Lula: Lava Jato é uma operação de destruição do Brasil, da democracia e do povo
“Eu vou dedicar o resto da minha vida para provar minha inocência e para mostrar que a força-tarefa da Lava Jato está atolada em compromissos com o departamento de Segurança dos Estados Unidos. Estou convencido de que a questão da Petrobras é um dos pilares e que estão tentando transformar o Brasil em colônia”, disse ainda o ex-presidente, em reunião nacional da Campanha Lula Livre
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Por Sheila de Oliveira, no Brasil de Fato – “Passarei o resto da minha vida tentando justificar o carinho e a solidariedade que recebi de vocês durante todo esse período.” Foi dessa forma que o ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva iniciou a reunião nacional da Campanha Lula Livre, que aconteceu no sábado (18), na sede da Central Única dos Trabalhadores (CUT), em São Paulo. “As minhas primeiras palavras são de agradecimento. Não sei se tudo que fizer daqui para frente paga o que vocês fizeram pela democracia e pela minha liberdade”, reconheceu.
Na abertura da reunião, o ex-presidente destacou que é fundamental mostrar para a sociedade brasileira que a Lava Jato não causa prejuízo apenas a Lula, mas é uma operação de destruição do país, da democracia e do povo que está de volta ao desemprego e à miséria.
O presidente do Instituto Lula, Paulo Okamoto, ao lado do dirigente nacional do Movimento dos Trabalhadores e das Trabalhadoras Rurais Sem Terra (MST), João Pedro Stedile, faz balanço da campanha Lula Livre | Foto: Paulo Pinto
O encontro reuniu representantes de mais de 25 organizações e movimentos que fazem parte do Comitê Nacional Lula Livre, entre eles integrantes do Partido Comunista do Brasil (PCdoB), Partido da Causa Operária (PCO), Partido Socialismo e Liberdade (PSOL) e Partido dos Trabalhadores (PT). “Me surpreendeu muito, logo no início de 2020, depois de um ano de muita luta e conquistas, a gente ter uma reunião representativa e com o pessoal muito afinado, inclusive na leitura da conjuntura”, avaliou o presidente do Instituto Lula, Paulo Okamoto.
Apoiador da campanha, o governador do Maranhão, Flávio Dino (PCdoB), disse não ter dúvida de que a bandeira melhor compreendida pela população é o Lula Livre, pois traduz um programa nacional e democrático popular. “A bandeira Lula Livre é a mais forte que temos. E para quem acha que isso é personalismo ou messianismo, tem um livro que chama O papel do indivíduo na história, de Gueorgui Plekhanov, que explica porque tem que se valorizar os líderes que o povo produziu. E no Brasil, o maior é Lula”, diz.
Solto, mas não livre
Durante toda a tarde, os participantes se revezaram no microfone, dando informes sobre as inúmeras iniciativas realizadas e apresentando sugestões e propostas para a continuidade da campanha que precisa ser reforçada, avaliando que Lula está solto, mas não está livre.
“É muito importante a gente continuar defendendo a inocência do ex-presidente e a restituição dos direitos políticos, porque ele é uma figura que representa a esperança para o povo”, continuou Okamoto. No entanto, ele ressaltou que a luta pela liberdade de Lula deve estar ligada à luta pela libertação dos brasileiros e brasileiras que estão tendo os direitos destruídos.
Por isso, entre as definições resultantes da reunião, decidiu-se pela elaboração de um calendário de atividades em todos os estados para que o ex-presidente possa participar, dialogando e ouvindo a população. Além disso, as organizações, movimentos, partidos e sindicatos promoverão mobilizações de massas em datas emblemáticas, começando pelo 8 de março, Dia Internacional da Luta das Mulheres.
Fazendo uma comparação com as estratégias dos times de futebol, o dirigente nacional do Movimento dos Trabalhadores Rurais Sem Terra (MST), João Pedro Stedile, afirmou que o time Lula Livre não pode querer ganhar só pensando nos erros dos adversários. “É preciso melhorar o jogo, e a dinâmica da luta de classes exige respostas com agilidade. Tomem a iniciativa e vamos provocar o povo para que se rebele e a gente consiga mudar a correlação de forças”, conclamou, encerrando a reunião.
