O bom exemplo de Dilma

A presidente que vai ao teatro como uma pessoa comum pode criar novos hábitos na Corte de Brasília



✅ Receba as notícias do Brasil 247 e da TV 247 no canal do Brasil 247 e na comunidade 247 no WhatsApp.

A presidente Dilma foi ao teatro. Chegou discretamente, assistiu à peça A Lua vem da Ásia, interagiu com as pessoas que estavam lá, foi ao camarim cumprimentar o ator Chico Diaz. Segundo testemunhas, não houve nenhuma das ridículas exibições de força tão ao gosto da segurança presidencial, nem funcionários do cerimonial afastando as pessoas, olhando nervosos para o relógio e guardando lugares em volta das ilustres autoridades. Também segundo os relatos, Dilma estava acompanhada de apenas mais duas pessoas, além do governador Jaques Wagner e de sua mulher Fátima.

Há muitos significados nesse fato. O mais importante, talvez, seja o de que Dilma gosta de teatro e vai prestigiar atividades culturais, como já fez ao montar uma exposição no Planalto. Outro, é que a presidente saiu dos palácios, discretamente e sem traumas, para uma atividade não oficial. Embora um evento isolado não possa ser base para analisar e projetar comportamentos, o sinal transmitido pela presidente ao comparecer ao Centro Cultural Banco do Brasil parece ser bastante positivo para desmistificar algumas práticas da Corte brasiliense.

Nos últimos anos virou moda, em Brasília, a demonstração de poder por meio de aparatos que acabam sendo ridículos. É comum ver, no Congresso, senadores e deputados que só circulam nos corredores e salões acompanhados de um séquito de funcionários. Os assessores, que talvez fossem mais úteis sentados em frente a um computador, acompanham os parlamentares por onde quer que andem. No Superior Tribunal de Justiça, ministros têm corredores privativos para não terem de cruzar com pessoas comuns.

continua após o anúncio

Alguns ministros trafegam pela cidade em comitivas de carros pretos. E não chegam a nenhum lugar sem a companhia de agentes de segurança que às vezes até se parecem com repórteres do CQC. Quanto mais agentes e mais carros nos comboios, mais importante pensa ser o ministro. Até o antigo presidente do Banco Central, promovido a ministro para não ser processado, só andava com um carro de seguranças atrás.

Ora, dirão, a segurança é necessária, pois riscos todos os cidadãos correm. É verdade: autoridades têm de ser protegidas e medidas de segurança são necessárias. Mas é visível o exagero, como é óbvio que os riscos são superdimensionados para justificar os aparatos. Talvez por vícios profissionais dos encarregados de zelar pelas excelências, talvez para justificar as funções comissionadas de militares e policiais. E também por uma inegável vontade de imitar aqui o que seus colegas estadunidenses fazem, importando acriticamente as práticas de outra realidade.

continua após o anúncio

É totalmente desnecessário, por exemplo, cercar uma enorme área pela manhã, vedada a pessoas e veículos e prejudicando inúmeros cidadãos, porque o presidente da República estará lá à noite. Era assim nos tempos de Lula, que teve a segurança mais irracional dos presidentes, desde 1985. Dilma pode evitar essa simulação de atividade, mas aí muitos agentes serão considerados desnecessários e terão de voltar ao policiamento de rua, ou aos quarteis.

Até ministros de tribunais superiores, hoje, têm seguranças que os acompanham e guardam suas residências. Blocos – termo brasiliense para edifício residencial – são vigiados, 24 horas, por seguranças postados no térreo. Policiais militares também são destacados para dar segurança a residências de autoridades. Os moradores vizinhos, claro, agradecem essa vigilância que outros mortais não têm.

continua após o anúncio

Outro exagero, mais ou menos recente, são os cerimoniais. Há poucos anos, apenas a Presidência da República e o Itamaraty tinham um cerimonial mais robusto. Outros órgãos tinham, no máximo, um ou dois funcionários que ajudavam a receber autoridades, ou cuidavam de questões protocolares.

