Oposição: à procura de um rumo

Lderes do DEM, como ACM Neto, e do PSDB tentam conter a debandada e preparar terreno para as prximas eleies



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Rodolfo Borges, de Brasília – Se os 100 primeiros dias do ano serviram para comprovar a força do governo no Congresso Nacional, também expuseram os limites de uma oposição enfraquecida numérica e ideologicamente. O governo aprovou o que quis até agora, e nem se preocupou em chegar a acordos com os oposicionistas. A última demonstração de força foi a aprovação no Senado do repasse de R$ 20 bilhões do BNDES para o consórcio que será responsável por construir e operar o Trem de Alta Velocidade (TAV) entre Rio de Janeiro e Campinas. O mesmo já tinha acontecido com o aumento do salário mínimo para R$ 545 e, na Câmara, com o aumento dos repasses brasileiros ao Paraguai pela energia produzida em Itaipu. Ou seja, contra a maioria governista, não há argumento, e os da oposição têm sido até razoáveis. Se não pode fazer frente ao governo, de que serve uma oposição?

“Uma das nossas tarefas é fiscalizar e refrescar a memória do eleitor”, disse ao Brasil 247 o líder do DEM na Câmara, ACM Neto (BA). O deputado baiano apresentou nesta semana um instrumento de fiscalização para acompanhar o cumprimento das promessas de campanha da presidente Dilma Rousseff. O Promessômetro destaca 230 promessas feitas pela então candidata em discursos, debates, no programa de governo e durante o horário eleitoral gratuito. Os democratas acreditam que as “promessas irreais” de Dilma não têm como ser cumpridas e que, portanto, o Promessômetro não vai se transformar em propaganda para o governo. O objetivo é “desenvolver senso crítico na cabeça do cidadão”. “Vamos tirar a oposição do Congresso e levá-la para as ruas”, promete ACM.

A busca de outros campos, como as ruas, para o embate com a situação deve marcar a ação dos partidos oposicionistas nos próximos anos. DEM e PSDB prometem ajuizar ação direta de inconstitucionalidade (Adin) no Supremo Tribunal Federal (STF) contra a aprovação do repasse do BNDES para o TAV, assim como devem fazer em relação à aprovação do salário mínimo. “Não é a alternativa que preferimos. Gostaríamos de resolver nossos impasses no âmbito do Congresso Nacional, mas exatamente em função da fragilização numérica e do rolo compressor que se presencia aqui diariamente, a opção que nos resta é essa, de demonstrar a vontade política e reagir através de Adins”, disse ao Brasil 247 o líder do PSDB no Senado, senador Álvaro Dias (PR), reconhecendo que o resultado da estratégia é muito relativo, “mas é um gesto político”.

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Mais do que dificultar a vida do governo, as estratégias da oposição sinalizam uma preparação para as próximas eleições, o que não chega a significar inoperância nos próximos anos. “No próximo pleito, só teremos chance se tivermos apelo popular”, resume Álvaro Dias. “Se desejarmos um confronto igual, não teremos possibilidade de êxito, em função do aparelhamento. Apelo popular exige afirmação política, unidade e disposição de enfrentamento. Conteúdo e organização, do discurso sobretudo”, avalia o senador, que lembra o caso da eleição de Fernando Collor como exemplo a ser seguido. “A cada eleição há uma história diferente. Esta foi a do aparelhamento. Mas tivemos eleições em que o apelo popular prevaleceu, como a do Collor. Ele foi para um partido pequeno que expulsava os políticos de seu ambiente, um candidato que vinha com uma nova proposta e acabou vitorioso mesmo contra todos os governadores da época e praticamente isolado politicamente. Existe sim a hipótese do apelo popular se sobrepor ao aparelhamento da máquina”, acredita.

Ideologia

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Para conseguir o almejado apoio popular, a oposição precisa, antes de tudo, descobrir o que quer. Em artigo publicado nesta semana, o ex-presidente Fernando Henrique Cardoso tentou ajudar o PSDB, mas a repercussão de uma palavra (“povão”) só contribuiu para confundir as coisas. Enfraquecido pela debandada de membros para o PSD, o DEM também sofre problema de representatividade. “O caminho é supercomplicado. O governo tem índice grande de aprovação e, pior, a Dilma é uma tecnocrata. É o perfil de gestor que os eleitores de José Serra e Aécio Neves gostam”, pondera o cientista político Leonardo Barreto, pesquisador da Universidade de Brasília (UnB). “Essa é uma ameaça nova à oposição e não sei se eles perceberam. A situação do PSDB, do DEM e do PPS é bastante difícil, e não vejo muito o que possa ser protagonizado por eles. Esses partidos precisam organizar a casa, consolidar lideranças e esperar o momento, ou seja, escândalos ou tentativas de aprovar medidas impopulares, o que não aconteceu até agora”, completa o cientista político.

Enquanto a oposição não se entende, quem sai perdendo é o pais. “Para ser válida, qualquer discussão precisa ocorrer com um debate contraditório. Um Congresso manso, que diz ‘amém’ a tudo, não ajuda”, diz Barreto. A atual conformidade das coisas também não deixa de ser um indicativo da pobreza política do país. “A fraqueza da oposição se explica pela fragilidade da política e dos políticos brasileiros. Há um desejo exacerbado de seguir ao governo”, analisa o deputado Mendonça Prado (DEM-SE), aludindo à criação do PSD pelo prefeito Gilberto Kassab. Segundo Prado, a situação permanecerá assim enquanto houver a possibilidade de os parlamentares indicarem e ocuparem postos no Executivo, algo que, unido à troca de favores via emendas parlamentares, compromete e confunde a relação entre os poderes.

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