Parem Angra 3. E todas as outras
Esse o alerta feito por especialistas. Dilma j estuda reavaliar a instalao de novos reatores de energia
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Letícia Morelli e Leonardo Attuch – Cara, perigosa e desnecessária. Essas três palavras sintetizam a energia nuclear, na visão do físico José Goldemberg, membro da Academia Brasileira de Ciências. Na sua visão, a catástrofe de Fukushima deveria servir de alerta para o Brasil. “A indústria nuclear era tida como a mais desenvolvida do mundo e o espelho se quebrou”, disse ele ao Brasil 247. “Não tem conserto”. Goldemberg defende que o Brasil repense todo seu programa energético, dando preferência às matrizes limpas e seguras, como a hidrelétrica, a eólica e a de biomassa.
O alerta foi ouvido em Brasília. O ministro-chefe da Secretaria Geral da Presidência, Gilberto Carvalho, disse nesta terça-feira que a presidente Dilma Rousseff está “extremamente preocupada” com a questão nuclear. Ele afirmou ainda que a crise internacional relacionada à energia atômica pode ter impactos na política nuclear brasileira. O Brasil tem duas usinas (Angra 1 e Angra e 2) e constrói uma terceira. “Vamos avaliar tudo com responsabilidade”. O ministro Edison Lobão defende a construção de quatro novas usinas no Nordeste. “Seria uma loucura”, diz Goldemberg. “Se o Japão, com toda a sua tecnologia, não consegue controlar esse tipo de problema, o que dizer do Brasil?”
No Congresso, o tema também será debatido. “A situação é extremamente grave e deve ser melhor discutida”, diz o deputado Eduardo Cunha (PMDB-RJ). “Precisamos checar se o sistema de segurança de Angra 3 é realmente compatível com os riscos envolvidos, até porque a usina fica numa região turística”. Cunha quer reabrir a discussão em torno da medida provisória 517, editada no último dia do governo Lula, concedendo incentivos fiscais à energia nuclear.
As usinas de Angra têm outros problemas. Estão também localizadas em regiões onde são frequentes os deslizamentos de terra – basta lembrar causada pela chuva no réveillon de 2010. Ou seja, não haveria área de fuga, se um acidente ocorresse, por azar, num período de enchentes. Os defensores da energia nuclear poderiam argumentar que o Brasil não está sujeito a terremotos, causa do desastre de Fukushima. “De fato, não temos terremotos”, diz Goldemberg. “Mas, em 1979, os Estados Unidos tiveram o problema de Three Miles Island sem nenhum motivo natural, mas por erro humano”.
O custo das usinas é outro problema. Angra 3 custará mais de R$ 10 bilhões e a obra foi cercada por suspeitas de superfaturamento. Mesmo que não houvesse desvios, a energia nuclear seria a mais ineficiente de todas. Ela é duas vezes mais cara do que a energia hidrelétrica. E mesmo a fonte eólica já tem custos comparáveis ao da energia nuclear.
No tocante a Angra 3, o BNDES já liberou R$ 6 bilhões para a obra. E a Eletronuclear pretende assumir financiamento de R$ 890 milhões junto à Eletrobrás, numa despesa que será repassada a todos os brasileiros, na conta de luz. “O Brasil não precisa importar o problema nuclear”, diz Goldemberg.
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