Correios se posicionam para disputar novos mercados
Com investimentos que chegarão a R$ 600 milhões em 2014, companhia renova sua marca e expande atuação para os ramos de seguros e empréstimos, compras pela internet e telefonia celular; enquanto o governo incentiva o crescimento do gigante, empresas privadas temem a concorrência
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Brasília 247 - Os Correios estão se reinventando não apenas na marca, mas na operação. Com a prerrogativa de otimizar custos e aproveitar potenciais ainda pouco explorados, a companhia amplia com ousadia suas atividades no mercado. Para tanto, os investimentos da instituição também estão crescendo, de R$ 404 milhões, em 2012 para algo em torno de R$ 600 milhões em 2014. Segundo o presidente dos Correios, Wagner Pinheiro, o dinheiro vem de aplicações financeiras da empresa, e não do governo federal. A diversificação de receitas inclui o Banco Postal (em parceria com o Banco do Brasil), que terá amplo cardápio de produtos, como seguros e empréstimos. Mas não para por aí.
Deve ficar pronta até o final do ano a operação própria de telefonia celular, que servirá para elevar a receita e minimizar o impacto do custo fixo da manutenção de 12 mil pontos de atendimento - muitos deles deficitários e com pouco movimento de cartas e encomendas. As agências dos Correios estão presentes em 1.650 municípios em que a presença de instituições financeiras é pouca ou nenhuma. É justamente essa "capilaridade" em áreas distantes dos grandes centros que deverá impulsionar o serviço de telefonia. Para entrar no setor, a empresa alugará a rede de uma grande operadora. A venda de chips deve começar no fim deste ano. A partir de 2015, as lojas também deverão vender aparelhos.
No setor de entregas, por sua vez, a companhia pretende construir 14 centros de triagem de pacotes e reformar outros seis nos próximos anos, além de melhorar seu sistema de acompanhamento de cargas. Tudo isso com a meta de atender melhor às empresas de e-commerce.
As vendas pela internet cresceram 28% em 2013, movimentando R$ 28,8 bilhões. O serviço de postagem, monopólio dos Correios, avança num ritmo muito menor, de 7%. Domínio. O presidente estima que a participação da instituição no e-commerce - responsável por 90 milhões de entregas em 2013 - esteja próxima a 40%. Esse domínio é justificado pela presença nacional da empresa, que tem obrigação de atender a todo o País. Por isso, as companhias que vendem para regiões distantes dos grandes centros dependem, em alguma medida, da estatal.
Decisão apertada do Supremo Tribunal Federal (STF) no ano passado deixou os Correios em vantagem na hora de disputar o mercado de e-commerce com empresas privadas. Por 6 votos a 5, os ministros decidiram que isenções tributárias que a empresa já tinha em um serviço considerado essencial para a população - a entrega de cartas pessoais e cartões postais - deveriam ser estendidas à movimentação de pacotes, apesar de companhias privadas concorrerem nesse mercado. Com a decisão, a empresa ficou livre de impostos estaduais e municipais, como ICMS e ISS, que continuam a ser cobrados de suas rivais. A justificativa para a isenção tributária seria o fato de a companhia ter a obrigação de atender todo o País - mesmo regiões deficitárias do ponto de vista financeiro, enquanto as concorrentes podem escolher áreas mais rentáveis, explicou um advogado que acompanhou o caso.
As empresas privadas que vão passar a bater de frente com o gigante público, que faturou mais de R$ 15 bilhões no ano passado, se dizem prejudicadas. "Eu diria que a concorrência é desleal, pois tenho de concorrer com uma empresa que não paga imposto", diz Ronan Hudson, diretor comercial da Jad Log. Para o diretor executivo da E-bit, Pedro Guasti, caso o projeto de revitalização dos Correios se reflita em serviços realmente melhores, o gigante público tem chance de incomodar muito as rivais privadas. "Sem dúvida, os Correios têm potencial para ganhar muito mercado", diz o especialista.
A empresa também vai entrar pesadamente em áreas em que hoje a iniciativa privada é forte, como a logística reversa - que garante a devolução de produtos com defeitos técnicos - e a gestão de estoques para companhias que não têm como manter centros de distribuição próprios. Para dar conta de todo esse trabalho novo, o governo teve de fazer uma mudança na legislação em 2011 para permitir que os Correios pudessem comprar fatias de outras empresas para melhorar seu serviço. Com a mudança de regras, os Correios informaram neste mês ao Conselho Administrativo de Defesa Econômica (Cadê) a intenção de fazer a sua primeira aquisição: uma participação minoritária na Rio Linhas Aéreas. "Seria uma participação relevante, mas de menos de 50%, que daria maior estabilidade para os nossos contratos", explicou Wagner Pinheiro.
Com O Estado de S. Paulo
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