“Lula é voz da resistência e símbolo da luta pela democracia”, diz Dilma Rousseff

Em prefácio da edição francesa do livro "A Verdade Vencerá", ex-presidente Dilma Rousseff, que hoje completa 72 anos, critica perseguição a Lula que resultou na ascensão da extrema-direita e tornou Brasil laboratório de experimentações retrógradas e reacionárias; leia a íntegra

Ex-presidentes Lula e Dilma Rousseff
Ex-presidentes Lula e Dilma Rousseff (Foto: Ricardo Stuckert)


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Por Cláudia Motta, da Rede Brasil Atual – A nova edição do livro entrevista com o ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva, A Verdade Vencerá chega às livrarias da França em 16 de janeiro. E com prefácio da ex-presidenta Dilma Rousseff, que a Rede Brasil Atual divulga com exclusividade (leia abaixo, na íntegra).

Afastada da Presidência da República em 2016, Dilma resume em seu texto para o La Verité Vaincra o golpe que sofreu, o lawfare contra Lula e os horrores do governo atual.

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Lula foi entrevistado, em fevereiro de 2018, pelos jornalistas Juca Kfouri e Maria Inês Nassif, além do professor Gilberto Maringoni e da editora Ivana Jinkings, da Boitempo Editorial. “Lula fala do Partido dos Trabalhadores, do exercício do poder, do Golpe de 2016 e das mudanças ocorridas no Brasil ao longo dos últimos anos, além da perseguição que passou a sofrer pela Operação Lava Jato, quando virou vítima de lawfare”, explica Dilma, lembrando que sua condenação, injusta e sem provas, retirou-o da arena política.

“Graças à atuação do atual ministro da Justiça do governo Bolsonaro, foi perseguido e caçado até se tornar um preso político. Isso ocorreu em abril de 2018”, recorda. “Desde então, o Brasil viveu dias ainda mais sombrios, fruto do processo político devastador iniciado com o golpe que me destituiu da Presidência em 2016. Hoje, o país é governado por um neofascista na política e nos costumes, perversamente neoliberal na economia e no campo social”.

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Dilma destaca os tempos de prosperidade vividos durante os governos petistas, encerrados com a “ascensão dos golpistas e da extrema-direita”. “O Brasil foi enquadrado ao neoliberalismo e tornou-se laboratório de experimentações retrógradas e reacionárias”, critica, ressaltando o papel do Judiciário, que não impôs freios aos abusos da Lava Jato; a complacência ou apoio da imprensa; o interesse oportunista do mercado.

“A prisão ilegal de Lula sequestrou dos brasileiros o líder capaz de promover um reencontro do Brasil com a democracia e consigo mesmo. Lula teria vencido Bolsonaro em 2018 – era o líder das pesquisas até julho – e impedido o Brasil de passar pelo desastre atual. E justamente por isso foi preso”, reforça a ex-presidenta, afirmando que a soltura de Lula acende mais uma vez a esperança de que é possível sonhar com liberdade para o povo brasileiro.

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“Lula é, portanto, a voz da resistência. Mais do que nunca, Lula simboliza a luta do país pela democracia e pelo Estado democrático de direito.”

A edição francesa

La Verité Vaincra, da editora Les Temps des Cerises, é uma iniciativa do Comitê Libérez Lula. O grupo prepara uma grande festa de lançamento para a ocasião, afirma Solange Cidreira, integrante do Comitê.

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Além da obra no original, assim como a nova edição brasileira, a francesa contará com uma cronologia da vida de Lula, organizada pelo jornalista Camilo Vannuchi, texto de capa do historiador Luiz Felipe de Alencastro e dois cadernos com fotos históricas, dos tempos no sindicato à presidência, passando pelas recentes caravanas e manifestações de rua. E traz, ainda, uma introdução sobre a luta do Comitê Libérez Lula e de todos os comitês da resistência na França. “O livro servirá como base para as informações da campanha pela liberdade de Lula na Europa. Vamos fazer uma grande festa de lançamento impulsionada pela base militante da campanha que não para de ganhar novos adeptos. Sejamos a capital da resistência”, festeja Cidreira.

