Assim funciona o inútil Senado

Jucá, Renan, Gim e Valdemar não queriam só dar um “recado” para Dilma, queriam controlar a ANTT. E Demóstenes é protegido



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O Senado deu mais uma demonstração, esta semana, de sua total inutilidade e do baixo padrão de boa parte dos senadores, que estão ali não para exercer condignamente um mandato e prestar um serviço público, mas para gozar de privilégios, benesses, mordomias e, claro, reforçar seus orçamentos domésticos. O Senado, hoje, graças aos senadores que o comandam, de direito ou de fato, é um sofisticado balcão de negócios regido pelo compadrio. Se fosse extinto, o país só teria a ganhar, sob todos os aspectos. Os recursos absurdos gastos pelo Senado certamente poderiam ser mais bem aplicados e a Câmara asseguraria a existência do Poder Legislativo.

Na semana que termina, os senadores deram mais dois bons exemplos de que são inúteis e agem com base em interesses particulares. Num dia, passaram a mão na cabeça do senador Demóstenes Torres, do DEM, apesar do claro, nítido e suspeito envolvimento dele com o conhecido Carlinhos Cachoeira. No outro, rejeitaram o indicado pela presidente da República para dirigir uma agência reguladora porque não se conformam em ter suas fontes de capital político e financeiro limitadas pelo governo e querem dominar os negócios do órgão.

O senador Demóstenes Torres, que procura cultivar uma imagem de vestal moralista e quer ser candidato a presidente pelo quase falido DEM, foi à tribuna se defender e justificar suas suspeitas relações com Cachoeira, que está preso. Fez um pronunciamento vazio e ridículo, chegando até a considerar normal que um senador seja íntimo e ganhe presentes caros de um notório contraventor e suspeito de inúmeros crimes. No final do discurso, recebeu tapinhas nos ombros e foi cumprimentado pelos colegas, que lhe manifestaram a solidariedade própria dos mafiosos que se protegem. Por comodismo, conivência, conveniência ou rabo preso, até senadores do PT silenciaram e confraternizaram com Demóstenes, que não poupa o governo federal de seus ataques.

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E boa parte desses senadores resolveu, em votação secreta, rejeitar a indicação de Bernardo Figueiredo para a direção-geral da Agência Nacional de Transportes Terrestres (ANTT). Aparentemente, os 36 senadores acataram as objeções levantadas pelo histriônico e truculento senador Roberto Requião, do PMDB, há meses em campanha contra Figueiredo. Requião, que goza de pouca ou nenhuma credibilidade entre os colegas, manipulou impunemente mentiras e relatórios do Tribunal de Contas da União e do Ministério Público que se referiam a período anterior à posse dele na ANTT.

Apenas aparentemente os senadores atenderam a Requião, claro, pois seria um feito histórico rejeitarem alguma indicação do Executivo por suspeita de prática de corrupção ou de ineficiência e desconhecimento técnico para a função. Pelo contrário: a prática do inútil Senado é fazer meras simulações de sabatinas primárias e aprovar até as indicações mais esdrúxulas, mas movidas pela politicagem e pelo fisiologismo. Houve um indicado para a ANTT, por exemplo, que disse que conhecia transporte terrestre apenas como usuário. De automóvel, claro. De trem, só se for na Europa.

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Figueiredo foi rejeitado por uma armação articulada, especialmente, pelo que deveria ser o maior defensor do governo no Senado, o líder Romero Jucá, do PMDB, auxiliado pelo também peemedebista Renan Calheiros, pelo petebista Gim Argello e pelo deputado Valdemar Costa Neto, presidente do PR. Todos vão negar de pés juntos, ajudados pela votação secreta e pela omertá em vigor naquele território perigoso ao norte da Praça dos Três Poderes.

Essa turma queria duas coisas. A primeira, como eles mesmos dizem, era dar um “recado” à presidente de que a famosa base aliada está insatisfeita, pois não tem emendas liberadas, nomeações concretizadas e ministérios concedidos, entre outros agrados que sempre esperam do governo para ficar ao seu lado nas votações. Dane-se o mérito das questões submetidas a eles, o que importa é demonstrar força e chantagear. Esse é o método da turma.

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A segunda coisa que Jucá e companhia queriam era controlar a ANTT, tirando de lá um técnico competente e ligado diretamente à presidente Dilma. Sem Figueiredo para atrapalhar os outros dois diretores (um indicado por Renan, outro por Gim) e o que ainda não foi aprovado pelo Senado, indicado por Valdemar, o caminho para a atuação da turma estaria livre.

Com o apoio de uma oposição que continua perdida e incompetente, e que ingênua e bobamente achou que estava confrontando Jucá e Renan, e não apenas Dilma, a turma conseguiu derrotar o governo e impedir a continuidade de Figueiredo. Mas não ganhou tudo. Deram o recado, e como o governo precisa do Senado, a chantagem pode ser relativamente bem-sucedida. Mas não vão conseguir controlar a ANTT, pois a presidente já busca outra indicação de sua confiança, vai trabalhar duro por ela e talvez retire a indicação do apadrinhado de Valdemar -- e assim os protegidos de Renan e de Gim não vão tomar o controle da agência. E para Bernardo Figueiredo, Dilma tem outro lugar no governo.

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E Requião, o acusador inclemente? Ora, qual a importância de Requião?

 

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