Hoje, não há ministério, tribunal, qualquer órgão público, que não disponha de um alentado cerimonial. Chegam a fazer viagens precursoras para preparar visitas de seus superiores, como se fossem chefes de Estado. Quando há um evento em Brasília mesmo, chegam antes, querem checar por onde a autoridade vai entrar, quem a receberá, como estará situada na mesa. Com frequência, discutem entre eles, pois cada um considera que seu chefe é o mais importante.

continua após o anúncio

Enfim, são demonstrações de poder inúteis, desnecessárias e que custam muito dinheiro aos cofres públicos. Linearmente falando – o que não é correto, mas ajuda a explicar -, um corte de pelo menos 50% em segurança, cerimonial e puxa-saquismo não faria mal a nenhuma autoridade da República.

A ida ao teatro, na noite de sábado, pode ser um sinal de que a presidenta imporá um estilo mais leve em suas andanças e se livrará de penduricalhos. Dando o exemplo, pode ser que os chefes e integrantes dos outros poderes e seus subordinados no Executivo entendam que exibicionismo e arrogância estão fora de moda na Corte.

continua após o anúncio

Vamos ao teatro

Muitas vezes quando candidato e poucas vezes como presidente, Fernando Collor frequentou uma tradicional e já extinta pizzaria de Brasília, o Kazebre 13. Nessa época, o restaurante bombou e a espera por uma mesa era longa.

continua após o anúncio

Se Dilma continuar a ir ao teatro, certamente muita gente em Brasília se tornará frequentadora assídua dos espetáculos. Muitos, sem nunca terem assistido a uma peça antes. O problema é que os preços podem aumentar.

Greve no Congresso

continua após o anúncio

A presidente Dilma pode prestar outro grande e inestimável serviço ao país. Fará um grande bem ao não aceitar a chantagem de parlamentares, tidos como de sua base de apoio, que ameaçam paralisar a Câmara se as reivindicações de nomeações e liberação de emendas não forem atendidas. Se aceitar as pressões, Dilma se enfraquecerá a passará a ideia de que é refém. Se enfrentar os parlamentares, terá o apoio da opinião pública.

Os tempos de hoje não são os mesmos de Fernando Collor, que quis enfrentar o Congresso e foi derrubado. Quem anda derrubada é a Câmara.

Fácil, fácil

O PMDB, desgostoso com o tratamento que vem recebendo do PT e de Dilma, anuncia que planeja disputar sozinho as eleições municipais de 2012. Seria ótimo, se isso significasse devolver todos os cargos no governo.

O partido quer também tirar sua imagem de fisiológico, que só pensa em cargos e em suas benesses. O grupo que está cuidando disso é comandado por Michel Temer, José Sarney, Romero Jucá, Renan Calheiros, Henrique Alves...

Pobres civis

A coalizão montada para defender civis “do bem” na Líbia, agora comandada pela Organização do Tratado do Atlântico Norte (Otan), fez fogo amigo e matou pelo menos 13 opositores de Kadafi. Nada diferente do que tem acontecido no Iraque e no Afeganistão, onde morrem civis “do mal” e “do bem”.

Em entrevista à Folha de S. Paulo, o professor José Luís Fiori desmontou o bom-mocismo dos Estados Unidos e de países europeus. Diz ele: “Do ponto de vista das relações entre Estados, os direitos humanos são sempre esgrimidos e utilizados como instrumento de legitimação das decisões geopolíticas das grandes potências”.

E muitos, bem-intencionados, mas ingênuos, embarcam nessas manobras.

iBest: 247 é o melhor canal de política do Brasil no voto popular

Assine o 247, apoie por Pix, inscreva-se na TV 247, no canal Cortes 247 e assista:

Comentários

Os comentários aqui postados expressam a opinião dos seus autores, responsáveis por seu teor, e não do 247

continua após o anúncio

Ao vivo na TV 247

Cortes 247