‘Acabou, Chorare’, o espírito de uma época

Documentário resgata época de ouro da MPB. “Vou mostrando como sou e vou sendo como posso. Jogando meu corpo no mundo, andando por todos os cantos e pela lei natural dos encontros, eu deixo e recebo um tanto”



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Expoente de uma das épocas mais proeminentes do cenário musical nacional, surge na Bahia e amadurece em um sítio no Rio De Janeiro um dos grupos mais importantes da história da MPB, os Novos Baianos.

Lançado e premiado (com o prêmio especial do júri e o voto do júri popular) no festival de Brasília em 2009, Filhos de João. O Admirável Mundo Novo Baiano tenta estudar e retratar o espírito de uma época. Em uma época marcada pela repressão e censura da ditadura militar, a musicalidade inventiva e o caráter libertador do grupo influenciaram e arrastaram multidões no seu encalço no embalo de hits como: ‘’Preta Pretinha e Besta é Tu’’.

Com um direcionamento visível para o Rock em seu primeiro disco, o grupo dá uma reviravolta musical a partir de um encontro com o grande João Gilberto e por causa desse contato, os jovens Moraes Moreira, Pepeu Gomes, Baby Consuelo, Paulinho Boca de Cantor entre outros, refizeram seu portfólio de influências e renovam a sua fórmula. E é por isso que o documentário se chama ‘’Filhos de João’’.

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Entre imagens de arquivo, em alguns momentos sob a mística ótica das antigas super-8 dando aquele ar caseiro e familiar, o foco fica por conta do período em que Os Baianos se instalaram no sítio em Jacarepaguá e a partir daí conceberam aquele que viria a ser um dos maiores discos da história da MPB: ‘’Acabou Chorare’’.

Dirigido com uma paixão palpável e com uma notória falta de recursos por Henrique Dantas, o documentário é notável por captar o espírito de uma época que os Baianos ajudaram a construir.

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Pontuado por depoimentos dos ex-integrantes, com exceção de Baby Consuelo que pediu uma quantia não acessível para o diretor, o documentário que levou 11 anos entre pesquisa e realização, estuda e adentra o panorama estético musical e filosófico da banda. E é satisfatório ver Moraes falar sem amarras das desavenças, das reuniões e das convergências criativas que moveram o sucesso do grupo.

E o carisma dos personagens retratados garante a empatia do público mesmo que você não curtisse o grupo e não caminhasse pela Av. Sete abaixo atrás do trio que levava Moraes e companhia.

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Como não se encantar com um grupo musical que assumia a sua raiz brasileira e gastava boa parte do dinheiro ganho para investir em uniformes e bolas para o Novos Baianos F.C.? E nesse momento, o documentário surge com outro ponto interessante, a paixão do brasileiro pelo futebol.

E percebemos que é totalmente sincero o sentimento de Pepeu ao falar que pensava em abandonar o grupo para viver de futebol. E também ao revelar momentos de ‘’intimidade’’ onde os integrantes fumavam seus baseados e divagavam sobre história, filosofia, música, futebol, paixões e tudo que viesse nas suas criativas mentes.

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Mais do que um simples documentário de trajetória, é um panorama da música brasileira nos anos 70 e 80 com um fundo político bem definido em uma época onde fazer música era perigoso.

Além da ausência de Baby, que é uma falta e tanto dada a importância do depoimento das visões de uma mulher sobre todo o contexto musical e temporal, é sentida a ausência de João Gilberto, como o diretor Henrique Dantas conta: “ Passei dez dias no Rio de Janeiro tentando entrevistá-lo, mas não consegui”, confirmando a fama de recluso de um dos cantores e compositores mais influentes e importantes do Brasil.

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Mas alguns convidados importantes recheiam de calor e sabedoria o documentário. Tom Zé, sempre controverso, dá um depoimento chave, onde fala sobre cultura, censura, liberdade de expressão e, principalmente, de música. Ele é uma espécie de corda que vai unindo os depoimentos e dando forma a esse mosaico de ideias e sentimentos.

E com um tom sutil, Dantas repele o tema do Fim. Fica a impressão de que a banda acabou porque o tempo, sempre implacável, passou. Como disse Pepeu Gomes: “Tínhamos muitas coisas ruins, mas prefiro me lembrar das boas’’.

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Assim como nós, que lembraremos as boas coisas que os Baianos nos deixaram e nos pegaremos com um sorriso no rosto ao final da exibição encantado com esses eternamente Jovens Baianos.

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