Lula sonha com Haddad, mas desperta com Marta

Dois alarmes interromperam o devaneio de uma noite de inverno do ex-presidente; ele quer impor Haddad, mas o PT aprovou ontem a realizao de prvias; e hoje o Datafolha deu Marta com 30% contra 1% para o ministro; acorda, Lula!



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Marco Damiani_247 – O sonho de uma noite de inverno do ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva – o de fazer o PT paulistano engolir a candidatura do ministro da Educação, Fernando Haddad, a prefeito de São Paulo – foi interrompido por dois alarmes estridentes que soaram, respectivamente, no domingo 4 e na segunda-feira 5. Primeiro, na contra-mão do desejo de Lula, o PT aprovou em seu IV Congresso a inclusão do mecanismo de prévias eleitorais para definir candidatos a cargos majoritários onde houver mais de um postulante. O ex-presidente preferia pular essa parte e levar o partido, pela cúpula, a aceitar suas indicações. Menos de 24 horas depois da votação entre os petistas, a primeira pesquisa Datafolha sobre a sucessão municipal paulistana tirou definitivamente a cabeça de Lula do travesseiro. Contra 1% e 2% de intenções de voto para o seu pupilo Haddad, dependendo do cenário traçado, a senadora Marta Suplicy surgiu com entre 29% e 31% das preferências.

Depois de se declarar “sensibilizada” pelo resultado – Marta apareceu na frente dos adversários em todas as simulações realizadas, tanto espotâneas quanto estimuladas –, ela alfinetou sem muita dó: “Eu sempre tive 30 por cento, ele (Haddad) sempre teve 2 por cento”, cravou.

Os aliados da senadora, como o líder do governo na Câmara, Cândido Vacarezza, esfregaram as mãos com a notícia. “A pesquisa foi boa para desmistificar a impressão de que Marta tem rejeição alta”, destacou ele. De fato, a senadora, nesse quesito, obteve um desempenho melhor do que o ex-governador José Serra, a quem bateu por 14 pontos porcentuais na pesquisa.

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Marta, que usa a estratégia de se colocar como candidata natural do partido e disse ao 247 que irá “até o fim” com sua intenção de concorrer, inicialmente não queria as prévias. Porém, se não ocorrerem as desistências dos pré-candidatos Jilmar Tatto e Carlos Zaratini em seu benefício – o que não está no horizonte agora –, ela aceita enfrentar esse julgamento partidário. E também desta vez como favorita. “Não acho que o resultado tenha se dado por recall, mas sim porque eu deixei uma obra nessa cidade, que muitas pessoas percebem em seu dia-a-dia”, afirmou ela.

Adversário da senadora dentro do PT, o ministro da Ciência e Tecnologia, Aluizio Mercadante, ainda tentou, logo após a divulgação do Datafolha, suavizar os efeitos do levantamento dentro do partido em São Paulo, mas não pareceu ter sido muito convincente. “A pesquisa é um ponto importante, mas a sensibilidade do presidente Lula, a visão dele, a longa experiência de disputa de eleição, isso é uma coisa que a nossa militância respeita muito", disse Mercadante. Mas as alterações no estatuto do partido, aprovadas no último fim de semana em Brasília, mostram o contrário. Embora Lula tenha articulado para que o novo texto determinasse o fim das prévias, o partido decidiu manter as consultas internas em caso de mais de um candidato a cargo majoritário e só abriu a possibilidade para que 2/3 do diretório decida se haverá prévias. Ainda assim, nesse caso, quem decide são os delegados do partido, e não os dirigentes.

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O próprio presidente do diretório paulistano do PT, vereador Antonio Donato, acredita que o candidato será definido por prévias. A primeira disputa interna está agendada para 27 de novembro. “Tem muita conversa e muita possibilidade de evoluir (para uma indicação única), mas o cenário hoje é de prévia", avaliou. Embora afirme que a pesquisa Datafolha não tira nenhum pré-candidato da disputa, Donato comemorou o resultado como “uma situação muito boa” para o PT.

