O anúncio da "primavera mineira"
Quando mineiro decide virar a mesa, poderosos do resto do País percebem que nada mais se garante apenas por inércia, quem duvida que consulte a História
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Os manifestantes de sábado contra o prefeito de Belo Horizonte Marcio Lacerda não devem ser subestimados por sua inferioridade numérica, centenas ou milhares são certamente os formadores de opinião em seus bairros, quem conhece a política mineira (ou mesmo apenas a belorizontina) sabe que as tempestades nestas ruas começam com pingos espaçados.
Quem não se lembra da própria eleição de Lacerda no segundo turno que quase não houve? Os círculos de comentadores de manchetes de jornais na Praça Sete murmuravam nos dias próximos á eleição contra o candidato do PMDB, e o centro de BH, onde nos dias do primeiro Turno a vitória de Leonardo Quintão era tida como certa, se revelou chão do candidato da situação. Os erros de campanha (Quintão se recusou até o último minuto a atacar os problemas da capital, do transporte coletivo à insatisfação nos bairros pobres, que desconhecem as maravilhas oficiais recitadas nos órgãos de imprensa), o desempenho pífio nos debates desencantaram dia a dia, discreta mas velozmente, os eleitores da candidatura que quase venceu no Primeiro Turno. Portanto, se a prefeitura se ri do volume humano das manifestações... ri da gestação de uma primavera mineira, na qual a massa se converte em povo e recusa o cabresto dos caciques estaduais e municipais que elegeram um poste através de aliança celebrada entre partidos adversários no plano nacional que foi louvada como exemplo de concórdia a ser seguido caso o Brasil desejasse ser país civilizado politicamente,como se o domínio de uma máquina contra dissensões fosse um avanço.
O fato mesmo de muitos destes manifestantes, ou mesmo quase todos, terem sido eleitores do atual prefeito já basta para assustar os poderosos do dia, que se anestesiam com os números da marcha fornecidos pela Polícia Militar aos órgãos de imprensa (que são ,todos em BH o sabem, escritórios de divulgação do Governo Estadual), pois “a maioria desprezada que recebe os golpes sem gritos, apenas gemendo maldições” (como notei no “BH, uma capital rumo ao século XIX”) já levanta a cabeça e decide marchar contra os centros de poder da capital, indiferente às consequências que podem surgir da combustão de insatisfações suportadas por anos. Fossem eleitores da candidatura derrotada, ficaria mais fácil atribuir culpas e minimizar a revolta dos pichadores de prédios públicos, sendo eleitores (que não admitem terem votado errado, ou manipulados pelos “agentes sociais” nem mesmo agora) da atual administração, desculpas ficam mais difíceis de confeccionar, nem mesmo abusando de gritos e acusações.
As linhas de ônibus suprimidas nos mais diversos bairros em feriados e domingos, o processo de desapropriação de comunidades inteiras para ampliação de avenidas (obras por definição condenadas à obsolescência a médio prazo em capital cujo metrô é, como escrevi no artigo citado, uma quimera), as queixas não mais fáceis de abafar da população contra serviços da prefeitura, são fatos que nem mesmo batalhões de comentaristas da internet podem negar, ou qualificar de “mentiras do PIG – (qual PIG em Minas? O que sempre apóia a prefeitura?), como certamente o farão assim que este texto for publicado. O povo , em suma, está realmente saturado do atual grupo enquistado no Poder, e somente a incompetência patológica do que responde por oposição pode garantir a continuação do domínio político deste grupo em Minas Gerais, e sabem todos que conhecem minimamente História do Brasil, TUDO começa por Minas. Quando mineiro decide virar a mesa, poderosos do resto do País percebem que nada mais se garante apenas por inércia, quem duvida que consulte a História.
O estamento universitário, que foi o fiador da candidatura Lacerda, tentará negar sua cota de responsabilidade no que revolta os belorizontinos, a fim de perpetuar seu domínio e se precaver da provável perda de status que goza em Belo Horizonte, mas não poderá mais contar com a afinação do coro dos satisfeitos, como se acostumou.
Perdeu as ruas para a primavera que se anuncia.
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