Não vai parar por aqui
A presidente Dilma está num dilema: combater a corrupção ou brigar com sua base de apoio, que é majoritariamente corrupta
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A presidente Dilma Rousseff pode estar preocupada com as reações de seus aliados, mas pode também ter certeza: muitas outras denúncias de corrupção em seu governo virão. Virão da Polícia Federal, do Ministério Público, do Tribunal de Contas da União, ou da imprensa. A presidente está certa ao dizer que não agirá de acordo com a pauta da mídia, mas não tem como desconhecê-la. E a imprensa, alimentada mais por denúncias que chegam aos jornalistas do que por investigações próprias, vem tendo um bom assunto por dia.
A corrupção generalizada não nasceu no governo de Dilma, nem no de Lula. Mas Dilma tem a obrigação de combatê-la, não porque tenha aumentado, mas porque está aparecendo mais. E virão mais denúncias por um motivo óbvio: a corrupção é enorme e está espalhada por todo o governo. Alguém acha que os fatos que desencadearam a Operação Voucher são isolados? Claro que não são. O caso do Amapá é apenas um entre centenas no Ministério do Turismo. Não era segredo para ninguém, até porque já se falou disso na imprensa, que as emendas parlamentares para o ministério (e não apenas para esse ministério) são focos de corrupção. Os parlamentares batalham por emendas para organizações e empresas que não executam o contratado e ainda dão dinheiro (o “retorno”) para deputados e senadores. É assim que acontece e todos sabem disso.
E não se tem falado da corrupção que existe nos poderes Legislativo e Judiciário, que é grande também. Não se pense que o Senado virou casa de santos depois do afastamento do ex-diretor-geral Agaciel Maia e sua turma, até porque parte da turma ainda está lá, protegida pelo presidente José Sarney. E Agaciel levou seu know how para a Câmara Legislativa do Distrito Federal, onde é deputado.
Por isso, não adianta a presidente ou quem quer que seja achar que conseguirá restringir as denúncias à área de transportes, fazendo do PR o único vilão da história. A ofensiva contra a Polícia Federal, por fazer o seu trabalho, só vai aumentar as desconfianças, na opinião pública, de que há uma tentativa de esconder tudo sob o tapete.
Já apareceram denúncias contra o próprio comandante do Exército. Todas têm de ser investigadas, alguns acusados podem até ser inocentes. O ridículo é ver personagens como Renan Calheiros e Henrique Eduardo Alves criticando “excessos” da Polícia Federal. Ou ver os dois citados e mais a senadora Marta Suplicy, a ministra Ideli Salvatti, o senador José Sarney e outros colocando a mão no fogo por personagens notoriamente vinculados à corrupção. Eles sabem que podem acabar queimando muito as mãos, mas têm de proteger seus protegidos.
O ex-presidente Lula também está errado ao dizer que a “devassa” só deve vir depois das provas. É justamente o contrário: a devassa é que permite a coleta de provas. Quem circula pelo poder em Brasília já conhecia, há muito tempo, as histórias do “Fred da Pousada do Rio Quente”, que vem a ser o ex-secretário executivo Frederico Costa. Faltavam as provas, que agora talvez a Polícia Federal tenha.
Se procurar roubalheira em Brasília, acha. Em praticamente todos os órgãos públicos, em todos os poderes. Em alguns os responsáveis maiores podem até não estar envolvidos, ficando a roubalheira restrita aos escalões mais baixos, mas ninguém lúcido acha que os ministros Wagner Rossi e Pedro Novais de nada sabiam. Só porque são do PMDB e não do PR?
Uma solução para o problema pode ser não procurar para não achar. Daí, talvez, as tentativas de inibir o trabalho da Polícia Federal e criticar os “excessos”. Mas alguém vai achar, e se não atuar com decisão, preocupada com sua base de apoio, majoritariamente corrupta, quem vai ficar mal é a presidente Dilma. É um dilema, mas que só tem uma saída.
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