3 funções da arma de fogo no Cinema
Acabar imediatamente com os conflitos, aterrorizar pessoas inocentes e fazer lobby inconsciente da indústria bélica: a pistola e a metralhadora entram em cena
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Luzes da Cidade (1931) é um filme cheio de idéias. Ao longo dos seus 127 minutos as coisas mais inusitadas acontecem, as possibilidades mais insuspeitas se materializam do nada. Vemos ali mil artifícios de enredo e zilhões de variações de estilo, partindo de uma simples premissa: um homem rico fica fanfarrão e perdulário depois de bêbado; e uma florista cega acredita que um sujeito ordinário (Chaplim) é esse milionário.
Só depois de 72 minutos surge uma arma de fogo. É só mais um dos artifícios do enredo, mas convém lembrar as circunstâncias. Está rolando uma cena lírica, em que o bêbado perdulário, que quando bebe vira o melhor amigo de todo mundo, deslumbra o vagabundo com suculentas notas de cem: “Quer mil pratas?”, exulta, enchendo a mão do outro, e nós exultamos junto.
De repente a cena fica sombria. Cessam os violinos e sobe um som de tambores fantasmagóricos: há no chão uma arma. Alguns ladrões estiveram ali mais cedo e deixaram aquele objeto sinistro – isso fica subentendido. Chaplin pega a arma do chão e a olha intrigado. O bêbado fica assustado e desolado. Também um pouco desconfiado. A música agora fica tensa. Ficou um climão. Os ladrões reaparecem. Houve um trauma.
A arma de fogo foi um dos subterfúgios bolados pelo gênio de Charles Chaplin - há muitos outros, como telegramas extraviados, esquetes de legítimo pastelão com pessoas alegres e desajeitadas em bares e danceterias, bastidores de lutas de boxe e brigas de rua, hipotecas que estão para ser vencidas, transeuntes furtivos que se esbarram pelas ruas. E, eventualmente, um objeto perigoso. Acredito que quase todo mundo que escreve roteiros fica tentado a, de algum jeito, enfiar uma arma de fogo na trama. É, para usar a linguagem dos jogos de cartas mais altas, uma espécie de super trunfo. Uma kryptonita, um bônus que faz com que alguém seja um humano super poderoso, capaz de, com um movimento simplório do dedo, explodir a cabeça de outro ser humano. Ou, não por isso, qualquer cabeça.
“O conflito é o parâmetro básico de todas as coisas” (fragmento 53 de Heráclito). Só o conflito traz o desequilíbrio e por fim o movimento. Quem cria histórias sabe disso. Numa história deve acontecer alguma coisa. Que essa coisa pareça real, é mérito de quem escreveu ou filmou história, porque provoca mais calafrios, fala melhor e mais alto aos abismos que levamos dentro.
Uma arma de fogo sempre será uma arma de fogo. Creio que qualquer cidadão normal sente-se constrangido quando há uma arma por perto, como ficou o bêbado que fora vítima dos ladrões no filme de Chaplin. Mas essa noção parece ter se evaporado. Nos filmes é normal ter armas, e elas parecem de brinquedo. Quando alguém morre, vítima dessas coisas nefastas, também parece uma morte de brincadeira.
Vamos então falar da arma: ela está em cena, e não só em filmes de polícia, mas também nas comédias açucaradas e nos lançamentos para a família. O que faz pensar na função dessas coisas. Três possibilidades:
1. Acabar imediatamente com os conflitos
Em Videologia, Maria Rita Khel constata a banalização desse tipo de violência: “Vamos nos acostumando à violência, como se fosse a única linguagem eficiente para lidar com a diferença; vamos achando normal que, na ficção, todos os conflitos terminem com a eliminação ou a violação do corpo do outro.” Em forma de sátira, Postal (2007) leva a idéia ao paroxismo com cenas absolutamente gratuitas: um guarda estressado aborda uma senhora no sinal de trânsito e sem nenhum motivo dá um tiro na cara dela com uma escopeta; numa repartição pública cheia de gente, um louco saca uma arma e começa a atirar nos outros (atrás do vidro blindado, a atendente age como se nada incomum estivesse ocorrendo); terroristas invadem uma festa e metralham indiscriminadamente idosos, mulheres grávidas, toda e qualquer pessoa; ao som de uma trilha de aventura, crianças são baleadas com efeitos realistas que mostram o impacto da bala e o sangue jorrando; um tiroteio no meio da rua, onde todos os personagens – que sobraram vivos – dão tiros uns nos outros a céu aberto, e arrebentam pernas, braços e cabeças; e por fim um sujeito que toma um tiro no pau e morre blasfemando: “odeio videogames.”
