Demissão de secretário da Fazenda camufla disputa entre varejistas e atacadistas no DF

Segundo empresários da cidade, Piancastelli caiu por ser favorável a um regime fiscal favorável aos varejistas e que reduzia benefícios a atacadistas. Entre os dois segmentos, Agnelo optou pelo atacado e descartou seu secretário



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A exoneração do secretário de Fazenda do DF, Marcelo Piancastelli, por telefone e por ordem do governador Agnelo Queiroz é apenas a ponte de um iceberg numa disputa entre empresários do Distrito Federal quanto à política fiscal e tributária a ser adotada pelo Distrito Federal.
Piancastelli foi exonerado do cargo na noite na segunda-feira (3) e, segundo nota oficial do GDF a razão teria sido não cumprir um acordo de reformulação tributária do GDF. Mas, segundo empresários varejistas da cidade, a razão teria sido exatamente oposta. Piancastelli era favorável a entrada do chamado sistema de substituição tributária, que não era bem visto pelo ramo dos atacadistas, mas sucumbiu face à posição de Agnelo Queiroz que preferiu agradar os atacadistas, mesmo a custas de perdas na arrecadação fiscal.

Para entender a história

A exemplo de Minas Gerais e Goiás, o GDF pretendia adotar uma nova forma de cobrar os impostos. Para isso, a secretaria de Fazenda do Distrito Federal assinou, no Conselho Nacional de Política Fazendária (Confaz), protocolos que alteraram a forma de cobrança de alguns produtos. O novo formato de arrecadação, denominado substituição tributária, prevê que os fabricantes de qualquer parte do Brasil e que estejam fornecendo bens a serem consumidos no Distrito Federal recolham o ICMS devido ao estado onde está localizada a fábrica, bem como referente aos valores de todas as fases seguintes da cadeia comercial (como atacadistas, distribuidores e varejistas). Assim, aqui no DF, o varejista não teria mais que recolher a ICMS quando da venda ao consumidor e da emissão da nota fiscal de venda na ponta do varejo.

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Pelo novo modelo, materializado por meio dos Decretos 33.808 e 33809 de 2012, publicados no Diário Oficial do DF no início de agosto, ao pagar o ICMS, a fábrica já recolhe o ICMS de todas as etapa da comercialização. Os 7% destinados ao estado de origem, bem como a diferença que seria recolhida quando da comercialização no DF. Desta forma, o GDF receberia automaticamente os valores devidos e não mais precisaria fiscalizar de porta em porta todos os estabelecimentos comerciais existentes. Bastaria focar a fiscalização das indústrias responsáveis o que, em tese, tornaria os trabalhos mais rápidos.

Os riscos de sonegação, ineficiência fiscalizadora e até de corrupção na máquina arrecadadora seriam menores, já que a fiscalização tornar-se-ia bem mais simples, pelo fato do volume de fábricas ser menor do que o de varejistas e pelo fato dela poder ser feita eletronicamente. Hoje, este sistema já funciona no DF para produtos como automóveis, tintas e cimento. O mecanismo transformou, por exemplo, a Cimento Tocantins no maior contribuinte de ICMS da Capital Federal.

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A expectativa com o novo sistema era de que a evasão tributária seria significativamente reduzida. Segundo empresários do setor do comércio varejista de material de construção, o Distrito Federal perde mensalmente cerca de R$ 15 milhões de reais, fruto da sonegação fiscal. Ela equivaleria a 50% do imposto que deveria ser recolhido pelo segmento empresarial.

Pelos decretos citados anteriormente, no sábado, 1º de setembro, deveria ter entrado em vigor a ampliação deste sistema de substituição de tributação a todo o setor de material da construção civil. Os varejistas de material de construção estavam otimistas com o novo formato.

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Acreditavam que o principal benefício seria o fim da concorrência desleal provocada por outros varejistas que sonegam o ICMS ou mesmo por atacadistas que atravessam a comercialização e vendem com subsídios tributários produtos ao consumidor final e, inclusive, a empresas da construção civil que não possuem cacife para comprar direto das fábricas, além de hospitais, e o próprio governo.

"Pra nós, varejistas, o pior imposto é o imposto sonegado pelo concorrente. Não importa a alíquota que pagamos, se o concorrente sonega, nós que cumprimos com as nossas obrigações fiscais sofremos duplamente: não realizamos a venda e ainda temos uma carga fiscal pesada" – afirma um tradicional empresário do ramo do material de construção.

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A análise deste empresário foi reforçada pelo subsecretário da Receita do DF, Espedito Henrique de Souza Júnior, em nota publicada no portal da Sefaz-DF. "Hoje, muito dos descontos concedidos ao consumidor é possibilitado pela sonegação de impostos" –.

Há muito, varejistas e atacadistas pelejam por políticas fiscais mais justas. Os varejistas vêem nos atacadistas uma torneira aberta à renúncia fiscal do GDF. Segundo os empresários, desde o governo Arruda, este é o terceiro secretário da Fazenda do DF que cai vítima desta disputa.

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Até agora, os governadores que passaram pelo Buriti preferiram apoiar os atacadistas em detrimento dos varejistas. Uma política fiscal especial, à base de subsídios e renúncia fiscal, foi criada pelo GDF para atrair empresários do setor atacadista. Muitos se instalaram no Pólo Seco ganhando, além da queda dos impostos, lotes do programa Pró-DF. Tal política já foi considerada inconstitucional pelo Supremo Tribunal Federal

Não foi só o secretário que caiu agora. O novo sistema tributário, que deveria ter entrado em vigor no dia 1º, foi adiado. Os varejistas, que somam 2.300 empresas que empregam, aproximadamente, 25 mil empregados, se viram obrigados a investir em treinamento de profissionais, programas e equipamentos de informática para fazer face ao método eletrônico, perceberam que gastaram dinheiro à toa.
Pior: permanece uma política fiscal que privilegia os atacadistas, com taxas de ICMS de 3,4% contra 15,7%, recolhidos pelos varejistas.

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Revoltados, os varejistas da construção civil se reuniram nesta quarta-feira, 5/9, no sindicato do Comércio Varejista de Material de Construção do Distrito Federal – Sindmac/DFs. Eles decidiram pressionar o GDF. Querem que o sistema de substituição tributária – cuja previsão de vigência foi agora protelada para 1º de dezembro efetivamente entre em vigor e que não haja mais protelações. Querem também que neste vácuo jurídico fiscal, que volte a vigorar as regras existentes até junho deste ano. Caso contrário, a alíquota de 15,7% poderá subir ainda mais, chegando a 18,19%. Um manifesto já foi redigido, e os comerciantes aguardam agora que Agnelo os receba.

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