Não foi uma farsa, Lula

OMensalo, denunciado por Roberto Jefferson,aconteceu por acidente. Foi fruto da gula do PT por espaos na administrao federal. Exatamente comoocorre agora. Em 2005, foram os Correios; hoje, os Transportes



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Leonardo Attuch_247 – Nesta semana, depois de seis anos, o Brasil voltou a falar em Mensalão. Tudo porque o procurador-geral da República, Roberto Gurgel, finalizou seu relatório sobre o caso, confirmando aquilo que a CPI dos Correios já havia comprovado: o Mensalão, maior escândalo político da história do País, existiu e consistiu na compra explícita de apoio parlamentar através de uma agência de publicidade, a DNA, de Marcos Valério, que intermediava lobbies poderosos no governo federal. No seu momento mais alto, quando o publicitário Duda Mendonça confessou ter recebido pagamentos fora do País pela campanha de presidencial do PT, em 2002, a oposição perdeu a chance de propor o impeachment de Lula. E Luiz Inácio, como todos sabem, terminou seu segundo mandato como o presidente mais forte e mais admirado da história do País. A ponto de dizer que, fora do governo, se dedicaria a provar que o Mensalão foi uma farsa montada pela oposição.

Impossível, Lula. O Mensalão existiu. Está provado, documentado e relatado, nos mínimos detalhes, pela Procuradoria-Geral da República. Só que o ponto mais curioso da história é que ele não foi fruto de nenhuma conspiração da oposição. Nasceu do próprio desejo hegemônico do PT por ocupar espaços na administração pública.

Na prática, o Mensalão foi fruto de três reportagens, com três protagonistas: Maurício Marinho, Roberto Jefferson e Fernanda Karina Sommaggio. A primeira, publicada na revista Veja, por Policarpo Júnior, mostrava um funcionário dos Correios, Maurício Marinho, indicado pelo PTB, de Roberto Jefferson, recebendo uma propina dentro da própria estatal. Na sequência, numa ação coordenada e ungida dentro do próprio Palácio do Planalto, dezenas de reportagens sobre o enriquecimento do presidente do PTB foram espalhadas pela imprensa.

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Roberto Jefferson representava, em 2005, o que Valdemar Costa Neto, do PR, representa hoje. Era o aliado inconveniente, a ser implodido pelo próprio PT. Portanto, na gênese, o Mensalão nasceu da máquina petista de destruir reputações – com a ajuda dos donos das reputações, evidentemente – para que o partido se tornasse mais e mais hegemônico.

Onde deu errado? Ninguém contava com o estilo kamikaze de Roberto Jefferson, que não estava disposto a morrer sozinho. Da varanda da sua casa, em Brasília, ele soltava a voz para cantar, na janela, a canção “Caçador de Mim”, imortalizada na voz de Milton Nascimento: “Nada a temer, senão o correr da luta”. E líderes do governo faziam romaria à sua casa para pedir que ele não abrisse o bico.

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De nada adiantou e veio, então, a segunda grande reportagem. Jefferson deu uma primeira entrevista à jornalista Renata Lo Prete, da Folha de S. Paulo, revelando ao mundo a existência do Mensalão. Uma semana depois, ele deu uma nova entrevista, à mesma jornalista, para dizer que o esquema era operado por Marcos Valério de Souza – o “carequinha de Minas Gerais”.

Naquele momento, Jefferson poderia ter sido esmagado. Era um réu, diziam líderes do PT, que tentava atacar homens de bem. Um indivíduo sem crédito e sem credibilidade.

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Mas ninguém esperava a publicação da terceira reportagem – esta por mim, na revista Istoé Dinheiro. Uma entrevista com Fernanda Karina Sommaggio, ex-secretária de Marcos Valério de Souza. Nela, a secretária, testemunha central do esquema, entregou todo o roteiro das pedras, inclusive dando nome aos bois. Citou os bancos Rural e BMG, assim como os parlamentares que operavam o esquema nos diversos partidos, como era o caso de José Borba, do PMDB.

Aquela entrevista aconteceu no dia em que Roberto Jefferson prestava depoimento no Congresso. A revista foi antecipada e circulou numa quarta-feira: 15 de junho de 2005. Ao saber da entrevista, Jefferson recebeu um bilhete e interrompeu seu depoimento para dizer que já havia aparecido a primeira secretária – lembrando que escândalos desse tipo ganham impulso de onde menos se espera, como no caso do motorista de Collor. Em seguida, ele emendou: “Sai rápido daí, Zé, para não tornar réu uma pessoa inocente”.

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José Dirceu, o “Zé” da frase de Jefferson saiu dois dias depois, em 17 de junho de 2005, e o “homem inocente”, Luiz Inácio Lula da Silva, o substituiu por Dilma Rousseff, a “companheira de armas” do ex-ministro. E ela é hoje presidente da República. Eis aí o grande efeito borboleta da história política brasileira: o PT, de Dirceu, tenta implodir Roberto Jefferson, este reage, abre a Caixa de Pandora, e o bumerangue atinge em cheio a própria Casa Civil, permitindo que Dilma Rousseff chegasse ao posto que a catapultou à presidência da República.

Depois de tudo isso, o PT poderia ter aprendido uma lição. Mas será que aprendeu? Passemos então do caso do Mensalão, que teve início nos Correios, para a crise política atual, que tem como epicentro o Ministério dos Transportes.

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Não há deputado ou senador em Brasília – alguns com quem falei nesta sexta-feira, quando estive na Capital Federal – que hoje não tenha certeza de que o escândalo Alfredo Nascimento foi urdido no próprio Palácio do Planalto. O motivo? Novamente, o desejo hegemônico do PT e a gula por espaços na administração federal. Tal qual ocorreu na crise do Mensalão.

Só que Valdemar Costa Neto não é Roberto Jefferson. Dificilmente teria a coragem e o talento para revelar detalhes da endêmica corrupção no Ministério dos Transportes, que atinge todos os partidos. O grande receio, em Brasília, hoje diz respeito a Luiz Antônio Pagot, ex-diretor-geral do Departamento Nacional de Infraestrutura de Transportes, o Dnit. Ele vai falar? Vai abrir o bico? Vai dizer quem fiscalizava as obras nos Estados? Se o fizer, sobra para muita gente – inclusive para ministros graduados do próprio PT, no governo Dilma.

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Em 2005, José Dirceu era o dono da bola. O PT brincou com fogo e se queimou, abrindo espaço para que Dilma Rousseff, uma estranha no ninho, se tornasse presidente da República. Em 2011, Dilma é a dona da bola. Quais serão os próximos acontecimentos do efeito borboleta que rege a política brasileira?

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