O mesmo expediente foi usado em As Stripers Zumbi (2008). Espécie de paródia macabra de filmes de mortos-vivos, é ambientado num puteiro surrealista infestado por um vírus: lá também as pessoas se matam como se fosse algo corriqueiro; há cadáveres no chão, mas ninguém liga para isso; as danças sensuais continuam; os drinks são servidos; lá pelas tantas uma equipe especial do exército entra no lugar matando todo mundo, inclusive os mortos-vivos; uma mulher é metralhada dos pés à cabeça, até sobrar no chão um monte de carne moída; e, claro, os últimos sobreviventes são constrangidos com armas na cabeça (quantas vezes já vimos isso?)
Há muitas outras sátiras nesse sentido. Mas pense, por exemplo, num filme realista. Um filme cujo realismo é supostamente uma de suas qualidades, como Tropa de Elite 2 (2010): depois de um tiroteio também no meio na rua, com os caveiras fuzilando favelados de bermuda e chinelo, há um interrogatório; arma na cabeça e suspeito asfixiado; chegam uns polícias mais barra pesada e o matam a tiros; um oficial corrupto diz ao oficial correto – que só espanca e asfixia: “Peninha de vagabundo?” Há um conflito de autoridade e quando o personagem Matias se vira para ir embora, é baleado na nuca. Seu amigo fica chocado por alguns segundos e pergunta, incrédulo: “Você matou ele, porra?” O outro não é exatamente um exemplo de carinho: “Vai acender velinha pro caveira, porra?”
A morte de Matias será vingada. Ao final do filme, enquanto o Capitão Nascimento faz asserções algo moralistas sobre o sistema – o que quer que venha a ser isso – vemos o assassino de Matias devidamente assassinado com um tiro na cabeça. Por sinal, o filme também termina com um morticínio de milicianos, traficantes, policiais corruptos e pessoas inocentes. Mas Tropa de Elite é um filme sério, e talvez convenha um exemplo mais irreverente: na Cidade de Deus (2002) de Fernando Meirelles armas são distribuídas às crianças sem o menor problema. Zé Pequeno, como um tiozão gente fina, abre um baú cheio de presentes: são armas. A diversão é ir para rua dar tiros nos outros (no livro de Paulo Lins isso é ainda mais evidente). Ao final, claro, Zé Pequeno será alvejado por pivetes que gritam “ataque soviético!” Antes já baleara outro bandido que estava enchendo o saco, falando muito perto do seu ouvido.
Senão, pense numa comédia como Quero Matar Meu Chefe (2011): nela, três amigos decidem assassinar seus superiores no trabalho (por motivos como “minha chefe - Jennifer Aniston – insiste em fazer sexo comigo.”) De repente há uma informação extraviada, um marido ciumento, e pronto. O personagem de Kevin Spacey, um dos chefes, vai até a casa de outro chefe – que já fazia hora extra na história - e o mata com tiros a queima roupa. No final, o mesmo Kevin Spacey, que fora chantageado, aterroriza os três amigos com uma arma. Chega a polícia, que aponta armas para todo mundo. Há depois uma papagaiada que valei-me-pai.
Outra comédia prosaica, como Uma Noite Fora de Série (2010), se vale da arma para criar e liquidar conflitos sem o menor discernimento: um casal de meia idade está entediado e resolve sair para jantar e ter uma noite diferente. São confundidos com outro casal no restaurante e depois se metem em confusões – claro, com pessoas armadas. Alguém puxa um revolver carregado no beco. O comediante Steve Carell olha para aquilo encharcado de adrenalina. Será mesmo uma noite hilária, com todas essas pessoas carregando coisas tão perigosas.
