Congresso reage a pronunciamento de Bolsonaro: “800 mortes depois, presidente enfim manifesta pesar”
“Poderia agir para evitar mais mortes”, completou o vice-líder do PCdoB, deputado federal Márcio Jerry (MA)
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Por Nathalia Bignon, para o 247 - Parlamentares reagiram com indignação ao novo pronunciamento de Jair Bolsonaro (sem partido) na noite desta quarta-feira (8). As maiores críticas ocorreram durante as falas em que o presidente tenta capitalizar ações positivas do combate ao coronavírus aprovadas pelo Congresso, em que afirma que o desemprego também leva à morte e ao defender, publicamente, o uso da hidroxicloroquina – ainda sem estudo comprovado – no tratamento da doença.
“Respeito a autonomia dos governadores e prefeitos. Muitas medidas de isolamento são de responsabilidade exclusiva dos mesmos. O governo federal não foi consultado sobre sua amplitude”, afirmou o presidente, depois de encenar uma série de episódios de críticas aos chefes dos executivos dos estados.
“800 mortes depois, o presidente Jair Bolsonaro enfim manifesta pesar. Poderia agir para evitar mais mortes. Mentiroso contumaz, hipocritamente gosta de fazer referência ao versículo bíblico ‘conhecereis a verdade e a verdade vos libertará’. É um homem preso em suas mentiras”, definiu o vice-líder do PCdoB, deputado federal Márcio Jerry (MA), citando que esta foi a primeira vez que o presidente demonstrou qualquer sentimento pelas mortes contabilizadas no país.
Presidente da Comissão de Direitos Humanos e Minorias da Câmara dos Deputados, deputado Helder Salomão (PT-ES) fez questão de ressaltar que a vitória sobre os R$ 600 liberados para os trabalhadores informais se deve ao Congresso Nacional. “Pronunciamento fake. Bolsonaro diz em Rede Nacional que governa e se preocupa com todos, mas se apressou pra socorrer os bancos e demorou pra socorrer os pobres. É sempre bom lembrar que ele e [Paulo] Guedes queriam pagar apenas R$ 200 de Renda Básica aos trabalhadores”, lembrou.
Citando a fala em que o presidente defende o retorno à normalidade para conter o caos na economia, a deputada Érika Kokay (PT-DF) chamou de irresponsabilidade o fato do presidente pregar orientações contrárias à Organização Mundial da Saúde (OMS). “Em pronunciamento oficial, Bolsonaro voltou a defender o fim do isolamento social. Pior, disse que mais pobres precisam arriscar a vida para sobreviver. Voltou a defender o uso de hidroxicloroquina, mesmo em fase de testes. Mencionou o pagamento dos R$ 600, que ele e Guedes queriam que fosse R$ 200”, resumiu.
O ex-ministro do Esporte, deputado Orlando Silva (PCdoB-SP) alertou para a insistência do mandatário em defender o uso de uma substância ainda não verificada pelos pesquisadores no controle da Covid-19. “Bolsonaro fez um pronunciamento para vender hidroxicloroquina em qualquer farmácia, boteco ou armazém de secos e molhados. É um irresponsável que contraria todas as práticas da ciência para fazer politicagem com um remédio”, definiu.
Marcelo Freixo (PSOL-RJ) criticou a falta de medidas reais e imediatas para conter a pandemia. “Espero que a ciência comprove a eficácia da cloroquina. Mas, por enquanto, falar em cura é mais uma irresponsabilidade do presidente. Em vez vender ilusão, Bolsonaro deveria garantir compra de ventiladores mecânicos, realização de testagem em massa e ampliação dos leitos de UTI”.
Divulgando os panelaços na cidade de São Paulo, a deputada Sâmia Bomfim (PSOL-SP) ironizou a continuidade das manifestações contrárias ao Governo. “Em São Paulo, como já é de costume, o discurso de Bolsonaro foi recebido de maneira efusiva”, referindo às dezenas de protestos já contabilizadas por todo o país.
O mesmo fez o líder do PSB, deputado federal Alessandro Molon (RJ). “A única coisa verdadeira do pronunciamento de Bolsonaro foi o som das panelas ao fundo. Mais uma vez, ele morde, depois assopra. Chega de brincar com o povo! As pessoas precisam de proteção pra vencer o coronavírus em isolamento, e não de abandono para forçar o retorno às ruas”, protestou.
Eleito pelo PDT, deputado Túlio Gadelha (PE) usou as redes para lamentar a postura do presidente. “O coronavírus deveria ser nossa principal preocupação. Mas está difícil competir com Bolsonaro. Nossa maior fonte de ansiedade, instabilidade e desinformação”, comentou.
No Senado, Humberto Costa invalidou discurso do mandatário. “Mais um pronunciamento mentiroso. Bolsonaro queria dar R$ 200 ao povo. Agora, vai à televisão falar dos R$ 600 propostos pelos parlamentares que não concordaram com a proposta do governo. Quanto mais ele fala, pior fica. A tinta da caneta acabou, Bolsonaro também”, definiu.
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