PSD nasce gordo, ocupa espaço e flerta com o poder

Com fome, legenda criada praticamente do nada pelo prefeito Gilberto Kassab cresce a cada dia, arregimenta descontentes em todos os partidos e se consolida como o maior fenmeno partidrio desde o racha do PMDB quegerou oPSDB, em 1988



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Rodolfo Borges_247 – Terceira maior bancada da Câmara Federal, mais de cem deputados estaduais, dois governadores, seis vice-governadores, dois senadores e dezenas de prefeitos e vereadores espalhados por todo o país. O PSD já nasceu grande, mas não para de crescer. Nesta semana, três prefeitos de São Paulo anunciaram a filiação ao partido: Dárcy Vera, de Ribeirão Preto, Marcos Bertaiolli, de Mogi das Cruzes, e Silvio Peccioli, de Santana do Parnaíba. E o partido ainda não parece ter saciado sua fome.

A legenda liderada pelo prefeito de São Paulo, Gilberto Kassab, planeja disputar 1,2 mil prefeituras nas eleições de 2012 – eles preveem, até lá, a adesão de 400 a 500 prefeitos –, o que já vale ao partido o título de maior fenômeno político-partidário do país desde o racha do PMDB que deu origem ao PSDB, em 1988. E a legenda promete causar braulho, pois já chegou propondo a organização de uma Constituinte que englobe a reforma política e dos sistemas de impostos e de Justiça.

O objetivo do PSD é organizar a Assembleia Nacional Constituinte já em 2014, “com o objetivo exclusivo de realizar, no prazo de dois anos, uma revisão constitucional”, de acordo com o manifesto publicado pelo partido. Para o cientista político Leonardo Barreto, a proposta de Constituinte é uma bandeira antiga, mas nem por isso deixa de ser atual e necessária. “Foi uma estratégia muito inteligente da parte dele (Kassab) apresentar o partido com uma questão substancial logo de cara”, avalia o pesquisador da Universidade de Brasília (UnB), que não acredita, no entanto, que o partido – ainda com quadro partidário indefinido – tenha nascido com força o bastante para impor essa agenda.

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O PSD surge para ocupar um vácuo na política nacional: o bom e velho centro. É a possibilidade de se movimentar nesse espectro – que permite concordar ou discordar de diferentes linhas ideológicas – que aparentemente atraiu tanta gente para o partido, transformando o que se anunciava apenas uma iniciativa aventureira de Kassab num fator de aglutinação partidário com velocidade, amplitude e qualidade de adesões. Ainda é cedo para saber no que o projeto vai dar, mas o PSD já chega ao Congresso Nacional influenciando diretamente na atuação da oposição – ao diminuir sua bancada, principalmente a do DEM – e dando a oportunidade à presidente Dilma Rousseff de construir sua própria base de sustentação, consolidando, enfim, seu processo de distanciamento do governo Lula.

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Para Barreto, a maior contribuição que o PSD pode dar ao país é possibilitar a emersão de novas figuras na política nacional, políticos que não estavam encontrando espaço em seus partidos e viram no PSD uma oportunidade de virar protagonistas. “Os partidos políticos não são estruturas democráticas. Eles são formados por elites que se encastelam e se tornam donas dessa estrutura. Quando se está fora dessa estrutura, a tendência é buscar uma nova legenda, um novo espaço”, explica Barreto, acrescentando que a lei de fidelidade partidária engessou muito o sistema político.

“O PSD é o retrato de uma movimentação interna do próprio sistema partidário brasileiro, que antes era mais cotidiana, mas que depois da lei de fidelidade partidária se tornou mais difícil”, avalia o cientista político da UnB, ressalvando que o partido não chega a ser a expressão de uma parcela da sociedade que encontrou na linha partidária uma maneira de se organizar. “A migração de muitos parlamentares para o partido tem a ver com a possibilidade de fazer aliança com o governo. Grande parte deles foi atrás dessa possibilidade de voltar a conversar com o governo e receber recursos políticos”, conclui o pesquisador.

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