A época do xadrez fora de época
O quadriculado virou sinnimo de modernidade e estilo. Jonatas, que adora a estampa, comemora o fato de ela no ser mais sinnimo de festas juninas
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Natalia Emerich_Brasília 247 – Considerado cafona por décadas, o xadrez virou mania de roqueiros nos anos 90 e agora é tendência. Está nas vitrines e nos guarda-roupas. A estampa, agora em modelos e cores variados, agrada de conservadores a despojados que fazem questão de andar na moda.
De quadriculados, Jonatas Oliveira, 13 anos, tem aproveitado a onda. Adepto do xadrez desde pequeno, o estudante cresceu ouvindo piadas de amigos. "Eles diziam que as minhas roupas eram de caipira e que ainda não era junho – mês das festas juninas", lembra. Jonatas não começou a usar a estampa por opção, ganhava as roupas de aniversário e tinha de vesti-las. De tanto usar por obrigação, tomou gosto pelo estilo. "Tenho tênis e camisas de cores e modelos variados." E a melhor parte, não desfila mais sozinho. "Agora a maioria dos meus amigos usa e aprova", comemora.
A satisfação de Jonatas em ver os colegas vestirem o mesmo estilo de roupa traduz parte da explicação sobre a vinda do xadrez para a cultura brasileira. Segundo o coordenador do curso de Design de Moda do Centro Universitário Iesb e consultor de moda Marco Antônio Ramos Vieira, a força do xadrez está ligada ao movimento grunge americano dos anos 90, a exemplo das bandas Pearl Jam e Nirvana. "As pessoas passaram a se vestir como os roqueiros para se firmar na tribo", afirma Vieira. "Até hoje a aparência é usada para criar a sensação de pertencimento a um grupo."
O xadrez passou do mundo do rock para todos os estilos. Faz o tipo clássico, alternativo, fashion e cai bem para todas as idades. "A estampa tem certa graça, pois trabalha com ritmo visual e mistura de cores", explica o professor. Não é à toa que o quadriculado ganhou mais cores, cortes diferentes, modelos variados e saiu da tradicional flanela para outros tecidos.
Além das camisas
Líbia Pereira Lopes, 31, coleciona peças xadrez. A auxiliar administrativa, que hoje desfila com saias, blusas e calças estampadas, conta que nem sempre foi assim. "Gostava do estilo, mas usava o que as minhas amigas gostavam", desabafa. "Hoje, com a maturidade, me sinto mais autêntica e uso o que me deixa feliz." Ela conta que o xadrez ganhou espaço até na gaveta de roupas íntimas.
O xadrez, de fato, invadiu as lojas de lingerie. Na Any Any do Conjunto Nacional, além de calcinhas e sutiãs, os pijamas trazem modelos com as combinações de quadrado. "Sempre vendemos pijamas de flanela, mas agora é possível achar a estampa em outros tipos de tecido, como a viscolycra", diz a gerente da loja, Moziangela Campos. "Antigamente os consumidores resistiam ao xadrez, hoje é mais uma opção de venda."
Além das roupas, a padronagem personaliza acessórios e sapatos. Na City Shoes, por exemplo, as sandálias, sapatilhas e tênis vão embora rapidinho. "As numerações acabam logo", explica a gerente, Célia Carvalho. Segundo ela, o sapato xadrez sempre foi considerado um item de estilo. O consumidor que o procura é mais alternativo, gosta de se destacar.
Com a moda, o estudante e dançarino de break – variação da dança de rua – Emerson David de Oliveira, 16, passou a encontrar mais opções. "Sempre usei xadrez, desde que comecei na dança a galera já fazia o estilo." O lado ruim, diz ele, é que agora paga mais pelas peças: "Até quem não curte está usando, as coisas ficaram mais caras".
Na visão de Marco Antônio Vieira, todo movimento que nasce dentro de um universo alternativo tende a ser domesticado pela indústria da moda. "Uma vez que a tendência é incorporada, as pessoas passam a usar tanto que deixa de ser estranho." O xadrez, assim, virou produto de consumo padrão.
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