Alerta sobre o ativismo judicial
A secretária de Combate ao Racismo da CUT, Anatalina Lourenço, o governador do Maranhão, Flávio Dino, o ex-ministro da Comunicação Franklin Martins e o ex-deputado federal José Genoino acompanham a avaliação de Lula sobre a campanha Lula Livre | Foto: Paulo Pinto
“O fato de eu estar livre temporariamente, com muitas espadas na minha cabeça, não me assusta. E vou aproveitar essa oportunidade para provar que as pessoas que estão fazendo isso não são sérias, não estão preocupadas com o Brasil e estão causando prejuízos ao país e ao povo brasileiro”, disse o ex-presidente na abertura da reunião.
Lula afirmou não ter medo dos 11 inquéritos que tramitam contra ele. “Um mais mentiroso que outro”, classificou. O presidente de honra do PT acredita que esta é a chance de enfrentar as adversidades provando que aqueles que querem julgá-lo com mentiras estão mentindo para a sociedade brasileira. “Quem quis montar quadrilha no país foi a força-tarefa da Lava Jato, através dos fundos que o [procurador Deltan] Dallagnol quis criar e que [Sergio] Moro sabia”, lembrou. O fundo de R$ 2,5 bilhões foi criado por um acordo da força-tarefa da Operação Lava Jato com a Petrobras.
“Eu vou dedicar o resto da minha vida para provar minha inocência e para mostrar que a força-tarefa da Lava Jato está atolada em compromissos com o departamento de Segurança dos Estados Unidos. Estou convencido de que a questão da Petrobras é um dos pilares e que estão tentando transformar o Brasil em colônia”, apontou.
Seguindo o raciocínio de Lula, o governador do Maranhão, Flávio Dino (PCdoB), denunciou o ativismo judicial como responsável por esse momento que o Brasil vive. Ex-juiz, Dino salientou que o poder judiciário é um instrumento poderoso de luta política. “Temos que voltar a disputar o sistema jurídico formal por dentro, além da denúncia e da pressão”, defende.
O governador acredita que o governo de Jair Bolsonaro, ao apostar no isolacionismo e no extremismo, abre fissuras no pacto antinacional e antipopular que fez o golpe, prendeu o Lula e derrotou a esquerda nas urnas. Para ele, essas brechas possibilitaram pequenas vitórias táticas recentes, como a instituição do juiz das garantias e a derrubada da prisão após condenação em segunda instância, que permitiu que o ex-presidente fosse solto. “O movimento social tem que voltar a explorar essas fissuras dentro do sistema de justiça para fortalecer a luta por Lula livre e enfraquecer Bolsonaro e Moro”.
Ainda dentro da análise de conjuntura, o ex-ministro da Comunicação Social do governo Lula, Franklin Martins, enfatizou que a mídia age como partido político e que os governos petistas não estavam errados por agirem de forma republicana, onde as leis valem para todos. “Nosso erro foi ter achado que as elites brasileiras são republicanas, mas elas continuam sendo casa-grande e com enorme medo da senzala”, avaliou.
O ex-deputado federal José Genoino ressaltou a força de Lula quando estava preso. “A gente vive o dilema entre ser potência e rato. Lula demonstrou que é uma potência quando disse que não negociava a dignidade pela liberdade”, lembrou.
Preso durante a ditadura militar, Genoino demonstrou preocupação com a tutela exercida sobre o Estado pelas Forças Armadas e com o fato de o "lavajatismo" ter se tornado uma concepção de investigação. “Antes se atingia o corpo de um revolucionário para destruir a sua alma. Hoje a destruição começa pela alma e depois chega ao corpo”, afirmou.
Completando a mesa de análise de conjuntura, Anatalina Lourenço, secretária de Combate ao Racismo da CUT, reforçou o compromisso que a organização sindical tem com a campanha Lula Livre e que passa, também, pela luta contra o encarceramento em massa que atinge majoritariamente pessoas negras e pobres. “A justiça burguesa nunca valeu para a favela”, cravou.
A professora ainda fortaleceu o debate sobre a importância de organizar os trabalhadores, especialmente quando a maioria está na informalidade, em subempregos, mas se considera empreendedor. “Temos que ir aonde essa população está e, junto com eles, discutir uma proposta de organização do trabalho, reorganização dos direitos e manutenção da vida”, frisou.
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