O blogueiro encara o governador

Vtima de um atentado a bala, Ricardo Gama avisa: Se acontecer algo de novo, a conta vai para o Srgio Cabral



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Carlos Tautz

Metralhadora giratória é a expressão que melhor define a atuação do advogado Ricardo Gama em seu blog, o http://ricardo-gama.blogspot.com/. Dali, ele dispara contra todos que, na opinião dele, prejudiquem o Rio de Janeiro. Do governador do Estado, Sérgio Cabral (de longe, seu alvo preferido), ao prefeito da capital, Eduardo Paes (ambos do PMDB), indo a traficantes e passando por milícias e cooperativas ilegais de táxis. Ninguém escapa de seus comentários, acusações e, muito frequentemente, de seus palavrões.

Ricardo não parou, nem mesmo após ter sofrido um atentado na manhã da quarta-feira, 23 de março, perto da sua casa, na mais bucólica porção de Copacabana, o Bairro Peixoto. Pessoas que viajavam em um carro prata dispararam seis tiros contra ele – dois pegaram na cabeça, um no tórax e um no braço e outros dois o atingiram de raspão. Já fora de perigo, ele concedeu uma entrevista ao Brasil 247. “Eu pensava que ali era seguro”, disse, baseando-se no fato de que sua rua é bem policiada e serve de estacionamento informal de policiais do 19o Batalhão da PM e da Delegacia de Proteção a Pessoas da Terceira Idade.

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Ainda bem debilitado e com a visão prejudicada, Ricardo voltou ao blog. Como sempre, no ataque, utilizando vídeos que ele próprio produz. Um deles, em especial, transformou-se no ano passado em um dos maiores virais da internet brasileira. Durante a campanha para governador de estado, Ricardo flagrou o presidente Lula e seu candidato, Cabral, em uma favela do Rio, destratando um garoto que se aproximou deles para pedir a construção de uma quadra de tênis e reclamar da presença do “Caveirão” na porta de sua casa – o carro de ataque que o Batalhão de Operações Especiais (BOPE) usa para entrar em áreas conflagradas.

Ricardo não nega a proximidade com políticos de outros partidos, principalmente do PR do deputado estadual e ex-governador (RJ) Anthony Garotinho. Mas observa: isso não justifica o atentado que sofreu. Leia abaixo sua entrevista:

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Brasil 247 – Você tem certeza de que o atentado teve fundo político?

Ricardo Gama – Acho. No meu blog, 90% dos temas são políticos. Acredito que o atentado foi político.

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247 – Mas, no blog você aborda também temas como tráfico de drogas, cooperativas de táxi, milícias...

RG – Eu andei fazendo um levantamento de associações de tráfico nos últimos dois dias (a segunda entrevista foi feita no dia 6 de abril) e algumas pessoas me disseram que as chances de as ordens para o atentado terem partido de facções criminosas contra mim teriam sido muito pequenas. Eles estão muito preocupados com a pacificação (de algumas favelas), os traficantes não têm usado armas nas vielas, eles estão muito nervosos. Os traficantes estão preocupados com coisas mais importantes do que um simples blogueiro.

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247- Você já pediu proteção policial ao governador Sergio Cabral?

RG – Pedi, mas não recebi.

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247 – Você já se sente à vontade para sair de casa?

RG – Eu saio olhando para os lados. Um carro ou uma moto que pare do meu lado... Eu não vou mentir: o cara sai preocupado...

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247 – Você tem contato também com políticos de vários partidos. Nelson Peregrino, ex-candidato a governador do Rio pelo PR, César Maia (DEM), Wagner Montes (deputado estadual pelo PDT). Algum deles manifestou apoio a você?

RG – Wagner Montes. De todos os programas televisivos, o que mais foi educado e deu destaque e me tratou com cordialidade foi o Wagner Montes. Eu agradeço o carinho especial que ele dispensou a mim.

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247 – Por que você faz tanta oposição ao governador Sergio Cabral?

