O bom exemplo de Dilma
A presidente que vai ao teatro como uma pessoa comum pode criar novos hábitos na Corte de Brasília
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A presidente Dilma foi ao teatro. Chegou discretamente, assistiu à peça A Lua vem da Ásia, interagiu com as pessoas que estavam lá, foi ao camarim cumprimentar o ator Chico Diaz. Segundo testemunhas, não houve nenhuma das ridículas exibições de força tão ao gosto da segurança presidencial, nem funcionários do cerimonial afastando as pessoas, olhando nervosos para o relógio e guardando lugares em volta das ilustres autoridades. Também segundo os relatos, Dilma estava acompanhada de apenas mais duas pessoas, além do governador Jaques Wagner e de sua mulher Fátima.
Há muitos significados nesse fato. O mais importante, talvez, seja o de que Dilma gosta de teatro e vai prestigiar atividades culturais, como já fez ao montar uma exposição no Planalto. Outro, é que a presidente saiu dos palácios, discretamente e sem traumas, para uma atividade não oficial. Embora um evento isolado não possa ser base para analisar e projetar comportamentos, o sinal transmitido pela presidente ao comparecer ao Centro Cultural Banco do Brasil parece ser bastante positivo para desmistificar algumas práticas da Corte brasiliense.
Nos últimos anos virou moda, em Brasília, a demonstração de poder por meio de aparatos que acabam sendo ridículos. É comum ver, no Congresso, senadores e deputados que só circulam nos corredores e salões acompanhados de um séquito de funcionários. Os assessores, que talvez fossem mais úteis sentados em frente a um computador, acompanham os parlamentares por onde quer que andem. No Superior Tribunal de Justiça, ministros têm corredores privativos para não terem de cruzar com pessoas comuns.
Alguns ministros trafegam pela cidade em comitivas de carros pretos. E não chegam a nenhum lugar sem a companhia de agentes de segurança que às vezes até se parecem com repórteres do CQC. Quanto mais agentes e mais carros nos comboios, mais importante pensa ser o ministro. Até o antigo presidente do Banco Central, promovido a ministro para não ser processado, só andava com um carro de seguranças atrás.
Ora, dirão, a segurança é necessária, pois riscos todos os cidadãos correm. É verdade: autoridades têm de ser protegidas e medidas de segurança são necessárias. Mas é visível o exagero, como é óbvio que os riscos são superdimensionados para justificar os aparatos. Talvez por vícios profissionais dos encarregados de zelar pelas excelências, talvez para justificar as funções comissionadas de militares e policiais. E também por uma inegável vontade de imitar aqui o que seus colegas estadunidenses fazem, importando acriticamente as práticas de outra realidade.
É totalmente desnecessário, por exemplo, cercar uma enorme área pela manhã, vedada a pessoas e veículos e prejudicando inúmeros cidadãos, porque o presidente da República estará lá à noite. Era assim nos tempos de Lula, que teve a segurança mais irracional dos presidentes, desde 1985. Dilma pode evitar essa simulação de atividade, mas aí muitos agentes serão considerados desnecessários e terão de voltar ao policiamento de rua, ou aos quarteis.
Até ministros de tribunais superiores, hoje, têm seguranças que os acompanham e guardam suas residências. Blocos – termo brasiliense para edifício residencial – são vigiados, 24 horas, por seguranças postados no térreo. Policiais militares também são destacados para dar segurança a residências de autoridades. Os moradores vizinhos, claro, agradecem essa vigilância que outros mortais não têm.
Outro exagero, mais ou menos recente, são os cerimoniais. Há poucos anos, apenas a Presidência da República e o Itamaraty tinham um cerimonial mais robusto. Outros órgãos tinham, no máximo, um ou dois funcionários que ajudavam a receber autoridades, ou cuidavam de questões protocolares.
Hoje, não há ministério, tribunal, qualquer órgão público, que não disponha de um alentado cerimonial. Chegam a fazer viagens precursoras para preparar visitas de seus superiores, como se fossem chefes de Estado. Quando há um evento em Brasília mesmo, chegam antes, querem checar por onde a autoridade vai entrar, quem a receberá, como estará situada na mesa. Com frequência, discutem entre eles, pois cada um considera que seu chefe é o mais importante.
Enfim, são demonstrações de poder inúteis, desnecessárias e que custam muito dinheiro aos cofres públicos. Linearmente falando – o que não é correto, mas ajuda a explicar -, um corte de pelo menos 50% em segurança, cerimonial e puxa-saquismo não faria mal a nenhuma autoridade da República.
A ida ao teatro, na noite de sábado, pode ser um sinal de que a presidenta imporá um estilo mais leve em suas andanças e se livrará de penduricalhos. Dando o exemplo, pode ser que os chefes e integrantes dos outros poderes e seus subordinados no Executivo entendam que exibicionismo e arrogância estão fora de moda na Corte.
Vamos ao teatro
Muitas vezes quando candidato e poucas vezes como presidente, Fernando Collor frequentou uma tradicional e já extinta pizzaria de Brasília, o Kazebre 13. Nessa época, o restaurante bombou e a espera por uma mesa era longa.
Se Dilma continuar a ir ao teatro, certamente muita gente em Brasília se tornará frequentadora assídua dos espetáculos. Muitos, sem nunca terem assistido a uma peça antes. O problema é que os preços podem aumentar.
Greve no Congresso
A presidente Dilma pode prestar outro grande e inestimável serviço ao país. Fará um grande bem ao não aceitar a chantagem de parlamentares, tidos como de sua base de apoio, que ameaçam paralisar a Câmara se as reivindicações de nomeações e liberação de emendas não forem atendidas. Se aceitar as pressões, Dilma se enfraquecerá a passará a ideia de que é refém. Se enfrentar os parlamentares, terá o apoio da opinião pública.
Os tempos de hoje não são os mesmos de Fernando Collor, que quis enfrentar o Congresso e foi derrubado. Quem anda derrubada é a Câmara.
Fácil, fácil
O PMDB, desgostoso com o tratamento que vem recebendo do PT e de Dilma, anuncia que planeja disputar sozinho as eleições municipais de 2012. Seria ótimo, se isso significasse devolver todos os cargos no governo.
O partido quer também tirar sua imagem de fisiológico, que só pensa em cargos e em suas benesses. O grupo que está cuidando disso é comandado por Michel Temer, José Sarney, Romero Jucá, Renan Calheiros, Henrique Alves...
Pobres civis
A coalizão montada para defender civis “do bem” na Líbia, agora comandada pela Organização do Tratado do Atlântico Norte (Otan), fez fogo amigo e matou pelo menos 13 opositores de Kadafi. Nada diferente do que tem acontecido no Iraque e no Afeganistão, onde morrem civis “do mal” e “do bem”.
Em entrevista à Folha de S. Paulo, o professor José Luís Fiori desmontou o bom-mocismo dos Estados Unidos e de países europeus. Diz ele: “Do ponto de vista das relações entre Estados, os direitos humanos são sempre esgrimidos e utilizados como instrumento de legitimação das decisões geopolíticas das grandes potências”.
E muitos, bem-intencionados, mas ingênuos, embarcam nessas manobras.
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