Pra não deixar de falar em Obama
Visita foi um gesto de política externa. Só isso, nada mais
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Somente o tempo pode revelar os resultados reais da visita do presidente Barack Obama ao Brasil. Nos últimos e nos próximos dias poderemos ler e ouvir dezenas de interpretações, análises, comentários de todo o tipo e em todos os tons. De diplomatas aposentados, estrategistas militares, cientistas políticos, professores de diversos campos e jornalistas, dos mais otimistas aos mais negativistas, dos mais esperançosos aos mais céticos, dos mais abalizados aos apenas palpiteiros.
Todas as opiniões são válidas, mesmo as inúteis. Mas, em termos efetivos para o Brasil, a viagem pode ser resumida em poucas palavras: foi um gesto de política externa dos Estados Unidos. Só isso, nada mais. Um gesto positivo, mas apenas um gesto diplomático.
De modo geral, não se espera mais do que isso da visita de chefe de Estado. Essas visitas valem pelo formalismo diplomático e trazem proveitos na política interna, quando convém a visitantes e visitados. Podem até iniciar um processo de aproximação ou retomar relações deterioradas, podem incrementar negócios, mas nunca dão resultados imediatos e profundos. Os acordos assinados são apenas declarações de intenções nem sempre cumpridas e as comissões formadas levarão tempo para ter, se é que terão, alguma consequência efetiva. Os discursos são peças gastas de retórica diplomática ou política, de mais ou menos qualidade, na maior parte das vezes destinadas ao público interno.
O que não quer dizer que não tenha sido uma visita desimportante para o Brasil. Mostrou o presidente da poderosa nação em nosso país, pode ter aberto algumas possibilidades para o futuro. Mas nada que justifique o êxtase e o encantamento da imprensa brasileira, que gastou muito papel e muito tempo para incensar, durante dias, o presidente estadunidense e sua vinda ao país. Em parte por espírito de subserviência e submissão, mas não só isso: já tem tempo que nossa imprensa – sem generalizar – dá mais importância ao espetáculo do que à notícia, à imagem do que ao conteúdo. Além disso, a vinda do presidente parecia um bom motivo para renovar críticas à política externa do governo Lula.
Obama, não há como negar, faz o espetáculo e propicia excelentes imagens, com a ajuda do circo que leva mundo afora. É o presidente da maior potência mundial, o que já é muito. Mas, ainda por cima, representa a inesperada e saudável ascensão de um negro à Casa Branca, fala muito bem, é carismático e simpático, tem presença e charme. Sua mulher Michelle ajuda, muito, a compor essa imagem positiva. Mas não basta a forma, é preciso ter conteúdo. O que a visita não teve. O tom foi mais para oba-oba, turismo político.
Como ação de relações públicas, a visita até foi um sucesso parcial para os Estados Unidos, graças ao carisma do casal Obama. Mas à plateia escolhida a dedo vermelho e azul para assistir deslumbrada e embasbacada ao discurso no Municipal e depois fazer os elogios esperados, contrapõem-se as frustrações e decepções causadas pelo cancelamento do comício e pela segurança excessiva que deixou o povo bem longe do pop star – a mobilização policial e militar, depois da presença física de Obama, é a marca mais forte que fica desses dias em Brasília e no Rio.
Pelo menos a visita foi positiva para a presidente Dilma Rousseff, que se saiu muito bem e pôde mostrar dotes de estadista. Não só nas conversas com Obama e em seus pronunciamentos, como na postura corajosa de, um dia antes, determinar a abstenção do Brasil na votação sobre a Líbia no Conselho de Segurança da ONU.
Quanto aos resultados concretos, como os alardeados na área do petróleo e do gás, somente o tempo pode revelar se realmente existirão.
Vacina antibolivariana
Um dos objetivos de Obama ao escolher Brasil e Chile para sua primeira viagem à América do Sul é óbvio: dar mais credibilidade internacional a esses países e estabelecer um confronto, como modelos de sociedade, com os chamados bolivarianos – Venezuela, Bolívia e Equador – e com a Argentina. O Chile é autoexplicável, tem um governo de direita e bem afinado com os Estados Unidos. O Brasil é o principal país do continente, que não pode ser ignorado, mas, além disso, considerado um antídoto, de esquerda, à esquerdização da América Latina. Como El Salvador, o único país a ser visitado na América Central, é a vacina de esquerda contra Cuba.
Longe do Conselho
Só com muita boa vontade é que as palavras de Obama quanto à presença permanente do Brasil no Conselho de Segurança da ONU podem ser consideradas de apoio, ou mesmo de simpatia. Obama tem apenas “apreço” pela reivindicação brasileira, nada mais do que isso. O apreço só apareceu porque ele tinha de dizer alguma coisa, já que no ano passado apoiou, com todas as letras, o mesmo pleito feito pela Índia.
Foi um avanço em relação à declaração nenhuma. Mas isso não quer dizer absolutamente nada.
Maçã e mantos assassinos
Chegam a ser ridículas algumas medidas de segurança tomadas para proteger o presidente dos Estados Unidos. Como achar que a maçã de uma jornalista e a camisa do Flamengo poderiam ser ameaças à integridade física e à vida de Obama. E houve muito mais episódios de insensatez e burrice das seguranças dos dois países.
Ridículo também colocar tanques nas ruas (para atirar em quem?) e aceitar, sim senhor, todas as imposições do Serviço Secreto e das autoridades estadunidenses, numa demonstração lamentável de complexo de colonizado. Nenhum país que quer se destacar no concerto internacional e até ocupar uma cadeira permanente no Conselho de Segurança da ONU pode aceitar que agentes estrangeiros deem ordens e humilhem seus cidadãos e autoridades em seu território.
Mas pode ser ainda pior: os chefes da já excessiva e muitas vezes irracional segurança da presidência da República podem querer aplicar, aqui, o que viram seus colegas estadunidenses fazerem. Como se não bastassem as imitações que já fazem, como cercar áreas enormes por causa da presença da presidente e fechar o espaço aéreo durante tempo excessivo quando o avião presidencial vai decolar ou aterrissar, entre outras muitas bobagens.
Direitos humanos
Todos os dias as delegacias de polícia soltam criminosos, inclusive assassinos, porque não houve flagrante ou um juiz mandou. Pois os 13 militantes do PSTU que se manifestaram contra Obama na sexta-feira, no Rio, e são suspeitos de terem atirado um coquetel molotov no consulado estadunidense, passaram o fim de semana presos. Entre eles, um menor de idade. Foram soltos, por habeas corpus, apenas na segunda, quando Obama já estava no Chile.
Talvez tenha sido mais uma exigência do Serviço Secreto dos Estados Unidos: soltar os perigosos “terroristas” só quando o presidente estivesse longe.
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