Isso é sutil, aos poucos. Ainda segundo Khel, “com a exposição repetida às representações da violência, tendemos a nos habituar e tolerar cenas que nos horrorizariam há dez anos, há vinte anos.” De fato, um filme como Machete (2010) leva a violência ao extremo do capricho estético. É uma brincadeira divertida com mortes estrambólicas e decepamentos cinematográficos, onde diálogos mínimos precedem longas chacinas e metralhamentos. O roteiro versa sobre migração de chicanos para os Estados Unidos e não oferece, além da bala, nenhuma idéia. Distrito 9 (2009) é outro filme pessimista nesse sentido: passado na África do Sul, mostra a intolerância racial em forma de alegoria. Lá os conflitos também são resolvidos a bala.
Viveremos num mundo mais intolerante? É claro que a arma de fogo sempre foi um engenhoso objeto cênico, mas terá se banalizado? Em tempos de guerra, só o que vemos pela frente é morte: “Kemmerich está morto. Haie Westhus agonizante; terão no dia do Juízo Final um trabalho hercúleo para recompor o corpo de Hans Kramer, dilacerado por uma granada; Materns não tem mais perna; Meyer está morto, Berger está morto, Hammerling está morto; cento e vinte homens jazem por aí cheio de tiros; é uma desgraça, mas o que temos a ver com isto, uma vez que estamos vivos?” O trecho de Nada de Novo no Front, petardo antibelicista de Erich M. Remarque, lembra o que ocorre quando muita gente armada se encontra para discutir geopolítica (o livro conta a história de soldados nas trincheiras da Primeira Guerra).
Não vivemos hoje uma guerra mundial declarada, mas nos filmes é comum esse tipo de chacina: o espaço civil é aos poucos militarizado. Ou: o capitalismo coloniza o inconsciente. Pensem num filme como A Origem (2010), especulação de aventura sobre os sonhos. Entre maneirismos de câmera e enredo, o atormentado Leonardo Dicaprio entra nos sonhos alheios e é perseguido por pessoas com metralhadoras. Veja bem, grande parte do filme é devotada a esse tipo de perseguição, que já vimos mil vezes. Houve uma divergência de interesses e boa parte da energia da história é despendida em cenas de perseguição, onde pessoas armadas correm dando tiros atrás de outras pessoas.
Naturalmente: o mundo pós-moderno, de que nos fala Stuart Hall e outros teóricos, é profundamente marcado pela ruptura, pela descontinuidade; as relações tornaram-se velozes e superficiais; é normal trocar de emprego, de família; os direitos individuais afloram; comédias românticas versam sobre canalhas que terminam relacionamentos por mensagens de texto; muitas vezes, a maneira mais simples de resolver um problema é com uma arma - há, em O Albergue (2005), um site secreto que disponibiliza sessões de tortura e assassinato. Roteiristas e cineastas retroalimentam a fantasia. Porque é natural. Porque é fácil.
Filmes como Luzes da Cidade ou Ponto Final (2007), em que a arma aparece de modo sorrateiro, insidioso, cheirando a pólvora, provocando os mais cabeludos instintos assassinos, vão ficando raros. As terríveis conseqüências morais e filosóficas do homicídio vão ficando de lado (quantas páginas o protagonista de Crime e Castigo levou para expiar o sentimento de culpa após ter assassinado uma velha?) E a arma-fetiche, a arma que mais parece um brinquedo, vai se multiplicando. Os conflitos são engendrados e resolvidos dessa forma: com armas. E assim adolescentes ficam cada vez mais entediados com filmes onde as pessoas “só conversam.”
