Jacques Wagner, o cabeça branca da Bahia

Sempre que comparam o governador baiano a ACM, ele diz que a única semelhança é a cor dos cabelos. Será?



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Toda vez que comparam Jaques Wagner com ACM, diplomaticamente, ele corta a conversa:

- Só há uma semelhança, a cor dos cabelos.

Traduzindo, ACM tinha o apelido de Cabeça Branca e Wagner não tem, mas tem a cabeça branca também.

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O comparativo entre os dois emerge pelo tamanho dos espectros políticos que gravitava no entorno de ACM e gravita no de Wagner. Num e noutro, o que se quer dizer é o controle quase absoluto sobre as três esferas de poder, o Executivo, o Legislativo e o Judiciário, e a oposição minguada, só com o direito ao jus sperniandi, antes como agora.

A diferença, ressaltam os que apregoam as semelhanças a partir dos resultados visíveis ou presumíveis, é que um agia com a chibata e o outro vai na sedução, estilos opostos que produziriam resultados semelhantes.

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E será que é isso mesmo?

Não é bem assim. Temos de convir que alguns aspectos conjunturais que produziram as duas situações não mudaram de ACM para Wagner. E talvez aí esteja o elo dos comparativos. O modelo político é o mesmo, antes como agora, rogando por uma reforma política que nunca acontece. Em circunstâncias tais, mudam-se os personagens top, mas não a essência estrutural da configuração do poder. Suscintamente, veja duas vertentes da questão para sua melhor compreensão.

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1 – A FORÇA DA GRANA

Historicamente, o poderes central e estaduais concentram a massa da riqueza nacional. O resto (legislativo, judiciário, prefeituras e afins) fica na dependência deles. Há os repasses institucionais, e só. Deputado, por exemplo, é pedinte. Prefeito, quando muito, se for bem organizado, bom gestor, consegue manter serviços básicos em dia, mas no atacado, tem capacidade de investimento baixíssima. Isso cria a interdependência institucional, seja lá quem for o poderoso do dia nas esferas de cima, seja quem lá quem estiver nas de baixo.

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2 – AS COALIZÕES FISIOLÓGICAS

Disso resulta que o grosso das forças políticas querem sempre estar do lado do poder. E aí ACM e Wagner são parecidos. O Cabeça Branca original botava do seu lado aliados de todos os rincões, sem olhar ideologia ou padrões éticos. Num mesmo barco, esquerdistas arrependidos (não tinha a esquerda carlista?), direitistas, honestos, picaretas e oportunistas em geral. Wagner faz o mesmo, com um detalhe: alguns dos tais não só se aconchegaram ao governo via partidos auxiliares como entraram no próprio PT. Na construção de um e outro momento é que há distinções claras, de estilos, motivações e objetivos.

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NA ERA ACM

No tempo da ditadura, ACM reinava absoluto fazendo questão de sustentar bases em cada recanto, influindo e dando pitaco em tudo. Formava fortes bancadas federais e dava as cartas na província sob as bênçãos do poder central. Também elegia ampla maioria na Assembleia e ditava as regras. No Judiciário, influenciava até sentenças ao sabor das suas conveniências. Daí, mandava em todo o resto, incursionando decisivamente também no mundo empresarial, de bancos a empreiteiras, enquanto tratava a oposição institucional a pão e água e a sindical no chicote ou no cassetete.

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Mas os opositores tinham o que dizer. Evocavam o discurso da resistência em favor de um Brasil democrático (alguns prefeitos inclusos, e a dupla Colbert Martins-Chico Pinto, em Feira, é o melhor exemplo) e assim se nutriam politicamente. O nicho esquerdista, quase sempre no embalo da possibilidade de fazer uma revolução socialista (até a queda do muro de Berlim, nos anos 80, era assim), ancorava-se em sindicatos e movimentos sociais.

Fim da ditadura no Brasil, na Bahia houve prorrogação. ACM, após uma breve derrota com Waldir Pires em 2006, deu a volta por cima e manteve sua influência sempre aliado ao poder central, com Sarney, Collor, Fernando Henrique. Começou a desmoronar com a vitória de Lula. É quando Wagner entra em campo.

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NA ERA WAGNER

Em 2006 ninguém acreditava na vitória de Wagner. E nada indicava. Até a véspera das eleições, as pesquisas ditavam que Paulo Souto, o governador, reinava absoluto. Lula no governo, supostamente desgastado pelo escândalo do mensalão, tinha invadido os grotões com o Bolsa Família e ninguém viu, nem 'cientificamente' (com pesquisas). Os governos até então disparavam aquele clássico discurso de o importante não é dar o peixe, é ensinar a pescar e nunca deram nada ao sem-nada, nem vara e nem peixe. Lula deu o peixe.

Os sinais de que o carlismo perdia poder já foram dados em 2004, na Bahia, quando as Prefeituras de Camaçari e Salvador passaram para as mãos da oposição, mas o governo era outra coisa. De quebra, durante a campanha, ACM ainda pisou na bola. Ao invés de chamar a disputa para o terreiro estadual, federalizou a peleja, batendo em Lula no embalo do mensalão. Ora, a esfera federal era a o campo de Wagner. E quando as urnas se abriram, a surpresa geral: na cabeça, o Cabeça Branca petista. Junte-se a tudo isso, outro fato inusitado: ACM morreu seis meses depois da posse do novo governador. O carlismo acabou de vez.

Wagner, que tinha feito um mix de alianças em 2006 na base da 'grande coalizão', acabou rompendo com Geddel e ampliou mais ainda o leque botando no mesmo pacote direitistas, esquerdistas, oportunistas e picaretas, do jeito que ACM fazia. Aniquilou a oposição, deixou sem nada. Sem sindicato, sem movimento social, sem bandeira (como a oposição tinha no tempo da ditadura), sem discurso. O Cabeça Branca petista se instalou.

Aí estão as razões do comparativo. Wagner acumula poder como só se viu com ACM. E a oposição só tem um caminho: esperar a 'onda Lula fazer água'. Até, só esperneio.

Mas com tudo isso, é a mesma coisa?

Não. Wagner não dita sentenças, não manda bater em ninguém e nem persegue deliberadamente. E ainda há uma diferença capital. ACM metia o bedelho também no mundo empresarial. Wagner também não entra nisso, não com poder de mando e veto. E daí emerge uma nova face na Bahia do pós-ACM. Lideranças empresariais que antes viviam encolhidas, agora aparecem na cena, mostrando a cara, para o bem ou para o mal.

Muitas das intrigas e futricas desse novo tempo na banda empresarial sai disso.

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