Não se conhecia, até o final do dia, nenhuma declaração do ministro Haddad sobre o resultado da pesquisa. De Lula, igualmente não se ouviu frase, ficando no ar sua iniciativa de, a exemplo do que pretende fazer em São Paulo, tirar do bolso do colete o nome do economista Marcio Pochman como candidato do PT em Campinas. Logo em Campinas, onde o partido tem o atual prefeito em exercício, Demétrio Vilarga, entre seus quadros. Pelo jeito, a continuar com esses sonhos, Lula corre o risco de passar a ter pesadelos em torno das eleições municipais do próximo ano.

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Abaixo, notícia produzida pela Agência Estado com a repercussão do Datafolha com a senadora Marta Suplicy:

247 - A senadora Marta Suplicy (PT) afirmou hoje não ter nenhuma dúvida de que seu nome é o mais forte de seu partido na disputa pela Prefeitura de São Paulo. “Fui para o segundo turno em todas (as eleições municipais) que disputei. Perdi as duas últimas, mas são situações de conjuntura”, avaliou. ”Eu não vejo a minha pré-candidatura esmorecer, eu vejo minha candidatura forte”, disse ainda.

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Marta comentou novamente a situação envolvendo o ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva, que defende que o ministro da Educação, Fernando Haddad, seja o candidato do PT em São Paulo. Voltou a negar que exista conflito entre eles. ”O Lula é muito cordial. O Lula deixa sempre uma porta aberta nas conversas. Ele está se empenhando por um nome novo”, disse.

Segundo ela, “é uma característica do Lula pensar e propor ações às vezes dão certo, às vezes não dão. E é bom ter um líder que consegue propor ações que o partido pode aceitar ou não aceitar, mas é alguém que está sempre pensando. E que sempre está inovando, está tentando buscar soluções e isso um partido que não tem lideranças desse porte não caminha”.

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Marta admitiu que o apoio de Lula influencia na decisão do partido. “A posição do Lula sempre influi, porque o Lula é o grande líder do partido. Claro que influi. Mas a gente tem que deixar o processo acontecer, o processo é soberano, e a conjuntura determina. Tem que esperar, tem que ter paciência”. A senadora lembrou ainda a amizade que mantém com o ex-presidente. “Na vida real, o conflito não existe, existe uma amizade muito sólida, de antes da fundação do PT”, declarou.

Liderança

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Sobre pesquisa Datafolha divulgada hoje, em que ela aparece em todos os cenários com cerca de 30% das intenções de voto na disputa pela Prefeitura, contra 2% de Haddad, a senadora avaliou que não se trata de recall por ter participado de outras eleições. “Acho que a nossa aprovação não é advinda de um recall de ter participado de eleição. É advinda de obra feita na cidade e isso é muito forte. Você tem marca e tem gente que tem coisas no seu cotidiano que são da nossa gestão”, disse. Marta comemorou ter um “índice consolidado” e avaliou que tanto ela como Haddad podem crescer com uma boa campanha.

Marta, que participa em São Paulo do seminário Brasil Metropolitano, parceria entre ela e a Universidade Mackenzie, negou qualquer interesse eleitoral no evento. “Tudo que eu fizer pode ser interpretado do mesmo jeito”, afirmou. Segundo ela, trata-se de um trabalho como senadora, que surgiu da experiência como prefeita. “É muito difícil você administrar uma capital como São Paulo, que é uma metrópole gigantesca”, acrescentou.

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De acordo com ela, há dificuldades de saber o que é responsabilidade de cada um dentro de uma metrópole, o que dificulta resolver questões como transporte, lixo e segurança. “Então como senadora eu estava acalentando há muito essa ideia de propor algo nessa direção. Seja projeto de lei, seja uma PEC, mas tem muitas dúvidas sobre o que fazer, qual é a melhor proposta. Então, quando você tem dúvidas, o melhor é ouvir as pessoas que mais entendem, que mais estudam, e nós temos muita gente que estuda isso no Brasil”, explicou.

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