No prefácio da edição francesa Dilma Rousseff afirma que prisão foi um sequestro de Lula e da democracia

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O prefácio de Dilma

Em fevereiro de 2018, o ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva concedeu entrevista aos jornalistas Juca Kfouri e Maria Inês Nassif, além do professor Gilberto Maringoni e da editora Ivana Jinkings. Na entrevista, que se tornou este livro – A verdade vencerá – Lula fala do Partido dos Trabalhadores, do exercício do poder, do Golpe de 2016 e das mudanças ocorridas no Brasil ao longo dos últimos anos, além da perseguição que passou a sofrer pela Operação Lava Jato, quando virou vítima de lawfare.

Condenado e preso, injustamente e sem provas, Lula foi retirado da arena política, colocado numa cela e impedido de disputar a Presidência da República. Graças à atuação do atual ministro da Justiça do governo Bolsonaro, foi perseguido e caçado até se tornar um preso político. Isso ocorreu em abril de 2018.

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Desde então, o Brasil viveu dias ainda mais sombrios, fruto do processo político devastador iniciado com o golpe que me destituiu da Presidência em 2016. Hoje, o país é governado por um neofascista na política e nos costumes, perversamente neoliberal na economia e no campo social.

Uma verdadeira calamidade para um país que passou, a partir de 2003 até o golpe, por um período de progresso, prosperidade e emancipação popular. Graças ao Partido dos Trabalhadores e aos nossos governos, o país traduziu prosperidade em crescimento econômico, distribuição de renda, inclusão social e extinção da fome e redução da miséria a níveis mínimos.

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A perseguição a Lula resultou na ascensão dos golpistas e da extrema-direita. O Brasil foi enquadrado ao neoliberalismo e tornou-se laboratório de experimentações retrógradas e reacionárias.

Nestes tempos duros, como já acontecera no mundo em outros períodos históricos, a serpente pariu o neofascismo no maior país da América do Sul. Bolsonaro é fruto azedo da criminalização da política, do golpe que me derrubou e da perseguição a Lula.

O ovo da serpente foi gestado no discurso de ódio, intolerância e preconceito. E cresceu sob a proteção do silêncio obsequioso do Judiciário, que não impôs freios aos abusos da Lava Jato, da complacência ou apoio da imprensa, e do interesse oportunista do mercado.

A Lava Jato foi um dos principais instrumentos do golpe e da vitória da extrema-direita. Foi a linha de frente do lawfare contra Lula. Para atacar sua reputação, vazou acusações sem provas à mídia, intimidou testemunhas, arrancou delações de corruptos por meio de coação, mentiu aos tribunais superiores de apelação e desrespeitou o direito de defesa e o devido processo legal.

Mas o maior abuso da Lava Jato – chefiada pelo juiz federal que agora é ministro da Justiça – foi condenar e prender um inocente que poderia ter conduzido o Brasil a uma saída digna da crise.

A prisão ilegal de Lula sequestrou dos brasileiros o líder capaz de promover um reencontro do Brasil com a democracia e consigo mesmo. Lula teria vencido Bolsonaro em 2018 – era o líder das pesquisas até julho – e impedido o Brasil de passar pelo desastre atual. E justamente por isso foi preso. 

A detenção do presidente mais popular de nossa história tornou-se uma ameaça a todos: se Lula pôde ser preso ilegalmente, qualquer um pode ser. Também por isso, sua prisão feriu de morte a democracia. Durante 580 dias, enquanto Lula esteve preso, o Brasil viveu sufocado e a democracia, ameaçada.

Agora, a soltura de Lula, ocorrida em novembro de 2019, acende mais uma vez a esperança de que é possível sonharmos com liberdade para o povo brasileiro. 

A luta agora não é apenas pela liberdade de Lula, mas pela nulidade e revogação de todas condenações judiciais – injustas e fraudulentas – impostas a ele.

Isso é fundamental. É que precisamos reunir forças e organizar a resistência para enfrentar o aparato neofascista – militar, judicial e midiático – que ameaça destruir a democracia, trazendo de volta a miséria, entregando riquezas, alugando a soberania brasileira, vendendo empresas estatais e impondo ao povo sacrifício e sofrimento que havíamos superado nos nossos governos.

Lula é, portanto, a voz da resistência. Mais do que nunca, Lula simboliza a luta do país pela democracia e pelo estado democrático de direito.

Dilma Rousseff

Novembro de 2019

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