17 anos do Massacre dos Carajás

Temos a obrigação de debater a questão agrária e a violência no campo para buscar a resolução de conflitos de forma não violenta



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A Atualidade da Luta pela Reforma Agrária

* Arlete Sampaio

Este ano o Distrito Federal realizará a I Semana Distrital de Luta pela Reforma Agrária e de Disseminação de Formas Não Violentas para a Resolução de Conflitos, instituída pela Lei 5.071/2013, de minha autoria.

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O objetivo da Semana é desenvolver atividades para debater a questão agrária, proporcionar reflexões sobre formas de prevenir a violência no campo, construir espaços de diálogo, firmar acordos e promover uma cultura de paz.

A escolha da realização da semana no dia dezessete de abril é uma forma de rememorar o Massacre de Eldorado dos Carajás, ocorrido em 17 de abril de 1996. Com efeito, as dezenove castanheiras queimadas, que foram colocadas na curva do S, onde ocorreu o massacre, em Eldorado dos Carajás, representam não apenas as dezenove vítimas fatais da sangrenta ação executada pela PM do Pará, mas também suas famílias, companheiros sobreviventes e trabalhadores que tombaram em outros massacres, chacinas e emboscadas, em 500 anos de história de nosso País.

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O fato, ainda latente em nossa memória, impõe-nos a obrigação de debater a questão agrária e a violência no campo para buscar a resolução de conflitos de forma não violenta. De fato, a luta pela Reforma Agrária no Brasil, que ganhou mais visibilidade com a criação do Movimento dos Trabalhadores Rurais Sem Terra (MST), no início dos anos 80, é uma resposta à histórica concentração da propriedade da terra em nosso País e aos conflitos decorrentes dessa realidade.

A reprodução da violência no campo também se deve à impunidade dos agentes que cometem os crimes: os 155 policiais militares executores diretos do Massacre de Eldorado dos Carajás foram absolvidos e o então Governador do Estado do Pará, Almir Gabriel, e seu Secretário de Segurança Pública, Paulo Sette Câmara, não foram sequer indiciados por terem determinado a execução da ação. Na verdade, apenas dois comandantes – o coronel Mário Colares Pantoja e o Major José Maria Pereira de Oliveira – foram condenados.

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O Massacre de Eldorado dos Carajás evidencia o despreparo dos agentes estatais para lidar com os problemas sociais, em especial com os conflitos no campo, além de expor a morosidade e a ineficiência da Justiça, a falta de instrumentos para realizar mediação de conflitos e ações públicas efetivas de combate à violência no campo.

Embora o art. 184 da Constituição Federal de 1988 determine a desapropriação de imóveis rurais que não cumpram sua função social, a efetivação desse direito pelo Estado ainda não foi capaz de alterar a estrutura fundiária do País, seja pelos entraves burocráticos que enfrenta, pelos impasses judiciais, ou pela força dos interesses do agronegócio, dentre outras razões.

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No Distrito Federal, apesar da proporcionalmente pequena área rural diante da magnitude do funcionalismo público, a luta pela terra sempre esteve presente nas reivindicações dos movimentos sociais, seja pela proximidade com o Poder Público Federal, seja pela possibilidade que a reforma agrária representa de superar a pobreza rural.

Atento a essas reivindicações, o Governo Distrital tem adotado, desde o ano passado, algumas medidas que já começam a gerar os primeiros resultados. Exemplo disso é o diálogo estabelecido entre o GDF, a Ouvidoria Agrária Nacional e os movimentos sociais ligados ao tema, entre outras instituições – o que proporcionou a resolução pacífica de conflitos em reintegrações de posse determinadas pela Justiça.

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Outras medidas positivas foram a criação pelo GDF do Fórum Distrital de Políticas de Reforma Agrária e a implantação do Programa de Assentamento de Trabalhadores Rural – PRAT, instituído pela Lei 1.572/1997, efetivado por meio da nomeação dos Conselheiros do Conselho de Política de Assentamento. O GDF ainda estabeleceu parcerias com o INCRA e criou, na TERRACAP, a Diretoria Extraordinária de Regularização de Imóveis Rurais, entre outras ações.

Além disso, o Executivo Distrital, por meio da SEDEST, trabalha para facilitar o acesso das famílias assentadas no DF às políticas sociais, como o Programa Bolsa Família e o Minha Casa, Minha Vida Rural. Investe, ainda, em políticas distritais, como o DF Sem Miséria e o Programa de Aquisição de Produtos da Agricultura (PAPA).

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O Ministério Público e a TERRACAP, em 2006, firmaram entre si o Termo de Ajustamento de Conduta 018/2006, voltado à regularização ambiental das terras públicas do DF, com medidas destinadas a fiscalizar e a garantir a função socioambiental da propriedade rural. Trata-se de termo de observância obrigatória, que constitui importante instrumento para regularização fundiária e para exigência do cumprimento da função socioambiental das terras públicas do DF.

Todas essas ações são fundamentais para garantir o acesso à terra e instituir formas de mediação de conflito, evitando, assim, episódios como o Massacre de Eldorado dos Carajás, que completa dezessete anos na próxima quarta-feira.

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Enfim, somente medidas afirmativas de democratização do acesso à terra, de fortalecimento da agricultura familiar por meio dos assentamentos, de realização da Reforma Agrária e de instituição de instrumentos para prevenção de conflitos porão fim à violência no campo.

* Arlete Sampaio é deputada distrital pelo PT/DF

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