A ineficiência dos serviços privados de saúde
A ideia de que existe um sistema privado capaz de servir de referência de eficiência em relação ao SUS foi progressivamente se deteriorando
✅ Receba as notícias do Brasil 247 e da TV 247 no canal do Brasil 247 e na comunidade 247 no WhatsApp.
Falar da precariedade do sistema público de saúde no Brasil é rotina entre a população. Muitas vezes, o foco preferencial das críticas dado ao Sistema Único de Saúde, volta-se, e com muita razão, ao sistema privado de saúde, onde filas, falta de médicos e mau atendimento são problemas rotineiros.A ideia de que existe um sistema privado capaz de servir, inclusive, de referência de eficiência, em relação ao SUS foi progressivamente se deteriorando.
Em Brasília, a má reputação do sistema privado e a ocorrência de mortes por ausência de atendimento ou falta dos cuidados necessários em pacientes internados tem gerado a desconfiança do público. Muitos preferem se deslocar a São Paulo para fazer tratamentos de saúde ou até mesmo simples check ups médicos. Os donos dos hospitais de Brasília deveriam se perguntar porque isso acontece.
Apesar da decisão do STF proibindo a exigência de cheques caução para o atendimento médico, muitas clínicas particulares continuam com esta prática nefasta, desafiando a fiscalização e os princípios humanitários mais primários. Denúncias a respeito estão diariamente nos jornais, rádios, tevês e mídias sociais na internet.
Em fevereiro deste ano, um caso de suposto erro médico chamou atenção do Distrito Federal: Marcelo Dino, de 14 anos, morreu no hospital Santa Lúcia, na Asa Sul, após ter sido internado no dia anterior devido a uma crise de asma. Desde então, o pai do garoto, o presidente da Embratur, Flávio Dino, luta para esclarecer as circunstâncias da morte do filho e ao mesmo tempo usar o episódio como forma de chamar atenção para a necessidade de maior controle externo do padrão de qualidade dos hospitais e clínicas do Brasil.
Transformou seu sofrimento em proposta concreta e merecedora de aplausos no sentido de poupar vidas. Dino oficializou um pedido ao CNJ (Conselho Nacional de Justiça) para que lidere uma campanha nos tribunais pela criação de varas especializadas em saúde, assim como já existem varas e juizados de trânsito, da mulher, da criança e do adolescente, do meio ambiente, etc.
Temos hoje mais de 250 mil processos tramitando na Justiça sobre saúde. Se você é vítima de mau atendimento a quem deve recorrer? À polícia? ao Procon, como quando temos um celular ou uma geladeira na garantia que não funciona ? Não se trata disso.Você está na fronteira entre a vida e a morte, ali, precisando de um atendimento e não tem a quem recorrer.
O esforço feito por muitos brasileiros para pagar um plano de saúde não pode ser retribuído com má qualidade em assistência de saúde. Com a ampliação da nova classe C, mais pessoas puderam comprar planos de saúde. Apesar de positivo o fato fez com que as carências do sistema privado ficassem mais evidentes. Hoje temos praticamente uma equiparação do sistema público com o privado em ambos os sentidos.
Nos dois existem instituições de excelência, de referência mundial, que inclusive são orgulho para o povo brasileiro. Tanto no público como no privado, temos instituições que não cumprem seus deveres básicos de garantir que danos não sejam produzidos nos pacientes e que no caso de mortes evitáveis, elas não ocorram.
É necessário mudar o modo como essas redes privadas se organizam. Combater a desumanização, a mercantilização, o tratamento da morte apenas como estatística. O ser humano é mais que isso e merece respeito. Não podemos pagar por um plano de saúde durante anos e ao chegar ao hospital, como aconteceu outro dia comigo no Hospital Anchieta, em Taguatinga, ser informado que naquele dia não havia médico cardiologista para atender minha esposa numa crise de pressão alta.
A esse respeito entrei com pedido de punição exemplar junto a Agência Nacional de Saúde - ANS. E me pergunto se trará resultados. Ao contrário de outras agências reguladoras como a ANEEL que aplica altas multas aos infratores da área de energia elétrica, não temos conhecimento de punições por parte da ANS a respeito dos inúmeros casos de mau atendimento de pacientes pelo sistema privado de saúde em Brasília.
E o que é pior é que em muitos destes casos os hospitais responsáveis faltam à etica médica e depois tentam esconder a verdade dos fatos sobre mortes ocorridas em suas dependências. Como é possível que uma UTI pediátrica fique entregue a apenas a uma auxiliar de enfermagem, que segundo o presidente da Embratur, foi o que ocorreu quando seu filho morreu no Hospital Santa Lúcia após 10 minutos em crise respiratória aguda, um dia após entrar no hospital ?Quando a médica e os equipamentos necessários para socorre-lo chegaram já era tarde demais.
Nunca vi o Conselho Regional de Medicina se posicionar a respeito do mau atendimento em hospitais privados, mas estão sempre prontos para criticar o sistema público de saúde, e fechar Unidades de Pronto Atendimento - UPAs, como ocorreu há dois meses, em Samambaia.
O proprietário do Santa Lúcia e do hospital Anchieta, o senhor José do Patrocínio Lea,l exerce o monopólio sobre a saúde de Brasília, sendo dono de outros quatro hospitais e clínicas no DF. Mesmo assim trabalha com funcionários terceirizados, o que é considerado ilícito por súmula do TST, em dupla ou tripla jornada e em número insuficiente.
Nós somos a sexta economia do mundo, então o sistema público pode funcionar melhor. Estamos lutando pra isso. E o sistema privado que não depende de recursos públicos por que não funciona melhor? Não tem lucro? É lógico que tem, basta olhar a constante ampliação dos prédios, a lucratividade dos planos de saúde. Os maiores planos de saúde estão entre as maiores empresas do Brasil. Então não é falta de dinheiro, é falta de gestão e compromisso humanitário, acima de tudo. Isso tem que mudar !
Dep. Chico Vigilante. Líder da Bancada PT/PRB
Assine o 247, apoie por Pix, inscreva-se na TV 247, no canal Cortes 247 e assista:
Comentários
Os comentários aqui postados expressam a opinião dos seus autores, responsáveis por seu teor, e não do 247