O ataque da CPMF zumbi

Sepultada em 2007, a CPMF permanece por aí, assombrando o bolso do contribuinte. Garantir rendimentos para a saúde é importante, mas pagar imposto num país que mais desperdiça que investe é aviltante



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Ela voltou. Sepultada no fim de 2007, a CPMF permanece por aí, assombrando o bolso do contribuinte. A Saúde só melhora, avisa o governo, com mais dinheiro. Tudo bem, garantir rendimentos para a saúde é importante, muito importante. E a CPMF até que era disciplinada na cobrança, mas pagar imposto num país que mais desperdiça que investe é aviltante e, diante da carga tributária atual, pensar em mais uma cobrança não faz sentido. Oh!, dilema.

Escrevi o poema abaixo na época em que se discutia a permanência/extinção da contribuição, há quatro anos. Ele é baseado numa tradução que o Augusto de Campos fez de um poema do Maiakovski chamado Conversa sobre poesia com o fiscal de rendas. Se você não conhece o poema original ou não tem acesso a ele, fique à vontade para atribuir as melhores partes ao Maiakovski (a última estrofe é dele):

Conversa sobre a CPMF com o fiscal de rendas

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Cidadão fiscal de rendas!
Desculpe a liberdade.
Obrigado, não se incomode, estou à vontade.
A matéria que me traz é algo banal:
O lugar do cronista na sociedade atual.

Lá se vai o tempo em que a crônica era respeitada.
É o tempo mesmo que se foi, comenta-se, com medo da internet,
Mas o assunto é mais grave, caro fiscal, isso não é nada.
Mesmo desprestigiado, ao lado de donos de terras e flats
O escritor permanece citado por débitos fiscais,
Que essas coisas, quando mudam, é pra pior.
Você me exige 30% do pouco que ganho por mês
E, por amor à CPMF, aumenta a cobrança mais uma vez.

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Meu trabalho a todo outro trabalho é igual.
Veja só quantas perdas de vulto,
Que despesas requerem meus produtos
E quantos gastos com material:
Você conhece por certo a estratégia da citação,
Que tira do escritor o comprometimento com a razão
E o joga nas costas de um autor mais valioso.
Pois além dos livros, que podem deixar o texto algo pomposo,
É preciso engenho para saber o que e quem mencionar,
E, para taxar essa capacidade, não basta estar disposto.

Assim acontece com a emoção,
Isso que se sente e pede ao papel uma versão.
Cidadão fiscal de rendas, eu lhe juro,
As palavras custam ao escritor um juro duro
E a dívida que eu tenho para com elas
É muito maior que seu imposto espúrio,
Como é meu débito com minhas verdades,
Com os cronistas que já foram e que virão.
Sou devedor eterno do mundo que conto
E que contarei daqui a séculos
Quando, do papel mudo, o tempo ressuscitar.

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Tenho contas, portanto, mais valorosas e importantes a pagar,
Mas vocês insistem em cobrar 0,38%
Por cada uma das minhas movimentações financeiras
E tentam me convencer de que isso será bom para o país,
De que meu dinheiro não vai passar as férias num paraíso fiscal,
“Não, pelo contrário”, vocês dizem, “lhe fará muito feliz
Nas mãos dos outros. E nisso não há nada de mau”.
Vocês desprezam o meu trabalho, que lhes sustenta.
Mas eu pago as contas pra não ir preso
E mereço ser tratado com o devido respeito
Que a importância do meu ofício ostenta.

Porém, se vocês pensam que se trata apenas
De copiar palavras a esmo,
Eis aqui, camaradas, minha pena,
Podem escrever vocês mesmos!

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