Novo partido é manjar no ninho petista

O PSD, legenda do prefeito de São Paulo, Gilberto Kassab, vem em boa hora para o governador baiano Jaques Wagner



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Dá para acreditar que alguém se proponha a formar um partido novo catando mortos para preencher os seus quadros ou falsificando assinaturas para engordar listas?

O questionamento povoou durante muitos dias o noticiário nacional no período que antecedeu a formação do PSD de Gilberto Kassab. E a mídia, sem nada questionar, empurrou as informações goela abaixo da sua audiência, induzindo a opinião pública a acreditar que na ânsia de formar a nova agremiação, os aliados do prefeito de São Paulo entraram numa espécie de vale tudo, como se estivesse absolutamente à vontade, sem imprensa, Ministério Público, justiça ou adversários a espionar-lhe os passos.

Não viu que tais episódios eram a face visível de uma guerra. Kassab querendo fazer um partido para sair da oposição e aproximar-se do governo com movimentos tintados de legitimidade política e a oposição, cada vez mais minguada, definhando a cada dia que a era petista no poder persiste, tentando de tudo para minar as pretensões do prefeito.

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Óbvio que faltou jornalismo, o bom jornalismo. O partido de Kassab aniquilou o DEM em estados como Santa Catarina, conquistou 42 deputados federais, estaduais e senadores do PSDB, PMDB, tornou-se o quarto maior partido na Câmara. É óbvio ululante que incomodou. Como não dá para engolir a história dos mortos e outros fantasmas sem mastigar, ficaram três hipóteses possíveis para o caso.

1 – Os aliados de Kassab estavam realmente tão aloprados que nem ligaram para saber quem era morto ou vivo.

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2 – Na ânsia de acelerar o processo alguns aliados de Kassab contrataram gente para coletar assinaturas e o contratado fingiu que trabalhava fabricando listas com mortos e assinaturas falsas.

3 – Alguém do time dos incomodados armou para Kassab, pagando a alguém para forjar assinaturas e alistar mortos a fim de criar problemas futuros.

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Qualquer que fosse o resultado, daria uma boa história.

DEBANDADA PRAGMÁTICA

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A ideia do partido de Kassab era fundir-se com o PSB adiante, projeto de pronto descartado. Ganhou, em poucos dias, uma musculatura que não imaginava. A criatura ficou maior do que o criador (o PSB tem 35 deputados federais, o PSD já nasce com 42, mas cogitou ter até 57), embalada por uma sedutora linha pragmática (em vez de programática), a mesma que todos os demais adotam: o aconchego do poder, legítimo quando conquistado nas urnas, eticamente discutível quando a entrada é a porta do lado.

Na Bahia, o PSD tornou-se, repentinamente, o segundo maior partido na Assembleia, com 11 deputados estaduais. Três saíram do PMDB, dois do DEM, dois do PSC, dois do PTdoB, um do PRP e um do PP, além de três deputados federais, dois do DEM e um do PDT. Não à toa, ACM Neto, no DEM, e Geddel, no PMDB, dispararam suas baterias contra o PSD.

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Abatendo-se alguns casos, como os estaduais Gildásio Penedo, do DEM, que é sobrinho do vice-governador Otto Alencar, e Angelo Coronel, do PP, aliado incondicional, mais o federal José Carlos Araújo, do PDT, os outros foram pela conveniência de estarem mais próximos de Wagner. E o próprio Wagner admitiu que gostou do movimento: 'É natural que eles queiram apoiar o governo'.

Aliás, no mundo político corre solta uma frase lapidar. Na política, para quem está no poder, quatro anos é um relâmpago. Para quem está na oposição, uma eternidade. A derrota de Serra em 2010 queimou as últimas expectativas dos oposicionistas, ainda saudosos dos tempos de Fernando Henrique Cardoso, retomarem o poder depois de oito longos anos longe dele.

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Havia uma demanda reprimida, especialmente de tucanos e democratas inquietos. Mudar para os partidos já existentes sem motivos plausíveis seria perder o mandato por infidelidade. Como a lei permite mudança para fundar um novo partido, a correria foi geral, bem maior do que o imaginado por Kassab (daí o desprezo pela ideia da fusão).

ESTRATÉGIA BAIANA

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O PSD caiu como manjar no ninho petista, tanto para Dilma, que ampliou sua base de apoio no Congresso, como para Wagner. O governador não tinha tanto a necessidade de novos aliados, mas precisava muito podar as garras de alguns dos seus. Coroou uma estratégia.

Em 2009, quando Geddel rompeu com o governo, Wagner soltou as rédeas para o PP de Mário Negromonte e João Leão, dupla que, em 2006, havia apoiado Paulo Souto. Era a compensação. O novo partido criou ciúmes e desconfianças. Segmentos petistas acenderam a luz amarela. 'É preciso aparar as garras do Leão', dizia o deputado petista Marcelino Galo, referindo-se a João Leão, então secretário da Infraestrutura (hoje, na Casa Civil da Prefeitura).

Ora, em 2006, após a vitória de Wagner, houve intensa debandada de ex-carlistas rumo ao PMDB. Não buscavam Geddel e sim a porta possível para encostar em Wagner dos que se sentiam órfãos de poder após a inesperada derrota de Paulo Souto. O PMDB inchou, em 2008 logrou fazer 114 prefeitos, e inflou o ânimo de Geddel, que se sentiu animado para romper e peitar Wagner em 2010.

Otto Alencar entrou em cena para fazer um novo contraponto a Negromonte e Leão. Assim que assumiu a Secretaria da Infraestrutura, em janeiro, 'faxinou' o ambiente, antes ocupado pelo PP. Demitiu todo mundo. Politicamente, fez o PSD.

O mix de apoio ao governo baiano agregou o novo partido e ficou mais pulverizado. O PT com 14 deputados, o PSD com 11 e daí um punhado de grupos que tem o PP como terceiro maior, com cinco, além de outros não oficialmente alinhados, mas de fato, sim, que totalizam 44, um poder nunca antes acumulado pelo governo.

Note que Wagner já admitiu: em 2014, pretende se candidatar a deputado federal. Traduzindo: ele abre a vaga do Senado para composições futuras, mais o vice. Mas a cabeça da chapa será do PT.

Voltando ao começo, e os mortos do PSD? Ainda dão sinais de que estão insepultos na justiça, que decidiu olhar a situação caso a caso. Mas a esta altura, são apenas fantasmas.

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