito a um desconto. E ali não parecia haver desconto nenhum, embora fosse devolver ao locador, em perfeitas condições de uso e com valor atualizado, o dinheiro que dele alugou.

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Foi à agência bancária e viu que as contas estavam certas, sim. Mas na ótica dos banqueiros, claro. Com uma agravante: o valor de R$ 173.046,12 já era com os descontos. Só um exemplo: um empréstimo era de R$ 52.613,00 em 60 prestações. Pagou 29, totalizando R$ 42.495,44. O saldo devedor em fevereiro era de R$ 34.971,18. Para quitar teria de pagar R$ 43.000,00 (e alguns quebrados, dos quais não se lembra), mas como o banco deu desconto, ficou em R$ 33.551,00. Não é lógico? O saldo devedor em fevereiro era de R$ 34.000,00, depois de pagar R$ 6.000,00 passou, em 20 dias, para R$ 43.000,00 (em números redondos).

Bem, seria R$ 33.551,00 se ele pagasse no dia 20. Como quis conferir as contas na agência e só pagou no dia 21, o valor subiu para R$ 33.571,64 – R$ 20,64 em um dia. Também lógico, naturalmente. De um dia para outro, a quitação que ficaria em R$ 173.046,12 subiu para R$ 173.188,64, ou seja: R$ 142,52 em um dia!

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O nome disso, em qualquer situação normal, seria roubo. Mas como se trata do sistema financeiro, de banqueiros que apenas cumprem as regras estabelecidas pelos sábios doutores economistas, é assim mesmo que tem de ser. E o governo, ao incentivar o crédito em nome do crescimento econômico, dá a esses banqueiros – e a si próprio, pois tem os bancos públicos que não fogem à regra desse mercado – as vítimas conscientes e inconscientes dessa expropriação de recursos privados.

Perdem com isso os empresários e empreendedores que realmente produzem bens e serviços e os cidadãos que por necessidade, por desinformação ou por terem sido seduzidos pelo consumismo desvairado, recorrem a empréstimos, financiamentos, cheques especiais e cartões de crédito.

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E haja teoria para justificar o que, no popular, é roubo mesmo.

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