Uma arma de fogo garante que qualquer conflito seja liquidado de forma imediata. É razoável imaginar que a proliferação desses objetos nos filmes seja conseqüência direta de uma sociedade imediatista. Tal imediatismo (maneira direta no proceder, sem mediações nem rodeios) seria apenas uma das muitas patologias catalogadas por um eventual estudo de psicologia histórica. É o que se observa em Tiros em Columbine (2002), cuja idéia central é auto evidente: os Estados Unidos são o país com mais armas no mundo. E com um número de assassinatos dez vezes maior que qualquer outro país desenvolvido. Ora, liquidar conflitos através da bala, sem os entreveros e as sobremaneiras do regimento diplomático, é o que vem fazendo os Estados Unidos há muitos anos. Não invadiram o Iraque sem o aval da ONU, por exemplo?
2 – Aterrorizar pessoas inocentes
Fustigar um inocente com uma arma é uma covardia que você já deve ter visto algumas vezes no cinema. Base-Moi (2000), filme francês bem baixaria, se vale do recurso: duas gatinhas saem pela noite dando amassos nos garotões e depois metem bala neles. Sem motivo ou razão aparente. Em Doce Vingança (2010), uma mulher é seviciada por vários homens armados, e no final há de matá-los, esteticamente falando. Mas se a pauta é pessoas atormentadas, cabe a sinopse de um objeto cultural chamado Os Renegados do Diabo (2005). Conflito: “Determinado em vingar a morte do irmão, o Xerife John Wydell e um grupo de polícias fortemente armados cercam a casa da família Firefly.” Desenvolvimento: “Durante um intenso tiroteio, Otis (Bill Moseley) e a irmã, Baby (Sheri Moon Zombie), conseguem escapar ilesos. Foragidos, Otis e Baby juntam-se ao pai, o Capitão Spaulding, matando tudo e todos que se atravessam (sic) no seu caminho.” Conclusão: “Mas o Xerife Wydell está determinado em fazer justiça pelas próprias mãos… e uma carnificina de proporções épicas está iminente.”
Gostaria de chamar atenção para a frase “matando tudo e todos que se atravessam no seu caminho.” De fato: os personagens são pura e simplesmente pulsão de morte. Não bandidos que querem roubar ou dar golpes, mas simplesmente matar. Fazem reféns não para assaltá-los, apenas matá-los. Antes, os constrangem com grandes pistolas, metendo as armas nos lugares que você está imaginando, sexualizando o objeto ao estilo freudiano. Depois de longos minutos de tortura, sentem-se enfastiados: quem vou matar agora?
Um certo oficial nazista já teve a mesma dúvida em A Lista de Schindler (1993), observando os cativos judeus que trabalhavam como gado e em breve seriam conduzidos aos fornos de cremação. Numa guerra, a vida não vale nada. O outro não existe. Nessa altura do campeonato, “o próximo não é somente um possível auxiliar e objeto sexual, mas uma tentação para satisfazer nele a agressão, explorar sua força de trabalho sem ressarci-lo, usá-lo sexualmente sem seu consentimento, despojá-lo do seu patrimônio, humilhá-lo, infligir-lhe dores, martirizá-lo e assassiná-lo.” O bagulho é tenso e foi escrito por Freud em 1930 no ensaio O Mal Estar na Civilização. Apareceu só um ano antes de Luzes da Cidade, abrindo uma década intolerância racial e depressão econômica. Matava-se gente a rodo naquela época.
Mata-se ainda hoje, e por motivos igualmente torpes. Mas se um adolescente frustrado tem acesso a uma arma de fogo, é capaz de a sociedade sair do episódio traumatizada. Fiquem sabendo que “O Movimento Viva Brasil não apoia nenhum tipo de campanha que tenha por objetivo o desarmamento da população civil, tendo em vista o entendimento de que tais campanhas em nada contribuem para a redução da criminalidade, não trazendo, pois, mais segurança para a população.”
