Disputa entre PF e militares por controle da segurança presidencial preocupa e é raiz de fofocas palacianas

Polícia Federal, que tem amparo do Ministério da Justiça na disputa, não pretende devolver responsabilidade por segurança do presidente, do vice e da primeira-dama, ao GSI

Lula, Polícia Federal e Exército Brasileiro
Lula, Polícia Federal e Exército Brasileiro (Foto: REUTERS/Peter Nicholls | Marcelo Camargo/Agência Brasil)


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Por Luís Costa Pinto, da sucursal do Brasil 247 em Brasília - Ao assumir a condução e o controle da articulação política do Governo, o presidente Luiz Inácio Lula da Silva não se limitará a mergulhar no dispendioso e cansativo leva-e-traz entre as pretensões que tem para o País e o custo da abertura de caminhos legislativos para elas no Congresso Nacional. Lula será chamado a arbitrar as fogueiras de vaidades que existem em todo e qualquer Palácio e se não forem administradas por um exímio pirotécnico podem fugir do controle e queimar os próprios integrantes do círculo mais íntimo do poder: é o popular “fogo amigo”, e ele já arde no Planalto sob o terceiro mandato do petista.

O diretor-geral da Polícia Federal, Andrei Rodrigues, e o delegado da PF Alexsander Oliveira, que comanda a equipe de segurança presidencial, foram levados para o entorno de Lula ainda durante a campanha eleitoral de 2022. O responsável pela aproximação entre o comando de campanha do PT e os dois delegados federais foi o general da reserva Gonçalves Dias, que estruturou todo o esquema de segurança para o então candidato, a quem tinha servido durante os oito anos dos dois primeiros mandatos presidenciais. Quando Lula tomou posse, e como era óbvio que seria necessário promover uma limpa (também chamada “desbolsonorização”) da equipe do Gabinete de Segurança Institucional (GSI) que havia servido ao general (também da reserva) Augusto Heleno e a Jair Bolsonaro, pactuou-se entre os integrantes do Governo que assumiu em 1º de janeiro que até 30 de junho a segurança do presidente da República, do vice-presidente, da primeira-dama e das respectivas famílias da dupla eleita em 2022 seria feita pela Polícia Federal sob a coordenação do delegado Alexsander Oliveira e mediante a condução política e administrativa do GSI.

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O vazamento para a emissora CNN das gravações editadas e manipuladas de cenas filmadas dentro do Palácio do Planalto no dia 8 de janeiro, porém, mudou o equilíbrio administrativo que existia naquele pacto. As imagens que a CNN divulgou com estrondo e exclusividade haviam sido manipuladas para expor o então chefe do GSI numa sequência de imagens adulteradas que “contava” história diferente dos fatos. Em menos de 24h a manipulação das imagens emergiu, diversos veículos (inclusive este Brasil 247 e a TV 247) divulgaram a ordem verdadeira das gravações e foi retirada a tarja que protegia militares da ativa que seguiam servindo no GSI mesmo sob a gestão de Lula e o então interventor do Gabinete de Segurança Institucional, Ricardo Capelli, tratou de zelar pela divulgação de todas as imagens disponíveis e pela consolidação do correto encadeamento dos fatos.

Como interventor no GSI, Capelli demitiu 90 integrantes militares e civis da estrutura da segurança presidencial. Antes da intervenção dele, outros 250 servidores, sobretudo militares, já haviam sido dispensados do GSI pelo general Gonçalves Dias - quase 25% do total de funcionários à disposição do Gabinete de Segurança Institucional. Somando-se os afastados do GSI por Gonçalves Dias àqueles servidores afastados por Capelli no período em que atuou como ministro interino, tem-se uma troca de quase 50% de todo o efetivo da segurança presidencial palaciana. É justamente em torno de 900 cargos e funções comissionadas do Gabinete de Segurança Institucional que arde um silencioso, mas arriscado, tição no Palácio do Planalto.

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Empossado na semana passada como novo ministro do GSI, o general Marcos Antônio Amaro tratou de deixar claro para a equipe do Palácio do Planalto - sobretudo para seus agora colegas ministros - que não abrirá mão do plano estabelecido ainda no período de transição de poder entre o trágico governo Bolsonaro e o Governo Lula: cumprida a excepcionalidade de seis meses, até 30 de junho, quando a segurança presidencial estará sendo coordenada pelo delegado PF Alexsander Oliveira, a partir de 1º de julho serão militares - da ativa - os condutores desse processo. Os delegados Andrei Rodrigues, diretor-geral da PF, e seu subordinado, Alexsander Oliveira, lugar-tenente da segurança palaciana, não querem largar a função. Nela, dispõe de ao menos 300 cargos para indicar servidores (do quadro da ativa da Polícia Federal, de polícias militares estaduais e mesmo das Forças Armadas ou civis) e de um orçamento operacional que pode chegar a R$ 50 milhões por ano. Além de tudo isso, conservar-se-iam no coração do poder real, ou seja, no entorno de todas as agendas do presidente da República, do vice-presidente, de suas esposas e das famílias. 

Como o sabem até as esculturas de Alfredo Ceschiatti, que ornam os palácios brasilienses, estar perto do poder confere poder real aos convivas de qualquer capital. Em geral, por uma atração gravitacional óbvia, a intimidade operacional do poder resvala para a criação de um grau de confiança pessoal que retroalimenta o poder daqueles que servem aos poderosos. Em nome da manutenção dessa engrenagem maligna que tem energia potencial para destruir Governos por meio da fofoca, o presidente Lula terá de se imiscuir no tema a partir desta semana - pois os enredos de “desarticulação política” e de “manutenção da CPMI do 8 de janeiro para derrotar de vez a oposição” passam por aí. Dois delegados da Polícia Federal não podem ter a ousadia de dizer abertamente que não aceitam esta ou aquela política de Estado estabelecida pelos políticos que integram o núcleo de comando da chapa eleita em outubro. É impensável assisti-los com tamanha ousadia, a menos que recebam chancela interna.

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