RG – O governador do Rio de Janeiro está viajando. (Sérgio) Cabral nunca está no Rio! O vice-governador Pezão foi vice que mais governou no Brasil! São números oficiais. A Veja deu matéria sobre isso e eu botei no meu blog. E o Cabral ainda se diz orgulhoso disso! Pessoalmente, não estou satisfeito com o governador Sérgio Cabral. Ele diz que, quando se trata de um investimento na reforma de uma escola, de uma comunidade a ser pacificada, ele não privilegia política partidária, e sim interesse da população. Ele ainda não veio à imprensa dar uma palavra sobre o meu caso. Bastava ele dar uma palavra no meu caso, que isso já significaria uma mudança total nas investigações.

247 – Isso mudaria o rumo do caso?

RG – Claro! Basta o governador ir à televisão e dizer: nós vamos investigar este caso. Apesar de que, quando estourou aquele vídeo que eu coloquei na internet, com o Cabral chamando aquele jovem negro de “otário”, deu uma repercussão grande. Na época, ele falou: “Ah, esse vídeo é verdade, foi em um evento lá (na favela) Mandela, em Manguinhos, mas foi editado e liberado para a imprensa às vésperas da eleição por um opositor meu”. Não interessa! Isso justifica tomar seis tiros na cara?

247 – Você se considera um opositor do governador Sérgio Cabral?

RG – Com certeza! Por uma opção cidadã, cara! Como é que um governador coloca a mulher dele para advogar para a concessionária do Metrô? Pode ser até legal, mas é imoral! Um governador que coloca a mulher dele para advogar para o Grupo Facility (maior fornecedor de mão de obra do governo do estado, o grupo foi denunciado em janeiro pelo MP estadual por formação de cartel. Cerca de 65% dos gastos do Detran-RJ com serviços vão para o Facility)! A gente vê hoje o metrô do Rio com a tarifa mais cara do mundo (sic) e um serviço de péssima qualidade e o Cabral dizendo que está gastando bilhões e bilhões com o Metrô e a Supervia (concessionária de trens urbanos) e os trens quebrando todos os dias.

247 – Você acha que pode ter partido de alguma fração do governo do Estado esse atentado contra você?

RG – Eu não posso afirmar isso. O governo do Estado é uma célula muito grande. Pode ser que alguém insatisfeito comigo pode ter feito alguma coisa sem o governador saber.

247 – Um projétil que havia sido disparado contra você, e que estava dentro do seu corpo, havia desaparecido. Você confirma essa informação?

RG – A informação que eu tive era de que o primeiro tiro que foi retirado da minha cabeça havia sido extraviado. Eu dei essa matéria para o R7 (portal de notícias do Grupo Record) e que o segundo tiro que retiraram da minha face foi extraviado. Mas o R7 procurou o hospital, que disse que não houve qualquer tipo de extravio, mas um retardamento no envio da bala ao Instituto de Criminalística.

247 – Você pensa em sair do Rio de Janeiro?

RG – Vou continuar blogando, com mais raiva e mais disposição. Isso só serviu para eu abrir mais meus olhos e ficar mais atento.

247 – Você não tem medo de que isso aconteça de novo com você ou a sua família?

RG – Com a minha família, não acredito, apesar de dizerem que o Rio de Janeiro está dominado por uma máfia, do que eu não tenho a mínima dúvida hoje. Mas, eu não acredito que essa máfia chega ao ponto de atacar irmãos e esposas. Mesmo que pense em fazer alguma coisa contra mim no futuro. Mas, a ponto de matar minha esposa e meus filhos, não acredito. Imagina se acontece alguma coisa pela terceira vez? Isso vai cair na conta do Cabral.

247 – Pela terceira vez? Você já sofreu outro atentado?

RG – Não, não. Se acontece de novo, vai para a conta do governador e o governador não vai deixar isso.

247 – Você tem alguma proteção policial?

RG – Deus, Deus.

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