Cresce, no Brasil, a consciência de mudança da centro-esquerda

No parlamento brasileiro, o aumento das forças políticas da chamada centro-esquerda e a redução da centro-direita é inconteste, gradual e continuado



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A ausência de crescimento econômico na Europa tem levado o povo a punir a centro-esquerda, optando pelos partidos conservadores, como aconteceu na Espanha e Portugal. Em países da América do Sul, ao contrário, é visível a tendência de crescimento dos partidos de centro-esquerda e sua ascensão ao poder. No Brasil, isso ocorreu, de uma maneira geral, devido a uma política de "cuidado" com a economia, garantindo crescimento, controle da inflação e altos índices de oferta de empregos, tudo isso aliado, porém, a uma aproximação com os movimentos sociais e sindicatos e a uma preocupação específica com a erradicação da pobreza no país.

Enquanto a crise econômica empurra a Europa mais pra direita, aqui no sul caminhamos para a centro-esquerda. No Peru, por exemplo, Ollanta Humala venceu a filha de Fujimori, numa eleição duríssima. E lá a economia há uma década cresce sem parar. O controle da economia por si só não foi suficiente para que o povo votasse em candidatos associados ao programa liberal de Toledo e Alan Garcia (os dois últimos presidentes). Venceu Ollanta, nacionalista de esquerda, que moderou o discurso durante a campanha e, na reta final, conquistou até o apoio do conservador, porém genial, escritor Mario Vargas Llosa.

Os fatos nos mostram o óbvio: na Europa, o povo puniu a centro-esquerda – anteriormente no poder em Portugal e Espanha – pela ausência de crescimento econômico. Na América do Sul, crescimento, apenas, não é o suficiente para se manter no poder. Latino-americanos e nós, os brasileiros querem mais. O Peru – desde Fujimori – reduziu direitos trabalhistas, massacrou sindicatos, encurralou movimentos sociais. A vitória de Ollanta é um sinal de que, para os peruanos, apenas o crescimento econômico não define uma eleição. E Ollanta percebeu isso. Por isso, tentou se apresentar mais na linha de Lula do que na de Chavez, como ocorreu em sua última candidatura.

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No Brasil, as gestões do ex-presidente Lula desmontaram, na prática, a tese neoliberal dos governos anteriores ao provar que é possível ter crescimento econômico colocando ao mesmo tempo a população e suas necessidades básicas em foco nas decisões políticas do país. E quem se apoderou dessas conquistas foi o próprio povo, o que se refletiu, também, no resultado de eleições no período.

No parlamento brasileiro, o aumento das forças políticas da chamada centro-esquerda e a redução da centro-direita é inconteste, gradual e continuado. O cenário político, ou melhor, o pensamento político no Brasil vem lentamente apresentando sinais de mudanças. Essa tendência na filosofia e, consequentemente, nas cadeiras do Congresso Nacional vem sendo observada mais nitidamente a partir do advento da esquerda, ou centro-esquerda, no Executivo Federal. Evidentemente, não podemos nos esquecer da valiosa contribuição prestada pelos "desbravadores", aqueles que foram galgando, sob as mais severas dificuldades, espaço no Senado e na Câmara Federal, já a partir da redemocratização. Sem eles não teríamos mostrado nossas ideias ao país.

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Em 2002, ainda na gestão do ex-presidente Fernando Henrique, o Democratas tinha 94 deputados, o PSDB 94, o PMDB 85 e o PT 57. Com a eleição de Lula, o PT pulou para 91 deputados, e os três maiores partidos de centro-direita perderam 44 deputados: o Democratas ficou com 84 (perdeu 10), o PMDB com 75 (perdeu 10), e o PSDB com 70 (perdeu 24). Três meses mais tarde, com a dança das cadeiras, os três perderam mais 23 deputados, o DEM ficou com menos 11, o PSDB com menos 7 e o PMDB com menos 5. O PT manteve-se estável. Com a eleição da presidenta Dilma Rousseff, o PT fez mais cadeiras na Câmara (86) que o PSDB (50) e o DEM (27) juntos.

O marco inicial deste crescimento exponencial da centro-esquerda deu-se quando uma proposta, até então desconhecida, a do governo Lula, com os olhos voltados para o povo e suas necessidades mais urgentes, mostrou-se viável. Indiscutivelmente, o olhar social profundo do governo Lula aliado à manutenção da segurança das instituições nacionais sensibilizou o povo, que é quem, afinal, conduz parlamentares ao poder, à mudança.

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Não podemos ser ingênuos, o povo está atento. Percebe que o feijão chega mais farto à mesa; que os preços da geladeira e da tevê 42 polegadas são agora acessíveis; sente orgulho de ter filhos na faculdade. A população está, mais do que tudo, segura para apoiar este novo modelo político. A chamada centro-esquerda para o cidadão nada mais é que este político com olhar social maduro, responsável e sem bravatas que pensa não somente em garantir as três refeições do dia para a população, mas também nos próximos 20 ou 40 anos do país. Isto é, afinal, o combustível desta transformação de perfil do cenário do pensamento político brasileiro. E os governos Lula e Dilma são sem dúvida os maiores avalistas para esta mudança de perfil do Congresso Nacional, especialmente da Câmara dos Deputados.

Podemos, facilmente, constatar que este Congresso com identidade renovada na última década é, em grande parte, realmente novo. Não se trata apenas de migração de forças políticas se reacomodando devido a um ou outro novo governo. A grande maioria das cadeiras que foram ocupadas pela centro-esquerda vem das bases partidárias, nada tem a ver com a migração de parlamentares de partidos de centro direita. A centro-direita está encolhendo porque suas idéias, suas propostas, não encontram eco na sociedade, simplesmente porque não trazem nada de novo. Nas últimas eleições, ícones da política mais à direita, homens com extrema visibilidade e ex-líderes da oposição, não conseguiram se reeleger. É fácil perceber que as mudanças têm raízes profundas na visão do povo brasileiro.

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O resultado das eleições tanto na Europa como no Peru é um sinal importante para o governo Dilma. O povo quer crescimento, claro. Dilma não cedeu às pressões conservadoras em relação à gestão da economia. Os “analistas” liberais bombardearam Mantega e o Banco Central, mas a equipe econômica não cedeu. Aumentou juros de forma moderada e adotou medidas para conter a inflação sem sufocar a economia.

É preciso, no entanto, mais do que isso. Estamos no caminho certo quando pensamos em criar programas sociais que signifiquem redução da miséria, distribuição de renda, respeito ao trabalhador. É necessário, sobretudo, notar uma nova tendência entre as mais variadas categorias de trabalhadores. Se o Brasil cresce e se temos um governo popular, queremos dividir esse bolo, queremos viver melhor, ganhar mais! Nada de extraordinário: na hora do crescimento, trabalhadores sentem-se mais fortes para reivindicar. É necessário se dar conta de que o país cresce e a consciência política também.

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