Bolsonaro recebeu fora da agenda deputado francês contrário a acordo UE-Mercosul

O deputado de extrema-direita francês Nicolas Dupont-Aignan, que foi candidato à presidente em 2017 - teve 5% dos votos - e pretende se candidatar de novo em 2022, esteve no Brasil para tratar de um relatório do Congresso francês sobre poluição nos oceanos

(Foto: Alan Santos/PR)


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BRASÍLIA (Reuters) - O presidente Jair Bolsonaro recebeu, na semana passada, o deputado francês Nicolas Dupont-Aignan, do partido de extrema-direita Debout la France, e um dos mais veementes opositores do acordo comercial Mercosul-União Europeia, comemorado pelo governo como um grande feito no ano passado.

Dupont-Aignan, que foi candidato à presidente em 2017 - teve 5% dos votos - e pretende se candidatar de novo em 2022, esteve no Brasil para tratar de um relatório do Congresso francês sobre poluição nos oceanos.

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Em meio ao tour, almoçou com o ministro das Relações Exteriores, Ernesto Araújo, que o levou para uma conversa de 15 minutos com Bolsonaro. O parlamentar foi também recebido pelo filho do presidente, deputado Eduardo Bolsonaro (PSL-SP), que é presidente da Comissão de Relações Exteriores da Câmara.

O encontro não constou na agenda do presidente e nem de Araújo, mas fotos dos três juntos estão na página oficial da Presidência da República. Além disso, Dupont-Aignan confirmou os encontros para a imprensa disse que “matou dois coelhos com uma cajadada” e que é necessário melhorar a relação diplomática entre Brasil e França.

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Procurado com questões sobre o encontro, o Palácio do Planalto não respondeu.

A relação diplomática entre os dois países está em crise desde a reação explosiva de Bolsonaro a críticas do presidente francês, Emmanuel Macron, à política ambiental de seu governo.

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No ano passado, Bolsonaro cancelou um encontro com o ministro das Relações Exteriores francês, Jean-Yves Le Drian, alegando conflitos de agenda. No momento em que deveria estar com o francês, fez uma live cortando o cabelo.

O deputado da extrema-direita francês é um dos maiores opositores do acordo comercial entre a União Europeia e o Mercosul, comemorado em 2019 como uma grande vitória pelo governo brasileiro. Em um blog que mantém e em entrevistas, ele afirma que o acordo terá um impacto significativo na vida dos franceses e é uma “ameaça democrática, ecológica, sanitária e socioeconômica”.

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“Os produtores do Mercosul aplicam padrões ambientais, sociais e de saúde extremamente baixos que inundarão o mercado europeu com produtos de baixa qualidade”, acusou Dupont-Aignan em seu blog. Além disso, diz, o mercado francês será inundado por produtos sul-americanos de qualidade baixa, prejudicando a produção local.

Eduardo Bolsonaro postou o encontro em sua conta no Twitter. “Partilhamos dos mesmo valores, enxergamos qualidades no nacionalismo e somos contra o globalismo”, escreveu. “Estes contatos nos fortalecem internacionalmente e nos fazem ter a certeza que mais e mais autoridades pensam semelhante a nós.”

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Em nota sobre a visita, a assessoria da Comissão de Relações Exteriores afirma que os parlamentares trataram de “conservadorismo, meio ambiente e livre comércio” e destaca que o deputado francês é contrário a ratificação do acordo UE-Mercosul, “mas não em razão da política ambiental brasileira”.

Não é o que Dupont-Aignan diz em seu blog.

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“Além de não respeitarem os compromissos do acordo de Paris sobre o clima, os países do Mercosul contribuem ativamente para o desmatamento de nosso planeta (Amazônia) e aplicam padrões ambientais abaixo de nossas exigências que repercutem na qualidade de produtos e que inundarão o mercado europeu”, escreveu.

O acordo UE-Mercosul foi aprovado em junho do ano passado, mas ainda precisa ser ratificado pelos países da UE e do Mercosul, o que ainda não aconteceu. Na UE, são crescentes os movimentos contra a ratificação, muitos deles usando como justificativa o aumento do desmatamento e das queimadas na Amazônia.

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