Coronavírus: Congresso restringe atividades e acesso ao público

O avanço do coronavírus no país fez com que os presidentes da Câmara dos Deputados, Rodrigo Maia (DEM-RJ), e do Senado, Davi Alcolumbre (DEM-AP), baixassem atos oficias que limitam a entrada de pessoas no Congresso

(Foto: Agência Senado)


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Do Brasil de Fato - O Congresso Nacional amanheceu o dia, nesta quinta-feira (12), sob novas regras para o acesso de pessoas e a realização de eventos nas duas casas legislativas. Por conta do avanço do coronavírus no país, os presidentes da Câmara dos Deputados, Rodrigo Maia (DEM-RJ), e do Senado, Davi Alcolumbre (DEM-AP), baixaram atos oficias que limitam a entrada e a circulação de pessoas nas dependências dos prédios. A medida deve vigorar por tempo indeterminado, até que seja tomada nova decisão sobre o caso.

Assinados na noite de quarta-feira (11), os dois documentos suspendem sessões solenes e especiais, eventos de frentes parlamentares e visitações públicas, estas geralmente feitas por turistas e outras pessoas que buscam conhecer as instalações do Congresso.

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No Senado, fica permitida a entrada de parlamentares, servidores, funcionários terceirizados, profissionais da imprensa, assessores de órgãos públicos, fornecedores e visitantes previamente autorizados.  

Na Câmara, além desses mesmos segmentos, o presidente liberou “representantes de instituições de âmbito nacional, estagiários, menores aprendizes, participantes do programa Pró-Adolescente e empregados que prestam serviços” na Casa, desde que sejam credenciados, a não ser em casos de prévia autorização da Primeira-Secretaria da Câmara.  

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O ato de Maia não especifica, por exemplo, como deve se dar, a partir de agora, a participação de organizações civis na Casa, já que o documento proíbe “eventos coletivos não diretamente relacionados às atividades legislativas do plenário e das comissões”.

O Brasil de Fato apurou, nos bastidores, que, nesta quinta-feira, alguns deputados receberam interlocutores políticos da sociedade civil em seus gabinetes, como geralmente ocorre.

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A limitação imposta pelos atos oficiais, no entanto, altera a rotina da Câmara. Apelidada de “casa do povo”, a instituição é marcada pela intensa movimentação de segmentos populares e outros visitantes. Dados oficiais mostram que cerca de 18 mil pessoas circulam diariamente pelo local e o número chega a 26 mil em dias de votações consideradas polêmicas, quando a Casa costuma atrair mais representantes populares.  

Nesta quinta, uma sessão solene que iria homenagear as vítimas das tragédias de Brumadinho (MG) e Mariana (MG) foi cancelada. A mudança de planos fez com que uma caravana composta por 44 pessoas que vieram de Minas Gerais antecipasse o retorno para casa.

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“O povo ficou frustrado com isso porque era uma atividade muito importante. A gente fez várias reivindicações, placas, faixas”, lamentou o militante Miqueias Ribeiro, do Movimento dos Atingidos por Barragens (MAB).

Parlamentares

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Deputados ouvidos pelo Brasil de Fato foram unânimes ao considerar que as limitações têm fundamento por conta dos riscos que o coronavírus impõe à saúde pública e coletiva. Alguns deles, no entanto, acreditam que as regras poderiam ser mais bem trabalhadas.  

A deputada Erika Kokay (PT-DF), da Comissão de Legislação Participativa (CLP), menciona a preocupação com a realização de duas sessões solenes específicas. A primeira, anteriormente prevista para a próxima quinta (19), lembraria os dois anos do assassinato da vereadora Marielle Franco (Psol) e do motorista Anderson Gomes. A outra, que seria no dia 24, seria alusiva ao Dia da Memória, da Verdade e da Justiça, que faz referência à luta contra a ditadura militar.   

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“Não vou entrar na análise do ponto de vista técnico, mas suspender e restringir, impedir que a população possa adentrar esta Casa me parece que é, em função de uma discussão de saúde publica, restringir a democracia e o posicionamento da Casa em datas tão importantes”, afirma a petista, destacando a importância simbólica dos protestos.   

“Até que ponto você não poderia marcar essas datas de uma outra forma, por exemplo? Acho, inclusive, que o presidente poderia ter chamado o colégio de líderes, ter discutido sobre isso e falado de quais atividades iriam ser suspensas aqui, porque esta Casa deixa de conviver com o povo”, critica.

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O deputado Ivan Valente (Psol-SP) disse à reportagem que vai tentar um diálogo com o presidente para ver a possibilidade de realização da sessão em memória da vereadora Marielle.

“Essa questão de isolamento é uma questão técnica, não é tão simples politizar esse debate porque envolve vidas humanas, envolve o contágio sem controle, envolve um país que não está preparado. Então, a gente tem que tomar um certo cuidado. Agora, o que eu acho que deveria ser feito? Uma seleção de coisas”, afirma o psolista, acrescentando que as reuniões do plenário, que tem mais de 500 parlamentares, também impõem riscos.

“Um ato pró-Marielle aqui é a mesma coisa que o plenário estar funcionando. Um deputado pode ter adquirido coronavírus mais do que um participante. Então, você suspende todas as atividades, por exemplo. Uma sessão como a da Marielle é muito importante, tem um impacto político, e aí a vedação pode ter um sentido mais político também”, argumenta.

Centrais sindicais

As medidas restritivas das duas casas legislativas provocaram reações da sociedade civil. Em nota conjunta divulgada nesta quinta-feira (12), nove centrais sindicais afirmaram que se colocam “na defesa de ações coletivas de prevenção à propagação do vírus e seus impactos sociais e econômicos”, mas defenderam que sejam suspensas também as discussões de propostas que retiram direitos trabalhistas.  

Eles mencionam como destaque a Medida Provisória (MP) 905/2019, conhecida como Carteira Verde e Amarela, que é debatida atualmente em uma comissão mista, formada por deputados e senadores. As sessões de análise da MP têm sido ostensivamente acompanhadas por membros da sociedade civil. No documento, as entidades propõem que haja um diálogo com a sociedade e o Congresso para definir as medidas a serem tomadas diante do avanço da doença no país.  

A nota é assinada por nove centrais sindicais: CUT, CTB, NCST, UGT, CGTB, CSB, CSB, Força Sindical e Intersindical.   

Outro lado

Na justificativa apresentada no ato oficial, o presidente da Câmara afirma que o objetivo é “formalizar os procedimentos e regras para fins de prevenção à infecção e à propagação do Covid-19 no âmbito da Casa, de modo a preservar a saúde dos deputados, servidores, colaboradores e visitantes”.  

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