Constranger gente inocente pode ser coisa de cineasta cabeça, claro: em Laranja Mecânica (1971), de Stanley Kubrick, o protagonista se diverte com sessões de ultra violência ao som de Beethoven. Assassinos por Natureza (1994), de Oliver Stone, traz um casal de psicopatas que dá tiros nos ciclistas que pedalam nos acostamentos. Elefante (2003), também sobre o massacre escolar de Columbine, mostra adolescentes hipnotizados por armas, e o final já se conhece. Invadir um espaço e instalar nele a matança virou recurso de muito diretor respeitado: não bastasse Michael Haneke ter feito Violência Gratuita (1997), sobre psicopatas armados que aterrorizam uma família, refez o mesmo filme dez anos depois – Violência Gratuita (2007) – sobre a mesma coisa, do mesmo jeito. É muita gente aterrorizada. Estaria Haneke sem idéias? Não estaria na hora de rever os clássicos?
3. Fazer Lobby inconsciente da indústria bélica
Prestem atenção ao parágrafo abaixo: é o trecho de uma matéria da revista ALFA sobre o jogador de futebol Neymar, do Santos (no momento em que escrevo).
“Perguntamos sobre os seus hábitos de beleza. Ele me disse, em outra ocasião, que raspa as pernas, usa hidratante e vai sempre ao cabeleleiro ajeitar o moicano. Desta vez, porém, Neymar desconversa: “Tomo banho e saio.” ALFA insiste em saber quais produtos ele usa, mas o gerente de marketing da equipe da Vila Belmiro, Eduardo Dutra, se adianta: absolutamente nenhuma marca poderá ser mencionada, avisa. Qualquer endossamento é uma oportunidade de ganhar dinheiro desperdiçada.”
Como um jovem atleta repleto de visibilidade, Neymar é um outdoor valioso e não faz propaganda de graça. A mesma coisa vale para as estrelas de cinema: figurino e cenografia de um grande lançamento são pensados para atingir o alvo de maneira específica; O enquadramento, sempre intencional, lembra que os objetos têm função na história. E é um detalhe auspicioso para a indústria bélica que seus produtos tenham tão fotogênicos consumidores. Imaginemos qualquer outro objeto: Tom Cruise, sob o sol escaldante do Caribe, junto com uma loira seminua, segurando um cortador de grama. Brad Pitt, no pôster do último filme do Tarantino, portando um saca-rolha. Wagner Moura invadindo uma favela a brandir dentaduras. Ou Daniel Craig dissuadindo o terrorismo no mais recente 007 com exemplares de 20 Passos Para a Paz Interior – Com Deus, Consigo e Com o Próximo, do padre Reginaldo Manzoti.
Os fabricantes desses produtos não ficariam nada infelizes se tal fantasia se materializasse. Mas é mais ou menos que ocorre todo dia com armas. Ídolos populares aparecem com elas o tempo inteiro. Não importa, aqui, mostrar especificamente alguma marca – embora muitas vezes isso aconteça. Importa a arma como conceito, como objeto socialmente aceito, como recurso tolerado e até mitificado. Imagino que muito desse processo, de tão super utilizado, ocorra num plano quase inconsciente. De modo que enquadrar uma arma é algo que o cinema faz desde o início. Há uma cota anual de filmes de “polícia e bandido”, e sempre veremos nas histórias esses objetos perigosos.
Breton escreveu que “Desde o instante em que toma seu lugar até o momento em que mergulha em uma ficção se desenvolvendo ante seus olhos, [o espectador] atravessa um ponto crítico tão imperceptível e cativante quanto o que une os sonhos e a vigília.” Ou seja, cinema é inconsciente coletivo em estado bruto. É puro sonho.
O enquadramento recorrente da arma mais parece uma espécie de lobby inconsciente da indústria bélica. Um minuto no horário nobre da Globo já é uma graninha, agora imaginem o lançamento de um filme em circuito internacional. Acrescente ainda o rol de filmes sobre pessoas que fazem justiça com as próprias mãos, prescindindo da polícia, como os Reis da Rua (2008), Sentença de Morte (2007) ou Valente (2007). A relação dialética entre armas nas telas e armas nas ruas é objeto que a sociologia pode averiguar, mas a noção de que os roteiristas muitas vezes usam o recurso de forma de excessiva parece evidente se avaliarmos os exemplos citados. Há outros. Melhor para o fabricante, já que o objeto do fetiche fica em evidência.
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