Luciano Huck presidente: nasce um novo Collor?
Vinte e doisanos depois do "Caador de Marajs", a vez do "Bom Moo" Huck ser lanado ao Planalto pelas mesmas foras polticas
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Marco Damiani_247 – Soou como piada, mas não é. Na edição deste mês, a revista Alfa, da Editora Abril, trouxe um candidato a presidente na sua capa. Um candidato para daqui a dez anos. Ninguém menos que o apresentador Luciano Huck. Ao ser perguntado sobre suas ambições presidenciais, ele mandou uma mensagem cifrada. “Agora, não”, retrucou ao repórter Marcelo Zorzanelli. “Daqui a dez anos, talvez, eu tenha mudado a resposta”. Foi o que bastou para que sua frase se tornasse o assunto mais comentado do twitter na segunda-feira 11. Nesta terça-feira 12, logo às 7h48, Huck disse no twitter que não disse o que disse à Alfa. "Foi o repórter que disse", escreveu, assustado com a repercussão. Não colou. Ao longo do dia, o assunto foi muito comentado. O empresário José Vitor Oliva, que apoiava o então candidato Fernando Collor, em 1989, e um dos melhores amigos de Huck, até criou um slogan para a campanha do apresentador: "Para cima e para o alto, Lu no Planalto". No início deste ano, Huck -- ou Lu, se preferir -- foi capa também da revista Veja, a principal publicação da Editora Abril. A matéria tinha o título “A reinvenção do bom-mocismo”.
Os dois fatos criados - a capa de Veja, a capa de Alfa -- não são isolados. Fazem parte de uma estratégia real, que conta com todos os ingredientes de um projeto político: um homem de grandes ambições, o apoio de parte da mídia, recursos de sobra e articuladores que, por enquanto, agem na sombra. Nesse jogo, Huck é o protagonista, mas também um instrumento de uma direita que definha no Brasil – e que, por isso mesmo, precisa se renovar. Quem melhor do que um apresentador da Globo, casado com outra apresentadora, que faz programas de cunho assistencialista, circula livremente pelo establishment, e tem o DNA da classe dominante, sem falar nos seus 2,6 milhões de seguidores no Twitter?
Huck já tem amigos em São Paulo que trabalham por seu projeto político. Eles se articulam para patrocinar candidatos a prefeito de cidades populosas, em todo Brasil e de quase todos os partidos, nas eleições municipais de 2012, e para formar uma base de sustentação mínima ao futuro candidato. Tudo indo bem, a criação do partido do Huck, na prática uma aliança informal suprapartidária, avançaria para ter peso no Congresso, com deputados e senadores, se espraiando até os governos estaduais.
Esse plano transcorre por meio de ações sobrepostas, e está em pleno curso. Enquanto se juntam as forças paulistanas, particularmente, é claro, nos escritórios dourados do quadrilátero dos Jardins – o que inclui a Fiesp, liderada pelo executivo Paulo Skaf –, o próprio Huck fica solto para fazer política. É amigo pessoal do senador Aécio Neves, joga de mão com o governador Sérgio Cabral, troca idéias com o ex-presidente Fernando Henrique Cardoso. A aposta é a de que, se souber esperar a vez, o marido de Angélica, num horizonte de longo prazo que ele mesmo delimitou, terá um grande quinhão de retribuição, com sustentação nacional para seu sonho de “poder ajudar” o Brasil. Enquanto se faz a forração política, a ideia é aumentar ao máximo a exposição do apresentador. Essa, como já se vê, é a parte mais fácil. Huck tem as tardes inteiras dos sábados em rede nacional, na Globo. Ali, visita casas de gente humilde levando presentes, buscando um discurso social em meio a brincadeirinhas. Nos anúncios da tevê, vende cápsulas para ficar forte e se associou, na internet, a um dos maiores sucessos comerciais dos últimos tempos, o Peixe Urbano – o que também lhe criou problemas. Depois dos deslizamentos na região serrana do Rio, este ano, ele organizou uma campanha de doações através do site do qual é sócio. Moderninho, chamou os críticos de “bunda-mole”.
Nas páginas impressas, ele está classificado para sempre como a perfeição em forma de rapaz pela revista Veja, que o brindou com o dístico “A Reinvenção do Bom-Mocismo”. Neste momento presente, enfeita o frontispício da revista Alfa. Ali, em reportagem de dez páginas, aparece em meio a meninos seus fãs que têm cara, cor e roupas de emergentes classe C, posa em jeans de garotão com um casal na favela do Vigário Geral, aparece de paletó e gravata, que, em seguida, rejeita, e até ao lado de Barack Obama está. Ele diz, ainda, que tem um retrato de Lula e outro de Fidel Castro na parede. Não à toa, ele aproveitou a deixa para, segundo a narração do repórter Zorzanelli, “pegar no meu braço e falar mais uma vez: ‘Eu só quero poder ajudar. Quando era moleque, achava que o Brasil não tinha jeito. Hoje, eu sei que tem’“. E ponto final.
Aos 39 anos, Huck também tem a idade certa para ser o que quiser na política. Ele fala em dez anos para tornar-se presidente (todo candidato quer ganhar), mas pode ser em vinte – lá, ainda terá apenas 59 anos, o que é menos que a idade com que Fernando Henrique (64) e Dilma Rousseff (63) subiram a rampa do Planalto pela primeira vez e bem regulado com Lula (58). Em seu caldeirão ideológico, o discurso engrossa no mesmo caldo os conceitos de direita, centro e esquerda. O que há é “ajudar o Brasil”, “fazer bem às pessoas”, essas coisas genéricas. Na vida real, com sua fortuna crescendo à razão de salários mensais estimados em R$ 1 milhão, fora seus contratos de publicidade, ele tem helicóptero, constrói uma casa de 16 dormitórios, enfim, não tem problemas financeiros. Na verdade, tem problemas com o meio ambiente – sua mansão em Angra dos Reis, construída numa região protegida, a mesma dos deslizamentos de dois anos atrás, lhe custou um processo.
Se quiser ser candidato, Huck não terá problemas financeiros. Nascido entre ricos, seus melhores amigos são endinheirados. Sua futura plataforma, para além da imagem, já se rascunhou com esboços de um programa de campanha – “acho que a taxa sobre heranças poderia ser de 5%”, disse ele à Alfa, referindo-se a um imposto sobre heranças para financiar projetos sociais. Por outro lado, ele está se livrando de eventuais problemas, como a pousada em Fernando de Noronha e outros negócios: “Vendi tudo”, afirmou. Não se perguntou a Huck porque, a partir do roubo de um de seus relógios Rolex, ele ocupou a página 3 do jornal Folha de S. Paulo, tempos atrás, para defender a pena de morte. Um artigo que foi classificado como “fascistóide” e que lhe rendeu uma briga pública com o compositor Zeca Baleiro e com outros artistas.
A partir da repercussão negativa de seu posicionamento, ele acelerou no conteúdo social do seu Caldeirão e, com a famosa capa de Veja, foi carimbado como a marca do bom-mocismo, assim como Fernando Collor de Melo, duas décadas antes, ganhara da mesma publicação a marca que garantiu-lhe a eleição, a de Caçador de Marajás. Coincidência? Não, apenas um projeto político requentado com outro ator. Menos mal que o não assumido político de direita Luciano Huck queira ser candidato apenas, “talvez”, dentro de dez anos.
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