Agnelo busca apoio na Polícia Civil

Decisão de trocar o comando já havia sido tomada antes do vazamento de gravações, com o objetivo é aumentar a base política do governo na corporação. O ex-deputado Laerte Bessa é um dos novos aliados



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Noelle Oliveira_Brasília 247 – Na noite de terça-feira, o governador Agnelo Queiroz levou um susto ao ver, no DF TV, da Rede Globo, a gravação de conversas telefônicas que mostram sua proximidade com o soldado João Dias Ferreira, que denunciou um esquema de desvio de dinheiro público no Ministério do Esporte. As gravações haviam sido feitas pela Polícia Civil, com autorização judicial, na Operação Shaolin – que investigou os desvios no programa Segundo Tempo. Naquele momento, o governador resolveu antecipar uma decisão que havia tomado quase um mês antes: substituir a diretora da Polícia Civil por um delegado de sua confiança e que lhe possibilitasse ter mais controle sobre a corporação. Agnelo já sabia que a qualquer momento as gravações poderiam ser mostradas e reclamava, para assessores mais próximos, que a então diretora Mailine Alvarenga não tinha controle sobre os delegados e não estava sendo eficiente. O governador foi aconselhado a não fazer a mudança logo depois da reportagem e de sua repercussão nos jornais, pois a associação seria inevitável. Resolveu arriscar, porque não queria mudar os comandos da Polícia Civil apenas para controlá-la, mas para salvar seu governo. Os grupos contra ele na corporação estavam crescendo e isso poderia desestabilizar o governo. Nas substituições, o governador consolidaria o que vinha sendo acertado em conversas que alguns de seus auxiliares, como o chefe de gabinete Cláudio Monteiro e o secretário de Justiça, deputado Alírio Neto, vinham tendo há dias: um acordo com policiais e ex-policiais civis hostis a seu governo e que poderiam ser cooptados mediante uma nova divisão de poder na Polícia Civil. O novo diretor, delegado Onofre de Moraes, teria boas condições de garantir o cumprimento do acordo. Primeiro, por ser muito ligado a Cláudio Monteiro e Alírio Neto. Segundo, por ser considerado competente e respeitado na corporação. A Polícia Civil é extremamente politizada e dividida em grupos ligados a ex-governadores e delegados. Basta dizer que quatro deputados distritais são ex-policiais: o agora secretário Alírio Neto e Cláudio Abrantes, ambos do PPS; Wellington Luís, do PPL; e Dr. Michel, do PSL. Todos eles têm fortes ligações internas e há meses tentavam derrubar Mailine Alvarenga por considerá-la excessivamente técnica, pouca afeta às ingerências políticas. Mais que isso, não estava trazendo o resultado público que a corporação queria. Um dos grupos na Polícia Civil é liderado pelo ex-diretor Laerte Bessa (1999-2006), ex-deputado federal que ficou como suplente nas eleições de 2010. Bessa era ligado ao ex-governador Joaquim Roriz, mas rompeu com ele por se considerar prejudicado, na eleição, pela candidatura de Jaqueline Roriz. Em agosto do ano passado, Bessa foi ao Ministério Público Federal para obter informações sobre o inquérito que investigava os desvios no Ministério do Esporte. Ali afirmou que o então candidato Agnelo Queiroz falava mal da Polícia Civil, o que "não era justo". Bessa, agora, está com Agnelo. Entre os que chegam à cúpula da Polícia Civil estão o delegado João Rodrigues dos Santos, que assume como diretor-geral adjunto da corporação, e Mauro Cézar Lima, que comanda agora o Departamento de Polícia Especializada. Os dois escolhidos para esses cargos-chaves já foram aliados políticos de Laerte Bessa e continuam ligados a ele. Mas muitos policiais acham que as divisões na Polícia Civil continuarão, mesmo com alguns grupos, como o de Bessa, sendo atendidos pelo governo. O nível de instrução e de politização da classe policial torna a tarefa de controlá-la muito difícil, diz um policial. "Essa foi a ideia, mas não adianta mais, existem muitos grupos envolvidos", considera. As mudanças no comando não pararam nas 51 exonerações de quinta-feira (3). O Diário Oficial do DF de sexta (4) trouxe outras 17 exonerações e, em contrapartida, 30 nomeações. Doze dos nomeados haviam sido exonerados no dia anterior. As exonerações em massa assustaram a categoria. São comuns alterações dessa magnitude em trocas de governo, mas a atitude não tem antecedentes no DF em casos de reorganização de comando, conforme afirmou o Sindicato dos Delegados da Polícia Civil (Sindepo). Entre os indicados também aparecem nomes com forte perfil técnico. É o caso de Adval Cardoso de Matos, que assume a Corregedoria Geral. Ele foi adjunto do delegado Pedro Cardoso, que chefiou a corporação no governo de Rogério Rosso. Já o delegado-chefe da Delegacia de Falsificações e Defraudações da DPE será Júlio César de Oliveira Silva, que foi vice-presidente do Sindicato dos Delegados da Polícia Civil quando quem chefiava a entidade era Mauro Cézar Lima. O delegado Filipe de Moraes Maciel, que estava na Delegacia de Repressão a Roubos, também ganha destaque: será diretor do Departamento de Atividades Especiais. O governo do DF nega que a articulação motivada pelos vazamentos dos áudios e afirma que a mudança na Polícia Civil foi um ajuste natural do comando da corporação em um momento de movimentação grevista. Greve continua No governo, considerava-se que a delegada Mailine Alvarenga não estaria motivando a corporação. Juntou-se a isso a falta de habilidade para lidar com a greve da Polícia Civil, o que teria deixado o comando policial ainda mais suscetível. Não era ela, por exemplo, ela quem agendava a reuniões dos grevistas com a Secretaria de Administração para discutir a paralisação. A mudança de comando, no entanto, não vai mudar a postura da greve da Polícia Civil. A categoria está disposta a manter o movimento, mesmo após Justiça determinar que 70% dos agentes devam voltar ao trabalho. Para solucionar o impasse, seria necessário que Agnelo intercedesse perante o governo federal. Mas seus aliados avaliam que, no atual momento de crise, ele não tem força política para tanto. A manifestação dos policiais também é incapaz de provocar tamanha sensibilização. "É a maior crise que o sindicato dos policiais civis já viveu", considera um ex-membro da instituição. O movimento repercute na Câmara Legislativa. Os deputados oriundos da Polícia Civil, Cláudio Abrantes, Wellington Luiz e Dr. Michel decidiram interromper os trabalhos de votação na Casa até a resolução do impasse. "Vou manter essa posição, respeito a categoria e os seus questionamentos", considera Wellington. O parlamentar divulgou nota explicando aos policiais civis que sua relação como base do governo de Agnelo Queiroz não influenciam em sua postura perante a classe que o elegeu.

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