O jogo em Madri é o de menos
Autoridades dos três poderes desconhecem a importância da austeridade fiscal
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O presidente da Câmara, Marco Maia (do PT), e os deputados Romário (PSB) e Eduardo Gomes (PSDB) farão um excelente programa no próximo fim de semana: vão assistir, na Espanha, ao jogão Barcelona vs Real Madrid. Boa parte da imprensa noticiou a ida dos deputados ao estádio como um absurdo, um escândalo, e deixou praticamente de lado o principal: o que os três deputados, acompanhados de dois assessores, vão fazer na Espanha? A resposta já se sabe: nada importante. Ou melhor, coisas sem qualquer importância.
Se eu estivesse em Madri, também iria assistir ao jogo. O caso é que não estarei em Madri e os três deputados e dois assessores também não deveriam estar lá no próximo fim de semana, gastando recursos públicos em uma viagem sem sentido. A comitiva oficial da Câmara, integrada pelo presidente e pelo primeiro-secretário da Casa e por um de seus mais populares deputados, vai à Espanha conversar com deputados espanhóis sobre projetos de energia eólica e as dificuldades que brasileiros enfrentam na imigração do aeroporto de Barajas. Ah, tem mais: Marco Maia vai dar uma entrevista ao jornal El País. Em resumo: os temas da agenda são meros pretextos para justificar a viagem. Para Romário, o pretexto é o jogo mesmo.
E essa é apenas uma das centenas de viagens inúteis, mas caras, que deputados e senadores fazem todos os anos ao exterior. Sempre acompanhados de assessores, muitas vezes das mulheres e filhos (Maia está levando seu filho de 13 anos). O Congresso Nacional paga as passagens, os hotéis e diárias para outros gastos. Providencia os passaportes vermelhos e mantém funcionários no aeroporto de Brasília para facilitar o embarque e o desembarque e mobiliza as embaixadas e consulados brasileiros para recepcionar suas excelências.
As agendas, de modo quase geral, são perfeitamente dispensáveis. São raras as missões oficiais de parlamentares que têm algum sentido prático e trarão ganhos para o país. A questão, pois, são as viagens, e não o fato de os deputados aproveitarem para assistir a Barcelona vs. Real Madrid. Por isso, parte de nossa imprensa faz muito mal ao país por dar, geralmente, ênfase ao secundário em detrimento do principal. A discussão sai do foco e se cai no velho udenismo falsamente moralista. Uma das razões é que o secundário é espetáculo, o principal é assunto chato.
Outro exemplo da ênfase ao secundário em detrimento do principal é a onda de denúncias contra funcionários do Congresso que batem o ponto, mas não trabalham. Em primeiro lugar, é preciso diferenciar os que realmente não trabalham dos que não cumprem horas-bunda em gabinetes, mas prestam ótimos serviços. Tudo bem, é realmente difícil distinguir as situações e assim os corretos pagam pelos gazeteiros.
O principal aspecto do problema, porém, é pouco abordado: o Congresso precisa mesmo de tantos funcionários? Cada parlamentar precisa mesmo de tantos assessores em seus gabinetes? Como não se aborda o principal, que é isso, ficamos no secundário: se os funcionários batem ou não batem o ponto. Se batem o ponto e ficam o dia todo à toa, sem nada para fazer, nada contra. A moralidade está assegurada.
Há outra situação que a imprensa tem tratado mal: a construção da nova sede do Tribunal Superior Eleitoral. As notícias que de vez em quando são publicadas falam dos questionamentos que o Ministério Público faz aos custos da obra e à suspeita de terem sido beneficiadas algumas empreiteiras. Mas não se diz o principal: a obra é totalmente desnecessária, pois o TSE, com sete ministros em tempo parcial e 776 funcionários, não precisa de um prédio extremamente luxuoso de 115,5 mil metros quadrados, ao custo de quase R$ 500 milhões. Apenas a revista meiaum, de Brasília, tocou no ponto: a nova sede é suntuosa e desnecessária.
Nossas autoridades dos três poderes perderam a noção de um valor que deveria ser fundamental para o serviço público: austeridade. Mesmo tendo o país tantos problemas básicos, havendo miséria e doenças, faltando o essencial para que as pessoas sobrevivam decentemente, as pessoas que governam o país não têm o menor cuidado com os gastos públicos. Viajam para o exterior sem necessidade, contratam afilhados políticos que não trabalham, constroem prédios luxuosos. Jogam o dinheiro público fora com a maior facilidade e com cara de que estão fazendo as coisas certas. Assistir Barcelona vs. Real Madrid é o de menos.
Direito de atirar
O massacre das crianças no Rio trouxe de volta a discussão sobre a posse de armas. Isso é positivo, embora seja quase impossível voltar atrás da decisão de mais de 64% de brasileiros que preferiram manter o direito de comercialização de armas e munições. Mas chega a ser engraçado ouvir um jornalista de rádio dizer que votou a favor da comercialização porque acha que o Estado não pode tutelar as pessoas.
Essa é uma velha teoria neoliberal para tentar impedir que o bem comum condicione as individualidades. É o argumento dos que defendem o direito de fumar em qualquer lugar, de dirigir depois de beber, de cobrar os juros que quiserem, de não definir currículos escolares etc etc. Ou seja, dos que defendem a desregulamentação total para que os mais fortes prevaleçam. Em vez de Estado, Mercado.
Meros indícios
Todo julgamento sobre a personalidade e a motivação do assassino de Realengo ainda é mais do que precipitado. Mas outro jornalista de rádio já insinuava que a culpa é dos muçulmanos que se explodem.
Mas dois indícios deverão ser considerados: o assassino preferiu matar meninas e chamou de gordinho o garoto que poupou.
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