O médico e o monstro
Até ontem, Thomaz Bastos prendia. Hoje, combate a PF. Não é estranho?
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Em 1886, o escocês Robert Loius Stevenson publicou um clássico da literatura universal: “O Estranho Caso de Dr. Jekyll e Mr. Hyde”, que ficou gravado na memória coletiva como “O Médico e o Monstro”. Na história, o advogado Gabriel John Utterson investigava as estranhas coincidências entre seu amigo Henry Jekyll (o médico) e Edward Hyde (o monstro), até descobrir que se tratava da mesma pessoa. Sucesso imediato de público e de crítica, o livro se tornou a melhor metáfora para os casos de dupla personalidade.
No Brasil de hoje, o advogado mais caro do Brasil, Dr. Marcio Thomaz Bastos, poderia também investigar um caso de dupla personalidade: o do Dr. Thomaz e o de Mr. Bastos. Até ontem, Dr. Thomaz era ministro da Justiça e chefe direto da Polícia Federal. Nessa condição, ele esteve à frente das mais espetaculares operações contra crimes de colarinho branco, prendendo empresários e invadindo escritórios de advocacia, sempre com o mesmo discurso na ponta da língua. “A PF é uma instituição republicana”, dizia. “Não persegue inimigos nem protege amigos”. Enfim, tínhamos atingido o ideal de uma Justiça cega e igualitária no Brasil.
Hoje, Dr. Marcio Thomaz Bastos vive do outro lado do balcão. Não é mais o Dr. Thomaz, que mandava prender, mas sim o Mr. Bastos, que consegue soltar. Como advogado mais caro do Brasil, que arranca alguns milhões dos seus clientes, ele agora questiona a legalidade das operações da Polícia Federal – a mesma que o Dr. Thomaz chefiava. Nesta semana, Mr. Bastos conseguiu anular todas as provas da Operação Castelo de Areia, obtidas em interceptações telefônicas, o que praticamente extingue o processo. Na Satiagraha, Dr. Bastos também defende o ex-presidente do Banco Central, Persio Arida, e aponta ilegalidades nos procedimentos da PF.
Diante de tudo isso, é lícito perguntar: quem diz a verdade? Dr. Thomaz ou Mr. Bastos? Será que todo o escarcéu que a Polícia Federal armou nos últimos anos foi apenas um circo? Ou terá sido também um grande negócio? Brincamos de prender milionários para que depois negociássemos sua liberdade? O Brasil viveu sob a espada de um Estado Policial ou era apenas um Estado Comercial, que negociava algemas? Se houver algum Robert Louis Stevenson por aí, que escreva a verdadeira história.
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